sábado, 13 de maio de 2017

Nº 21.415 - "Atropelando a justiça e a inteligência: Lula não disse nada que possa ser visto como culpar Marisa. Por Joaquim de Carvalho"

13/05/2017

Atropelando a justiça e a inteligência: Lula não disse nada que possa ser visto como culpar Marisa. Por Joaquim de Carvalho


Diário do Centro do Mundo  -  13 de maio de 2017


Por Joaquim de Carvalho

Joaquim de CarvalhoExiste um duplo erro na interpretação de que Lula culpou Marisa no 
depoimento ao juiz Sérgio Moro.
Primeiro: Lula não disse nada que possa ser interpretado como atribuição de culpa à esposa, já falecida.
Segundo: Lula confirmou o que todas as pessoas que conhecem o processo sabem – foi Marisa mesmo quem comprou a cota parte do condomínio que a Bancoop  estava levantando no balneário do Guarujá.
É o que mostram os documentos, inclusive a declaração de renda do casal Lula e Marisa.
No depoimento a Moro, Lula foi questionado insistentemente pelo juiz Sérgio Moro sobre a razão de Marisa ter feito uma segunda visita ao imóvel, quando este lhe foi oferecido pela OAS.
Lula disse: não sei, talvez por investimento. Na primeira visita, ele já tinha decidido que não iria comprar o apartamento.
Você imagina Lula descansando no Guarujá, numa das praias mais movimentadas do balneário, Astúrias, indo tomar um banho de mar com a esposa, os cinco filhos, oito netos e um bisneto?
Seria impossível.
Nem ele nem a família conseguiriam descansar, já que é uma pessoa pública.
Parênteses: O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também uma pessoa muito conhecida, vai a Paris, num apartamento que está em nome de seu amigo Jovelino Mineiro, para descansar.
Ali, Fernando Henrique pode caminhar pela rua, sentar num banco de praça, sem ser incomodado, como mostrou uma reportagem alguns anos atrás.
Agora, Lula no Guarujá?
Se Lula não quis ficar com o imóvel e Marisa foi visitá-lo uma segunda vez, seria por quê?
O que parece evidente é que, de alguma maneira, ela pretendia reaver os 209 mil reais que a família já havia pago e uma das maneiras era ficar com um imóvel maior.
Isso parece óbvio, mas não faz sentido à tese que o Ministério Público Federal criou – Lula é o chefe da quadrilha e, como tal, também tinha que receber propina da OAS.
O meliante de terceiro escalão, Pedro Barusco, foi apanhado com dezenas de milhões de dólares numa conta na Suíça.
Já o chefe teria ficado com um apartamento no Guarujá que, verdade seja dita, ele nunca poderia usar.
Nesse caso, Lula não seria chefe, mas um tolo.
Se os documentos mostram que Marisa – e não Lula – era cotista do empreendimento da Bancoop, mais tarde assumido pela OAS, que culpa existia a transferir para Marisa?
Essa interpretação de que Lula jogou a culpa em Marisa começou a ser difundida pelo procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, o mais experiente entre os integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério.
“No geral, eu não vi nenhuma consistência nas alegações (de Lula). Infelizmente, as afirmações em relação à Dona Marisa a responsabilizando por tudo é um tanto triste de se ver feitas nesse momento até porque, como o ex-presidente disse, ela não está aí para se defender”, disse ele à imprensa.
Este senhor não mostrou a mesma preocupação com a memória de Marisa quando o juiz Sérgio Moro, contrariando dispositivo legal, se recusou a decretar a absolvição sumária de Marisa, em razão de seu falecimento.
É o mesmo Carlos Fernando dos Santos Lima que aparece em vídeos na internet, ao lado de jovens procuradores, defendendo propostas para moralizar o país.
Haja estômago.
Carlos Fernando dos Santos Lima e os outros que embarcaram na tese de que Lula culpou Marisa pela negociação do tríplex atropelaram os fatos documentados e mostraram que desconhecem a história de Marisa.
Em 1980, na ditadura militar, quando Lula foi preso em razão das greves no ABC, Marisa liderou uma passeata de mulheres pelas ruas de São Bernardo do Campo, desafiando as forças policiais, que haviam proibido manifestações.
Mais tarde, quando movimentos na rua protestaram contra a corrupção no governo Collor, Lula não pode ir a um ato em São Bernardo, mas Marisa estava lá, representando o marido. E discursou. Eu estava lá, como repórter da revista Veja, e vi.
São fatos mais antigos e talvez os procuradores da república não tenham vivido esta época, exceto Carlos Fernando dos Santos Lima, mas todos poderiam ter visto o que disse Lula recentemente, no velório de sua mulher, a “Galega”.
Para destacar a grandeza de Marisa, Lula disse que nunca tinha conseguido acompanhar o nascimento de um filho, por conta dos compromissos que eram e são, a rigor, com causas públicas.
Lula contou que tentava, mas na última hora havia sempre um evento onde a presença dele, como líder, era necessária. Por exemplo, na morte de Chico Mendes.
Marisa segurou as pontas sozinha. Se fez isso no momento crucial de um casal – o nascimento de um filho –, não faria isso para decidir o que fazer com o dinheiro da família que havia investido num empreendimento do Guarujá?
Nesse caso de Curitiba, a perseguição a Lula ultrapassou todos os limites, inclusive o da inteligência.


Joaquim de Carvalho. Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com
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