08/12/2015
Palavra Livre Posted: 08 Dec 2015 09:15 AM PST
Por Davis Sena Filho
Quando
eu olho ou penso no vice-presidente da República, Michel Temer, do PMDB
de São Paulo, vem às minhas retinas e memória o personagem do talentoso
cartunista Péricles, o autor do incomparável Amigo da Onça, um sujeito
sorrateiro e oportunista, nada confiável e que, se tiver oportunidade,
deixa o pé no meio do caminho para que sua vítima tropece e se
esborrache no chão, ou seja, tenha sua vida prejudicada.
O
vice-presidente poderia pelo menos poupar os cidadãos de sua vilania
política e partidária e ter escrito uma carta mais curta para reclamar
da vida como se fosse uma simples dona de casa ou um trabalhador que
estão a reclamar de suas rotinas, muitas vezes cansativas, pois
sistemáticas. Contudo, Temer é o vice-presidente do Brasil e age como
uma diva que foi abandonada no palco pelo diretor e o produtor, a ficar
sem a luz da ribalta, que o político paulista sente tanta falta.
Além
de escrever uma carta lamentável e que não dignifica o cargo de vice de
um País tão importante como o Brasil, Michel Temer optou também por
ratificar sua condição de político anão e muito aquém do que suas
responsabilidades institucionais e constitucionais exigem. Afinal, ele
aderiu ao golpe, e por escrito, sem a menor cerimônia, o que se torna
uma ação emblemática, na qual o vice-presidente da República pula a
cerca e cai nos braços de uma oposição feroz, irresponsável, que tenta
de todas as maneiras efetivar um golpe contra a presidente Dilma
Rousseff.
Temer
adere ao golpe dos demotucanos e dos magnatas bilionários de imprensa, a
chorar lágrimas de crocodilo ou a sorrir cinicamente como o Amigo da
Onça das ilustrações e quadrinhos de Péricles. Por sinal, o
vice-presidente é bem parecido com o famoso personagem, que durante
décadas fez os leitores brasileiros rirem de suas diatribes e ações
ardilosas, que sempre visavam causar danos àqueles que, porventura, o
Amigo da Onça queria prejudicar, trair e destruir.
Seria
mais cômodo e simples a Michel Temer se, ao invés de escrever uma carta
"confidencial" razoavelmente longa e repleta de hipocrisias e
veleidades, ele apenas se resumisse a uma frase com três palavras, que
seria esta: "Aderi ao golpe!", pronto e fim de papo. O problema é que o
vice deste País pertence à direita paulista, representa a mais alta
burguesia do Estado Bandeirante, além de ser politicamente conservador.
Michel
Temer é o tipo de político que jamais deveria errar com tamanha
gravidade. Ele não tem esse direito, até porque é um jurista
constitucionalista, que, por ocupar cargo tão importante, teria de ser
ético mesmo contra seus próprios interesses, porque, ao se tornar mais
um de tanto golpistas, coopera para fomentar o golpe e, com efeito,
enfraquece a estabilidade democrática e institucional. Esse processo
draconiano recrudesce a crise política e econômica, da qual se
aproveitam a oposição demotucana e a imprensa de direita, que ora está a
tratar de vender seu mais novo peixe para os brasileiros: o
impeachment.
O
que Michel Temer — o Amigo da Onça — está a fazer não tem perdão.
Existem homens e homens, políticos e políticos, e, definitivamente, o
Temer não é o vice de Lula, o empresário nacionalista José Alencar, que
sempre se conduziu de forma republicana, a respeitar seu cargo e função
e, mais do que isto, a jamais conspirar para derrubar um presidente da
República com o qual formalizou uma aliança político-eleitoral.
Michel
Temer é o que é, porque ele é o que é: um político de direita, que por
circunstâncias e por ser do PMDB, partido da base dos governos petistas
desde o primeiro mandato de Lula, subordinou-se à decisão da maioria de
participar de um governo de coalizão. Com as sucessivas conspirações por
parte do PSDB e de seus aliados, além dos ataques diuturnos da imprensa
empresarial contra os governos do PT e suas lideranças, a alma traidora
e contraditória do PMDB não suportou tamanha conspiração e, como um
escorpião, grande parte dos políticos deste partido aderiu ao golpe — a
traição.
