segunda-feira, 8 de abril de 2013

Contraponto 10.851 - "Azenha e a estratégia de intimidação contra os blogs"


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08/04/2013

 

 



Por Marco Antonio L.


Do Sul 21

Luiz Carlos Azenha: “Os processos contra blogs são decisões políticas com o objetivo de intimidá-los”

Rachel Duarte 

Ex-correspondente da Rede Globo em Nova York, o jornalista Luiz Carlos Azenha mantém há mais de 10 anos um dos blogs progressistas mais influentes do Brasil. Recentemente condenado, em primeira instância, a pagar R$ 30 mil ao diretor da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, por suposta campanha difamatória na rede, Azenha anunciou o fim do Viomundo. Em entrevista ao Sul21, ele explica a atitude emocionada e diz que está batalhando para alcançar recursos para manter-se ativo na blogosfera. Contrário a ideia de receber verbas publicitárias dos governos, ele defende que esta desvinculação permite a liberdade de conteúdo crítico. “Porém, o Viomundo é um blog de esquerda, o que dificulta a conquista de patrocinadores que queiram se relacionar com o nosso conteúdo”, fala.

Desde o resultado do processo judicial, há duas semanas, o jornalista Luiz Carlos Azenha acabou movimentando uma campanha espontânea de apoiadores contrários ao monopólio da comunicação no país. Políticos e militantes utilizaram o caso para criticar a política do governo Dilma que pouco avançou para um Marco Regulatório das Comunicações. “A política do governo federal deveria estimular em todos os campos a diversidade. Porque quando você estimula o a diversidade, estimula o debate político, e encontra outros caminhos, alternativas”, afirma o jornalista.

Segundo ele, com o avanço da internet e da horizontalidade da informação na rede, as grandes empresas veem o seu modelo de negócio ameaçado. Este é o principal motivo pelo qual elas optariam pelo caminho da judicialização a fim de calar as vozes dissidentes. “Se houvesse opção em debater política, poderia ser exigido o direito de resposta.  O direito de resposta tem que existir na legislação brasileira. Isto não é regulamentado porque não é bom para a grande imprensa”, afirma. 


 “O Viomundo é um blog de esquerda, o que dificulta a conquista de patrocinadores que queiram se relacionar com o nosso conteúdo. Criticamos todo mundo. Já criticamos os governadores Tarso Genro (RS) e Jaques Wagner (BA)”. | Foto: Divulgação


Sul21 – Como está a tua vida agora, terá que pagar os R$ 30 mil do processo judicial ou tem possibilidade de recorrer da decisão? Vai mesmo fechar o blog Viomundo?
Luiz Carlos Azenha - Eu tomei uma atitude emocionada no final de semana em que saiu o resultado do meu processo. Não vai acabar. Vamos tentar financiar o blog de outra forma. Como não aceitamos apoio de empresas públicas, estatais ou governos, nosso nicho de patrocínio em potencial é o Google e as empresas privadas. Porém, o Viomundo é um blog de esquerda, o que dificulta a conquista de patrocinadores que queiram se relacionar com o nosso conteúdo. Criticamos todo mundo. Já criticamos os governadores Tarso Genro (RS) e Jaques Wagner (BA) em razão da greve dos professores. Já criticamos o governador Eduardo Campos (PE) por ter um monte de parentes no governo. Os leilões do petróleo do governo Dilma também. Já criticamos o governo Lula pela demissão do ex-diretor geral da Polícia Federal durante a Operação Satiagraha. Então, é muito difícil eu conseguir um patrocínio do banco Itaú, por exemplo, se eu coloco na capa do blog o Requião [o senador Roberto Requião] dizendo que o Itaú paga as viagens do Fernando Henrique para falar mal do Brasil. Mas eu não abro mão de denunciar isso. O que dificulta a nossa própria sobrevivência. Sem falar dos altos custos com advogados. Eu, um assalariado, tendo que gastar R$ 60 mil para pagar um bom advogado para me defender das denúncias que faço é outra dificuldade. Eu faço meu blog de dentro da minha casa. Eu tenho uma rede de colaboradores interessados em fazer comunicação de forma independente. Mas não temos assessoria jurídica. Eu sou pessoa física. O dinheiro do meu salário e o banner do Google é que sustentam o blog, o que não dá renda para cobrir os custos. Para avançar, temos que ter financiamento alternativo. Vamos tentar financiamento junto aos leitores.  Buscar parcerias.

 
“Há outras pessoas que trabalharam na emissora que também observaram que a Globo não teve uma cobertura imparcial nas eleições de 2006″. | Foto: Divulgação


Sul21 – Como é passar de ex-funcionário a processado pela Rede Globo?
Luiz Carlos Azenha - Eu fui empregado deles durante muitos anos. Comecei minha carreira na Rede Globo e não faz diferença para mim. Eu poderia ter sido processado por qualquer outra emissora. Não tem ‘sensação’ em relação a isso. Ocorreram fatos e existiu uma disputa judicial porque o diretor Ali Kamel acredita que foi difamado por uma série de posts que eu fiz. Eram posts relacionados a um determinado momento político que eu, como testemunha interna da Globo, observei. Assim como há outras pessoas que trabalharam na emissora que também observaram que a Globo não teve uma cobertura imparcial nas eleições de 2006. Dentre eles Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Melo, Cecília Negrão, Carlos Dorneles e muitos outros que eu não posso citar porque continuam dentro da Globo.

