13/06/2016
Mídia dá grande atenção quando Trombeta fala contra o PT; mas quase se cala quando toca contra aliado de Alckmin, de ministros de Temer e de âncora da Globo
Do Viomundo - 13 de junho de 2016 às 12h06
Trombeta que só toca contra o PT
Por Octávio P.B. Ribeiro*
As delações e conexões empresariais do contador Roberto Trombeta, alvo e réu da 14ª fase da Operação Lava Jato e ligado às empreiteiras OAS e UTC, para as quais abria empresas de fachada para lavar dinheiro oriundo de contratos com a Petrobrás, têm pesos e medidas diferentes, a depender do interesse de quem as analisa, seja para investigar, para cartadas no jogo político ou para virar notícia na mídia tradicional.
É o que se constata ao se comparar a relevância dada para as afirmações de Trombeta contra o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), e a sociedade empresarial do contador com o atual delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Youssef Abou Chain, ligado a dois dos caciques paulistas do PSDB, o governador Geraldo Alckmin, e José Serra, ministro das relações exteriores no governo de Michel Temer.
Ao final desta reportagem, imagine como Chain seria tratado pela mídia tradicional fosse o delegado-geral da Polícia Civil de Minas Gerais e conclua sobre pesos e medidas diferentes.
Trombeta virou alvo da Polícia Federal na Lava Jato depois que os números de seus telefones foram encontrados na agenda do celular do doleiro Alberto Youssef, um dos mais importantes agentes e delatores sobre a corrupção instalada na Petrobrás.
A acusação feita por Trombeta contra o petista aos procuradores da República que atuam na Lava Jato foi a de que Pimentel, então candidato ao governo mineiro, estava, em agosto de 2014, na casa do dono do Grupo CAOA (representante da Hyundai no Brasil), Carlos Alberto de Oliveira Andrade, quando lhe foi pedido um repasse de R$ 3 milhões para o dono da Gráfica Brasil, Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, acusado de ser um operador de propinas para integrantes do PT.
Bené, preso em abril deste ano, e Pimentel são investigados na Operação Acrônimo.
Até agora, foram identificados repasses de cerca de R$ 2 milhões do grupo CAOA para empresas de Bené.
Os valores tinham como objetivo, segundo a investigação, fortalecer a campanha política de Pimentel ao governo de Minas Gerais.
Atualmente, os investigadores da Lava Jato tentam rastrear repasses de mais R$ 17 milhões do Grupo CAOA para Pimentel, entre 2013 e 2014.
Desse montante, R$ 7 milhões são buscados em contas no exterior.
Pimentel sempre negou ter recebido dinheiro ilícito.
Ao rastrear as dezenas de empresas abertas por Trombeta, no Brasil e no exterior, algumas delas pela Mossack Fonseca (especializada em criar offshores, muitas das quais empresas de fachada), a Polícia Federal conseguiu detectar movimentações financeiras de aproximadamente US$ 17 milhões (R$ 60 milhões), em apenas um ano.
O dinheiro era usado para o pagamento de propinas.
Enquanto as acusações verbais de Trombeta contra Pimentel prosperam na Lava Jato, documentos que mostram a conexão do contador com o número 1 da Polícia Civil de São Paulo, o delegado Youssef Abou Chain, muito bem relacionado com os tucanos Alckmin e Serra e também com um jornalista da Rede Globo, ainda não receberam a mesma atenção.
Delegado Youssef com o então secretário de Alckmin, Alexandre Moraes, e o comandante da PM de São Paulo: bem relacionado
Desde a revelação de sua ligação com Trombeta, em reportagem de 16 de maio, do Jornal da Band, Chain nega irregularidades na sua conexão com o contador alvo da Lava Jato.
Até dezembro de 2014, Trombeta e Chain foram sócios na Full Time Intermediação de Negócios e Veículos Ltda., empresa localizada no nº 4.860 da avenida dos Bandeirantes, na zona sul de São Paulo.
No mesmo local funciona a Oregon Blindados, a mais conhecida empresa da família Chain.
Ao deixar a sociedade da Full Time — ao menos no papel — Trombeta foi substituído por sua filha, Roberta da Rocha Trombeta, agora parceira empresarial do delegado-geral Chain e do irmão dele, Wlademir Abou Chain, também delegado da Polícia Civil de São Paulo e que já trabalhou no gabinete do deputado federal Carlos Sampaio (PSDB).
A filha de Trombeta também é sócia da mãe dos irmãos delegados Chain, Daysi.
Na Oregon Blindados — que já teve os dois policiais civis como donos — Roberta e Daysi agora figuram como sócias ao lado de Luis Cheong e Alice Castilho Morales, mãe de Rodrigo Morales, sócio de Trombeta pai e também alvo e réu da Lava Jato.
De acordo com a versão do delegado-geral, a Oregon e a Full Time funcionam no mesmo endereço porque são administradas pela sócia-gerente Roberta Trombeta.
Ao lado da cunhada, Luciana Truffi Abou Chain, o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo também é sócio da Atria Intermediação de Negócios, empresa localizada no 4º andar de um prédio no nº 2.503 da avenida Brigadeiro Luís Antônio, zona sul de São Paulo.
Na Receita Federal, a Atria declara como seu endereço eletrônico o mesmo da Hedge Consultoria, outra empresa de Trombeta investigada na Lava Jato e que apareceu nos “Panamá Papers”.
O delegado-geral afirma declarar como seu o endereço de e-mail da Hedge porque Trombeta é seu contador.
Em julho de 2007, quando mantinha sua participação na Oregon nas sombras, o delegado-geral Chain passou a ser investigado pela Corregedoria da Polícia Civil, após reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelar sua atuação na empresa privada.
