Saul Leblon
São graúdos, e contabilizáveis, os interesses
que arrendam espaços e gargantas para vocalizar a luta diuturna pela
alta dos juros no país.
O pleito está marmorizado em cada centímetro da menos imparcial de todas as seções do jornalismo: o noticiário de economia. Daí se irradia para afinar o jogral de vulgarizadores e agregados de orelhada e holerite.
A centralidade que une as tropas é compreensível. Trata-se de uma queda de braço decisiva.
Os sabichões que advogam a panaceia do ‘novo ciclo de alta’ da Selic sabem do que estão falando. E não estão falando apenas em adicionar mais 0,25% às taxas atuais, na reunião do Copom, do próximo dia 17.
Isso até pode acontecer. Mas não é esse o alvo, nem a dose cogitada.
O braço de ferro é para reverter um reordenamento estratégico.
É a história do país, estúpido!
É disso que se trata, embora eles dissimulem o seu lado na encruzilhada brasileira em versões amigáveis ao interesse da sociedade.
De ‘toda’ a sociedade.
Ou não seria o choque de juros o melhor protetor para os males da Nação, um Biotônico Fontoura que combate preços, maleita e bicho de pé?
Fatos.
A pátria rentista não admite que a prioridade do sistema econômico deixe de ser a que sempre foi, desde os anos 90, até o colapso de 2008.
Qual seja, a reprodução do capital fictício a taxas de retorno as mais elevadas de toda a economia, sem condicionalidades de qualquer natureza.
Exceto o lacre inoxidável da liquidez total, com risco zero.
É nessa espécie de platô marciano, comparado ao relevo habitado pelos que lutam com as incertezas da sobrevivência e da produção, que vive uma plutocracia rentista que acha normal pagar , como lembra o insuspeito jornal Valor, R$ 115 reais por um prato de comida.
Ou R$ 15 por um prosaico quindim, nos restaurantes dos Jardins, em São Paulo.
Os comedores de quindim de ouro dispunham, no final do ano passado, de nada menos que R$ 527 bilhões sob os cuidados de ‘private bankings’. Gerencias especiais, ligadas ou não aos bancos, que cuidam da gestão de grandes fortunas, pessoais ou familiares.
O saldo é oficial, divulgado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O número é reiterado pelo mencionado jornal Valor.
Convém situa-lo no mundo das grandezas.
O valor é maior do que todo o investimento previsto pela Petrobrás em seu plano quadrienal para triplicar a produção do pré-sal até 2017 e atingir um milhão de barris/dia.
Esse é o tamanho do canhão dirigido contra uma política econômica tratada, em tom derrisório, como ‘desenvolvimentista'.
E essa é apenas a parte declarada do paiol que alimenta manchetes alarmistas e teclados prestativos.
O saldo submerso abriga-se em sigilos abissais.
Mas há gente que cavouca inconveniências em todos os lugares, mesmo os mais blindados.
A Tax Justice Network (‘rede de justiça fiscal’) é uma organização britânica especializadas nesse tipo de garimpo.
Seu relatório de 2012 estima que, entre 1970 e 2010, os endinheirados brasileiros acumularam depósitos da ordem de US$ 520 bilhões em contas mantidas em paraísos fiscais.
O valor, equivalente a R$ 1 trilhão de reais, garante à turma verde-amarela o 4º lugar no ranking dos maiores clientes dos ‘offshores’ do planeta. Chineses, russos e sul-coreanos lideram a fila.
É um desempenho robusto.
O PIB do país em 2012 foi da ordem de US$ 2,5 tri. A evasão flagrada pela Tax Justuce equivaleria assim a 1/5 de toda a riqueza anual acrescida à vida da sociedade.
Juro alto, liquidez imediata e risco zero são imiscíveis com o investimento pesado em infraestrutura e expansão industrial que o governo busca induzir.
Nos últimos três anos – reconheça-se, incentivado pela valorização do câmbio que descartou o investimento industrial, abalroado ainda pelo juro alto – a indução se deu no sentido oposto.
De 2009 ao final de 2012, o volume de recursos direcionado aos private bankings cresceu mais de 80% .
Saltou de R$ 291 bi para os mencionados R$ 527 bi, conforme a Anbima.
Nessa trincheira do ganho fácil reina inquietação nesse momento.
O pasto anda baixo. O governo Dilma ceifou o capim rentista trazendo-o à taxa real de juros mais baixa da história recente.
Com o soluço da inflação nos últimos meses, a dinheirama estabulada nesses piquetes de engorda, antes generosos, começa a perder peso em termos reais, descontada a variação dos preços.
Ninguém está sendo empurrado para o matadouro. Ao contrário.
O que o governo Dilma busca é induzir o dinheiro ocioso a galopar dos retiros rentistas para os campos indivisos, onde o aguardam as grandes fronteiras do investimento brasileiro neste início de século 21.
Insuflados por bicos longos e teclados ortodoxos, os rentistas evocam a prerrogativa de continuar comendo seu quindim de ouro, servidos pelo mesmo cardápio suculento. Sem sair do lugar.
