'Aécio, pede desculpas e devolve a grana'
Alex Solnik
A revelação de que o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves fez 124 viagens em avião oficial ao Rio de Janeiro em fins-de-semana, sem agenda de trabalho e o seu comentário de que não fez nada de errado não chega a ser um escândalo bombástico, mas dá motivo para ninguém se arrepender por não ter votado nele nas últimas eleições.
Eleito fosse, seria um forte candidato a tirar de outro mineiro, Juscelino Kubitchek o título de “presidente voador”, com a diferença de que seu conterrâneo, ao que consta, não viajava para surfar no Leblon ou visitar a namorada e sim para construir Brasília, que mandou fazer ou foi feita para homenageá-lo em forma de avião.
A revelação das viagens que fez gastando dinheiro dos mineiros, e não o seu, apesar de pertencer a uma família de vastos recursos financeiros mostra que, na prática, comete os mesmos pecados que atribui aos que critica, e que o país agiu bem ao derrotá-lo e assim contribuir para confirmar o karma da família Neves: o de “quase” chegar à presidência da República.
Quando seu avô Tancredo Neves, eleito no Colégio Eleitoral para ser o primeiro presidente civil depois de 20 anos de ditadura militar foi hospitalizado na véspera da posse e morreu no mês seguinte sem conseguir assumir, Aécio era o seu secretário particular.
Desde então – lá se vão 30 anos – ele tenta chegar aonde o avô não conseguiu. Elegeu-se governador de Minas, tal como Tancredo; no entanto, tal como Tancredo, perdeu a presidência por pouco. “Quase” chegou lá.
Desde então repete – e lá se vão nove meses – a mesma ladainha: a presidente Dilma deve desculpas à nação. Apesar dos altos cargos que detém – senador da República e presidente do PSDB – não conseguiu produzir até agora nenhuma alternativa para ajudar o país a sair da crise, tem atuado apenas como um comentarista político de luxo, que analisa, de camarote, a caminhada da vaca rumo ao brejo, sem se preocupar em desviá-la, em secar o brejo, fazer alguma coisa, enfim, que evite o pior.
Em 30 anos de vida pública, além de não conseguir se livrar da sina do “quase”, Aécio ganhou outra: a de “trapalhão aéreo”. Depois de jamais conseguir explicar, pois explicação ética não há, porque, quando governador, mandou construir um aeroporto dentro de uma propriedade da família, em Claudio, agora deixou claro o motivo: era para chegar mais rapidamente às ondas do Leblon no avião do governo.
Se Aécio quer se viabilizar, de fato, como opção a 'tudo que está aí' nas próximas eleições presidenciais, se quer, de fato, apresentar-se aos brasileiros como a versão mineira da Madre Teresa de Calcutá ele deveria fazer duas coisas: 1) pedir desculpas aos brasileiros por ter viajado 124 vezes ao Rio de Janeiro gastando dinheiro público e 2) devolver esse dinheiro público aos cofres do governo de Minas Gerais.
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