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18/06/2016
Eliseu Padilha, o lado mais sujo da política
Jornal GGN - Dom, 19/06/2016 - 12:25 Atualizado em 19/06/2016 - 13:30
Chega a ser curioso o primarismo político da junta interina.
Luis Nassif
Assumiu o poder no bojo de um golpe parlamentar e no rastro de uma campanha moralizadora. A campanha uniu pontualmente mídia, Congresso e Ministério Público em torno de um objetivo específico: depor Dilma Rousseff.
Quando sai um governo e entra outro, o interino herda os poderes, mas também a visibilidade do anterior. Especialistas na pequena política, da cooptação do baixo clero, da atuação nas sombras, a junta interventora não se deu conta de que, à luz do dia é como mandruvás cobertos de sal. E partiu para o exercício do poder, da mesma maneira que os farrapos degolando os inimigos nos pampas.
Dentre todos os integrantes da junta, nenhum é mais agressivo e sem limites que Eliseu Padilha.
Coube a ele convocar dois assessores - Laerte Rimoli e Márcio de Freitas - para baixarias contra jornalistas críticos ao golpe. Jornalistas que se fizeram servindo o lado obscuro da política, não se pejaram em atacar a reputação de jornalistas que ousaram se interpor aos desmandos de seus chefes.
Padilha não se deu conta de que a exibição de poder, ainda mais por pessoa com seu passado, apenas chama a atenção das autoridades judiciais e da opinião pública.
Comportou-se como o gendarme de uma ditadura, quando não passava de inquilino provisório do poder.
Padilha é o lado sujo da política desde o governo Fernando Henrique Cardoso. Coube a ele, ao lado de Gedel Vieira Lima, o enorme trabalho de cooptação do PMDB para negar a candidatura a Itamar Franco nas eleições de 1998.
Em janeiro de 2001, em minha coluna na Folha, escrevi sobre ele o que se segue:
O desmonte dos transportes
Dentre todas as áreas do setor
público, a que menos avançou foi a dos transportes. A única
justificativa para a manutenção do ministro dos Transportes, Eliseu
Padilha (PMDB), é não ceder às pressões do PFL, porque do ponto de vista
operacional está jogada às traças uma das áreas fundamentais para a
redução do "custo Brasil".
Aliás, a presença de Padilha depõe
contra a aliança que mantém FHC, contra FHC e contra o próprio partido
que o indicou -o PMDB. A questão da gestão passou a ser elemento vital.
Tendo uma vitrine com a exposição do Ministério dos Transportes, o PMDB
poderia escolher o melhor dos seus quadros administrativos para mostrar
que está conseguindo assimilar as exigências dos novos tempos. Mas isso
não ocorre.
O ministério foi transformado em um
mercado persa, em uma troca de favores ampla, virou um arquipélago de
feudos que atuam de forma independente, atropelando as exigências
mínimas de uma ação coordenada.
A falta de comando de Padilha
refletiu-se na própria regulamentação das agências reguladoras no
Congresso. Sem um órgão atento que refletisse sobre o tema, o projeto
Eliseu Rezende acabou sendo uma composição de todos os interesses, que
resultou em um monstrengo regulatório. Em um tempo em que o mundo todo
adota o conceito do transporte intermodal (a integração de todos os
meios de transporte), o projeto prevê a criação de duas agências em
separado, às quais se soma a indefinição em torno do DAC (Departamento
de Aviação Civil).
No campo das concessões, as últimas
bem-sucedidas datam de 1993, quando o então ministro Alberto Goldmann
logrou a privatização de cinco rodovias -entre elas a Dutra e a ponte
Rio-Niterói. Em 2000 foram três tentativas de privatização de rodovias
federais, todas embargadas pelo fato de as licitações estarem viciadas.
A questão do transporte interestadual
continua emperrada, apesar das juras públicas do ministro, há alguns
anos, de que iria definir regras claras e não subjetivas para novas
licitações, acabando com o cartel do setor.
Não se pretende que FHC vá manter
incólume a aliança sem alguma forma de concessão. No entanto há um
primado básico que não pode ser desobedecido: o primado da competência e
da transparência. E, no caso dos transportes, desobedeceu-se.
Se a Lava Jato se dispuser a esmiuçar os acordos das empreiteiras, no período em que Padilha foi Ministro, encontrará mais fantasmas do que nas covas coletivas.
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