Os
golpistas ainda contam com a participação de setores ideologizados e
partidarizados da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal,
além da associação do PMDB de Temer, a liderá-lo na Câmara o presidente
Eduardo Cunha, o principal agente do golpe, que levou o PMDB a
desequilibrar a bancada governista, retirando-lhe a maioria, porque
metade do PMDB, sem sombra de dúvidas, juntou-se, inescrupulosamente,
aos golpistas liderados pelo PSDB contra a presidente legalmente eleita,
Dilma Rousseff.
No
Brasil de hoje a agenda se resume à pauta dos trustes midiáticos dos
coronéis da imprensa meramente mercantil, de forma que os assuntos
impostos ao povo brasileiro se restringem ao impeachment e à operação
Lava Jato, que no momento dever estar no episódio 1.244.436, porque, se
depender do juiz de primeira instância, Sérgio Moro, ele vai ajudar a
oposição demotucana a sangrar o Governo e macular para desconstruir as
imagens de Lula e Dilma. Afinal, em 2018 tem outra eleição presidencial,
e desta vez a direita tem de vencer, a despeito de prejudicar o Brasil
ou não.
Moro,
como muitos outros juízes, promotores e delegados aecistas, somente
prende petistas e jamais os tucanos, em hipótese alguma, até porque eles
são inimputáveis no Brasil, mas não na Suíça. Creio ainda que o juiz da
República do Paraná é mais um dos que consideram os brasileiros
idiotas, que não percebem nada, porque são ingênuos e alienados ao ponto
de não notarem que juízes tem lado, partido e cor ideológica. Não é
mesmo, Gilmar Mendes?
Temer
enviou uma carta, à moda Marina Silva, em um monte de lamúrias e
vaidades que chegam a ser novelescas. O vice, a choramingar, reclamou de
sua falta de protagonismo e de influência, na verdade, abriu a caixa de
Pandora, de forma articulada, astuta e maliciosa, juntamente com o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que, apesar de ser um cadáver
político, ainda faz composições contra o Governo Dilma, mesmo a ser
acusado de inúmeras irregularidades e ilegalidades em sua vida política e
pessoal.
A
verdade é que se trata de golpe na veia, e temer se tornou um dos seus
principais agentes. Surreal. Um vice-presidente constitucional se voltar
contra a presidente eleita. Qualquer pessoa ou político pode se voltar
contra a mandatária, sendo que de forma legal e democrática. Menos o
Temer. Ele foi eleito em uma chapa, o que já basta, independente de suas
vontades e desejos, para que ele se recolha à sua condição
institucional e constitucional.
O
Amigo da Onça sabe que um golpe nunca acaba bem para qualquer lado.
Golpes contra mandatários eleitos legalmente retiram a paz social e a
violência pode surgir em todos os cantos deste País, que não é mais o
mesmo de 1964, pois industrializado, com um povo urbano e alfabetizado,
além de informado sobre os acontecimentos políticos.
Golpes
trazem inconformismos e paixões desenfreadas, sendo que, seguramente, o
golpista que, hipoteticamente, assumisse o poder não teria as mínimas
condições políticas de governar, porque o Brasil, aí sim, entraria em
uma verdadeira crise, muito maior do que a evidenciada e apregoada pelas
mídias de direita, que desejam a tomada da Presidência por um político
conservador, que, obviamente, vai novamente implementar os ditames do
neoliberalismo, a ter o Pré-Sal como o primeiro alvo a ficar nas mãos
das multinacionais do petróleo.
A
verdade é que Dilma Rousseff é a referência para tirar o PT do poder. A
direita não está apenas a enfrentar personalidades políticas, como os
presidentes Lula e Dilma, mas, sobretudo, preocupa-se em destruir os
programas de Governo e o projeto de País efetivados pelos dois
presidentes trabalhistas. O que está em jogo é muito maior. O que corre
perigo é o projeto nacionalista do PT e do PCdoB, que prevê a
independência do Brasil e a emancipação do povo brasileiro, que nos
últimos 13 anos teve acesso a inúmeros benefícios e direitos.
Evidentemente, nos tornamos um povo mais exigente e que, seguramente, não vai concordar em ter perdas e prejuízos, a partir da hora que a direita conquistar o poder por intermédio de golpes ou do voto, em 2018. Os golpistas não passarão! O vice-presidente agora tem de enviar uma carta chorosa e sorrateira para o Papai Noel. Talvez o Bom Velhinho o atenda. Michel Temer é o Amigo da Onça de Dilma e do Brasil. Que o diga o Péricles. É isso aí.
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