07/10/2015
Custo competitivo desperta interesses na exploração do pré-sal
Jornal GGN - qua, 07/10/2015 - 15:42
Da Carta Capital
Apesar das mudanças no mercado, a exploração do pré-sal continua competitiva e desperta interesses
por Roberto Rockmann
Descoberto em 2006, em uma área de
pouco mais de 140 mil quilômetros quadrados entre os litorais de
Espírito Santo e Santa Catarina, o pré-sal fornece atualmente um terço
da produção da Petrobras e é um dos mais bem-sucedidos casos de
exploração das últimas décadas em novas fronteiras. Em 8 de julho, a
estatal anunciou um recorde de produção na região: 865 mil barris por
dia, marca atingida em menos de uma década.
O foco da estatal nos próximos anos se
concentrará nessa nova fronteira, considerada a maior descoberta da
indústria no Hemisfério Ocidental em 40 anos. Uma das razões é a alta
produtividade aliada ao baixo custo de extração. A produtividade média
por poço em operação comercial na Bacia de Santos gira entre 25 mil e 30
mil barris de petróleo por dia, maior que a registrada no Golfo do
México e no Mar do Norte, 10 mil e 15 mil barris, respectivamente.
O custo é competitivo. O preço mínimo a
partir do qual a produção é economicamente viável situa-se, nos grandes
campos, em torno de 45 dólares por barril, enquanto a extração se
situaria em alguns poços na casa dos 9 dólares, abaixo dos 15 de média
de outras cavidades exploradas pela estatal. “Essa competitividade é um
fator de atração de investimentos”, diz José de Sá, da consultoria Bain
& Company. “O custo brasileiro é muito competitivo, nos níveis da
Arábia Saudita, e os poços são muito produtivos”, afirma o professor
Cleveland Jones, da Uerj.
A descoberta tem atraído a atenção internacional. Em outubro de
2013, o governo realizou a primeira rodada de licitação do pré-sal, com
poços do megacampo de Libra, na Bacia de Santos. O volume de barris
recuperáveis é estimado entre 8 bilhões e 12 bilhões, o que
representaria de 44% a 66% das reservas brasileiras.
As estatais chinesas CNPC e Cnooc, a Shell e a francesa Total foram
vencedoras da licitação ao lado da Petrobras, que detém 40% do
consórcio e, segundo regra do governo federal, sancionada em 2010, tem
de ser sempre a operadora e deter participação de ao menos 30% nos
blocos ofertados. Onze empresas, incluída a petroleira nativa, pagaram a
taxa de participação para a licitação.
Explorar o pré-sal exigirá a superação de gargalos tecnológicos.
Isso tende a criar um ambiente propício para inovações no Brasil.
Extrair petróleo nesses poços implica atingir profundidades superiores a
5 mil metros em relação ao nível do mar, o que exige maior
automatização, sistemas submersos, um novo tipo de profissionais e
equipamentos especiais.
Nos reservatórios do pré-sal os pesquisadores identificaram grande
quantidade de gás carbônico. Quando esse reage à água, forma o ácido
carbônico, altamente corrosivo. É preciso, por consequência, usar ligas
especiais de aço para evitar a corrosão gerada pelo ambiente no
revestimento e na coluna de produção dos poços, em equipamentos
submarinos de produção.
“A exploração abre perspectiva de capacitação de fornecedores
locais e de criação de uma cadeia de valor, e cabe destacar que tudo
depende de uma política industrial mais ativa que enxergue a criação de
valor nos elos mais importantes da cadeia”, diz Fernando Sarti,
professor do Instituto de Economia da Unicamp.
O ciclo de inovação começa na demanda, afirma o economista, que
puxa o investimento privado e de estatais. Para se criarem soluções é
preciso, no entanto, ver como elas serão mediadas. “Poderemos ter
soluções internas ou externas para atender à demanda, depende da
política de governo.”
Existe outro desafio além da economia. Como levar a riqueza à
maioria da população e não repetir os exemplos do Oriente Médio, em que a
alta do petróleo contribui para o enriquecimento de uma casta
privilegiada em regimes de exceção. Será preciso utilizar os royalties
de forma racional, em prol da redução das desigualdades sociais e
regionais e da ampliação dos recursos em educação. Será necessário ainda
transparência em relação à arrecadação e ao uso dos recursos, um
caminho longo.
Cidades brasileiras que recebem royalties têm tendência a ser menos
transparentes do que municípios não beneficiados por esses recursos,
aponta um mestrado do jornalista pernambucano Renato Lima, defendido na
Universidade de Illinois, nos EUA. Lima analisou os dados fiscais de
pouco mais de 5,5 mil cidades.
Segundo a dissertação, chega a aumentar em 16 pontos porcentuais a
probabilidade de um município que recebe royalties de não divulgar dados
fiscais em comparação com aqueles sem o benefício. Em 2000, quase 10%
das cidades que não enviaram suas contas à Secretaria do Tesouro
Nacional, exigência criada com a Lei de Responsabilidade Fiscal,
instituída em 1999, eram beneficiadas por royalties. Em 2009, o
porcentual saltou para 25%.
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