À época, ele era o chefe do Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado), um dos maiores setores da Polícia Civil paulista e que tinha, entre outras, a atribuição de investigar sequestros no Estado.
Na lista de serviços da Oregon apareciam: “cuidar de casos de sequestros”, “varredura em linha telefônica” e “investigação empresarial (contra espionagem industrial)” .
Seis dias após a reportagem denunciar Chain, ele vendeu seus 25% na Oregon, empresa da qual era dono desde 1993.
Mesmo assim, sem nem mesmo que as investigações contra Chain tivessem acabado, o então delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo em 2007, Mário Jordão Toledo Leme, e o então governador de São Paulo, José Serra (PSDB), o defenderam publicamente.
“É um homem [Chain] que tem tido à frente do Deic, que é o órgão mais importante da Polícia Civil, um desempenho altamente satisfatório do ponto de vista do governo do Estado e do secretário da Segurança”, afirmou o então governador Serra.
Negócio com jornalista
O jornalista e apresentador César Tralli, da Rede Globo, é outro que fez negócios com o atual chefe da Polícia Civil de São Paulo.
Em junho de 2012, Tralli, que apresenta o telejornal SPTV 1ª Edição, comprou um apartamento de Chain por R$ 270 mil. O imóvel fica no Condomínio Times Square Cosmopolitan Mix, na alameda dos Jamaris, nº 100, Moema, um dos bairros mais valorizados de São Paulo.
Atualmente, um imóvel de 35m² no lugar, igual ao negociado entre o jornalista e o atual chefe da Polícia Civil, custa aproximadamente R$ 450 mil.
Em 2013, quando Tralli se separou da também jornalista Flávia Freire, o imóvel teve valor estimado em R$ 85 mil.
Durante suas atuações à frente do SPTV 1ª Edição, quando aborda casos na área de segurança pública, Tralli diz, vez ou outra, ter ligado para o delegado Chain para obter informações sobre o assunto abordado por ele na TV.
Negócio com Ministro da Justiça
Alexandre de Moraes, hoje ministro da Justiça de Michel Temer (PMDB), é outro com negócios com o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo.
Uma das primeiras medidas de Moraes quando, em janeiro de 2015, foi nomeado por Geraldo Alckmin para assumir a Secretaria da Segurança Pública, foi transformar o então responsável pelo DPPC (Departamento de Polícia e Proteção à Cidadania), delegado Youssef Abou Chain, em seu nº 1 da Polícia Civil paulista.
Uma procuração de Chain para o escritório Alexandre de Moraes Advogados Associados, do atual ministro da Justiça, obtida pela reportagem, mostra a relação entre os dois. No documento, Chain declarou como seu domicílio avenida São João, 1.247, mas lá fica a sede do DPPC, departamento que chefiava em outubro de 2013, quando assinou o papel.
Patrimônio X Renda
No começo deste mês, a Procuradoria-Geral do Estado, Ministérios Públicos Federal e Estadual passaram a apurar a suspeita de enriquecimento ilícito do delegado-geral Chain.
Trata-se do desarquivamento de uma investigação que havia sido aniquilada em 2015, quando Chain já era delegado-geral e seu superior imediato era Alexandre de Moraes, então secretário da Segurança Pública de São Paulo e atual ministro da Justiça.
A procuração foi assinada justamente para que Moraes o defendesse nessa apuração.
Existe também uma investigação criminal, sigilosa, em andamento contra Chain por suspeita de incompatibilidade entre seu patrimônio e renda.
No começo de maio, o desembargador Roberto Neves Amorim, deu trinta dias para Chain apresentar sua defesa prévia sobre a suspeita de enriquecimento ilícito.
Quando foi chamado por Temer para assumir o Ministério da Justiça, Moraes fez questão de procurar Alckmin para pedir que Chain ficasse à frente da Polícia Civil de São Paulo, cargo blindado com foro privilegiado na área criminal.
Negócio com dono de helicóptero que caiu e matou filho de Alckmin
A advogada Andrea do Nascimento, 46 anos, mulher do delegado-geral Chain, embarcava em um Jeep Cherokee Limited, na manhã de 17 de abril deste ano, no Campo Belo, zona sul de São Paulo, quando um ladrão levou o veículo de luxo e a bolsa dela.
Cerca de cinco horas depois do roubo, o carro foi encontrado a quatro quarteirões de onde havia sido levado, inteiro. Periciado, o Jeep foi devolvido para Andrea.
O que era para ser apenas mais um caso de roubo de veículo serviu para que os investigadores da Lava Jato passassem a rastrear uma nova conexão entre Chain, sua família e outros empresários ligados ao PSDB.
O Jeep dirigido por Andrea estava registrado em nome de uma pessoa jurídica, a Primoris Intermediação de Negócios e Corretora de Seguros Ltda., empresa em nome da cunhada do delegado-geral Chain, Luciana Truffi Abou Chain e Alberto Moreira Lopes.
No site da Primoris, a empresa é apresentada como parceira comercial da Qualicorp Soluções em Saúde, gigante administradora de planos de saúde coletivos, liderada pelo bilionário José Seripieri Junior.
Quando se casou, em junho de 2014, Seripieri Junior teve como convidados Geraldo Alckmin, José Serra, Marta Suplicy e o ex-presidente Lula.
Seripieri Junior também é dono da Seripatri Participações, empresa dona do helicóptero EC155 B1, que caiu em abril de 2015, em Carapicuíba (Grande São Paulo), e matou cinco pessoas, dentre elas Thomaz Rodrigues Alckmin, 31 anos, filho do governador de São Paulo.
*Octávio P.B. Ribeiro.É jornalista investigativo trabalhando sob pseudônimo contratado pelos leitores do Viomundo através de financiamento coletivo
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