A ver.
O pleito está marmorizado em cada centímetro da menos imparcial de todas as seções do jornalismo: o noticiário de economia. Daí se irradia para afinar o jogral de vulgarizadores e agregados de orelhada e holerite.
A centralidade que une as tropas é compreensível. Trata-se de uma queda de braço decisiva.
Os sabichões que advogam a panaceia do ‘novo ciclo de alta’ da Selic sabem do que estão falando. E não estão falando apenas em adicionar mais 0,25% às taxas atuais, na reunião do Copom, do próximo dia 17.
Isso até pode acontecer. Mas não é esse o alvo, nem a dose cogitada.
O braço de ferro é para reverter um reordenamento estratégico.
É a história do país, estúpido!
É disso que se trata, embora eles dissimulem o seu lado na encruzilhada brasileira em versões amigáveis ao interesse da sociedade.
De ‘toda’ a sociedade.
Ou não seria o choque de juros o melhor protetor para os males da Nação, um Biotônico Fontoura que combate preços, maleita e bicho de pé?
Fatos.
A pátria rentista não admite que a prioridade do sistema econômico deixe de ser a que sempre foi, desde os anos 90, até o colapso de 2008.
Qual seja, a reprodução do capital fictício a taxas de retorno as mais elevadas de toda a economia, sem condicionalidades de qualquer natureza.
Exceto o lacre inoxidável da liquidez total, com risco zero.
É nessa espécie de platô marciano, comparado ao relevo habitado pelos que lutam com as incertezas da sobrevivência e da produção, que vive uma plutocracia rentista que acha normal pagar , como lembra o insuspeito jornal Valor, R$ 115 reais por um prato de comida.
Ou R$ 15 por um prosaico quindim, nos restaurantes dos Jardins, em São Paulo.
Os comedores de quindim de ouro dispunham, no final do ano passado, de nada menos que R$ 527 bilhões sob os cuidados de ‘private bankings’. Gerencias especiais, ligadas ou não aos bancos, que cuidam da gestão de grandes fortunas, pessoais ou familiares.
O saldo é oficial, divulgado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O número é reiterado pelo mencionado jornal Valor.
Convém situa-lo no mundo das grandezas.
O valor é maior do que todo o investimento previsto pela Petrobrás em seu plano quadrienal para triplicar a produção do pré-sal até 2017 e atingir um milhão de barris/dia.
Esse é o tamanho do canhão dirigido contra uma política econômica tratada, em tom derrisório, como ‘desenvolvimentista'.
E essa é apenas a parte declarada do paiol que alimenta manchetes alarmistas e teclados prestativos.
O saldo submerso abriga-se em sigilos abissais.
Mas há gente que cavouca inconveniências em todos os lugares, mesmo os mais blindados.
A Tax Justice Network (‘rede de justiça fiscal’) é uma organização britânica especializadas nesse tipo de garimpo.
Seu relatório de 2012 estima que, entre 1970 e 2010, os endinheirados brasileiros acumularam depósitos da ordem de US$ 520 bilhões em contas mantidas em paraísos fiscais.
O valor, equivalente a R$ 1 trilhão de reais, garante à turma verde-amarela o 4º lugar no ranking dos maiores clientes dos ‘offshores’ do planeta. Chineses, russos e sul-coreanos lideram a fila.
É um desempenho robusto.
O PIB do país em 2012 foi da ordem de US$ 2,5 tri. A evasão flagrada pela Tax Justuce equivaleria assim a 1/5 de toda a riqueza anual acrescida à vida da sociedade.
Juro alto, liquidez imediata e risco zero são imiscíveis com o investimento pesado em infraestrutura e expansão industrial que o governo busca induzir.
Nos últimos três anos – reconheça-se, incentivado pela valorização do câmbio que descartou o investimento industrial, abalroado ainda pelo juro alto – a indução se deu no sentido oposto.
De 2009 ao final de 2012, o volume de recursos direcionado aos private bankings cresceu mais de 80% .
Saltou de R$ 291 bi para os mencionados R$ 527 bi, conforme a Anbima.
Nessa trincheira do ganho fácil reina inquietação nesse momento.
O pasto anda baixo. O governo Dilma ceifou o capim rentista trazendo-o à taxa real de juros mais baixa da história recente.
Com o soluço da inflação nos últimos meses, a dinheirama estabulada nesses piquetes de engorda, antes generosos, começa a perder peso em termos reais, descontada a variação dos preços.
Ninguém está sendo empurrado para o matadouro. Ao contrário.
O que o governo Dilma busca é induzir o dinheiro ocioso a galopar dos retiros rentistas para os campos indivisos, onde o aguardam as grandes fronteiras do investimento brasileiro neste início de século 21.
Insuflados por bicos longos e teclados ortodoxos, os rentistas evocam a prerrogativa de continuar comendo seu quindim de ouro, servidos pelo mesmo cardápio suculento. Sem sair do lugar.
A ver.
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