Sul21 – A suposta campanha difamatória que tu fizeste contra o diretor Ali Kamel teve relação com os vídeos exibidos pelo CloacaNews? Qual foi o objeto da tua acusação?
Luiz Carlos Azenha - O que eu acredito que fiz com ele (Ali Kamel) foram críticas políticas relacionadas aquele momento político em que ele atuava, com certeza, como chefe da Globo. Embora ele tenha dito no processo judicial — pelo menos a juíza assim acreditou — que ele era submetido a um Conselho Editorial. Quem está dentro da redação da Globo sabe que as determinações eram sempre dadas por ele, seja direta ou indiretamente.

Sul21 – Além de ti, outros ex-funcionários da Globo, como Rodrigo Vianna e o Marco Aurélio Mello também foram processados pela emissora.
 



 “Existe até um livro que fala em ‘pornopolítica’, nós adotamos o ‘pornojornalimo’ de gozação, que é uma das características da blogosfera”. | Foto: Divulgação

Luiz Carlos Azenha - Foram cinco processos ao mesmo tempo. Além de mim, foram processados o Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello, Luis Nassif e o CloacaNews. O Paulo Henrique Amorim também foi processado, mas creio que por outro motivo. Em todos os processos são citados o episódio da homonímia entre ele e um ator pornô, que de fato existe porque há um filme onde é creditado o nome Ali Kamel. Este vídeo foi divulgado pelo CloacaNews, que é um blog satírico. A partir de então, passamos a fazer piada com o fato adotando o termo ‘pornojornalismo’. Existe até um livro que fala em ‘pornopolítica’, nós adotamos o ‘pornojornalimo’ de gozação, que é uma das características da blogosfera. O Ali Kamel é uma figura importante dentro da Globo. Não podemos dizer que ele não tem importância e por isso nós o estávamos perseguindo. Quem é o meu blog, o Viomundo, para perseguir um homem que tem um poder avassalador? Embora na sentença ele (Ali Kamel) alegue que não seja o diretor da organização de todas as associadas, é óbvio que uma pessoa com relação direta com os patrões de uma grande empresa tem pelo menos poder de influência. Dentro do quadro da Globo, a minha relação com Ali Kamel foi uma relação de poder. Especialmente na editoria de política. Tanto que, quando eu fui cobrir uma denúncia contra caixa 2 envolvendo o PT, em Brasília, todas as decisões partiam dele (Ali Kamel) e eram repassadas a mim por uma mulher. Era uma preposta dele que eu não vou dizer o nome. Eu sei, por ter visto de dentro, que todas as questões políticas eram definidas por ele dentro da redação. Os advogados dele também alegaram que eu fui demitido da Globo e que por esta razão eu teria um acerto de contas para fazer com ele. É mentira. Eu pedi rescisão do contrato antecipada em um ano, abrindo mão de um dinheiro enorme que teria direito, em razão das ações que estavam sendo tomadas ao longo de 2006. Eu considero que houve assédio moral contra a minha pessoa quando um preposto do Ali Kamel me procurou na redação com rádio na mão para que eu assinasse um abaixo-assinado para cobertura da Globo nas eleições de 2006. Isso é assédio moral. É o mesmo que o Palácio do Planalto fazer um abaixo-assinado para que os ministros apoiem a Dilma. Quem irá assinar contra? Eu não assinei o abaixo-assinado. Eu não achei a cobertura das eleições de 2006 imparcial e disse isso ao preposto, que hoje ocupa um cargo importante. Aliás, todos os que assinaram o abaixo-assinado subiram de cargo. Meu argumento foi o comentário do Arnaldo Jabor sobre o Lula ser parecido com o ditador da Coreia do Norte (Kim Jong-il). Eu não considero que o comentarista de uma emissora, quando faz uma comparação destas, sem fazer um comentário sobre qualquer outro adversário equivalente, está sendo imparcial. Ele (preposto de Ali Kamel) disse que não contava considerar este exemplo porque ‘o Arnaldo Jabor é o nosso clown’. Eu acho que vale. As pessoas que estão em casa estão recebendo a informação igual. Embora eu não tenha participado de reuniões como meus ex-colegas da Globo de São Paulo que reclamaram diretamente sobre a parcialidade da emissora, há muitos testemunhos disso. Eu acabei sendo escalado a fazer uma reportagem que seria de ‘reparação’ a este quadro de imparcialidade que estava sendo cobrado internamente. Seria uma matéria para esclarecer uma denúncia atribuída ao governo Lula sobre esquema envolvendo ambulâncias. O que se descobriu mais tarde é que esta máfia foi herdada do governo Fernando Henrique Cardoso. Eu dizia no final da matéria que 70% das ambulâncias distribuídas irregularmente foram distribuídas ainda durante o governo FHC, quando José Serra era ministro da Saúde. Foi uma matéria realizada com o esforço conjunto de colegas e fartos recursos e nunca foi ao ar.

Sul21 – Existem fortes especulações de críticos à Rede Globo, especialmente na blogosfera, de que há uma intimidação sistemática para calar determinadas pessoas contrárias a esta orientação política dentro da emissora.

“Creio que chegou o momento em que os blogueiros têm que produzir seu próprio conteúdo”. | Foto: Divulgação

Luiz Carlos Azenha - Eu entrei na Globo em 1980 quando ocorriam as greves do ABC. A Globo optava em não cobrir estas greves, inclusive nós éramos cobrados quando estávamos nas ruas. Existia uma orientação interna para não cobrir as Diretas também, mas existia uma redação composta por muitas pessoas de esquerda. Isso oxigenava um pouco a emissora. A diferença entre esta Globo dos anos 80 e a Globo de 2006, especialmente a do episódio do Mensalão (Ação Penal 470) para frente, é que houve uma centralização no aquário de um comando ideológico que não havia no passado. E digo que isso não acontece comigo na Record, por exemplo. Eu escrevo e coloco no ar. Pode até causar certa repercussão depois da veiculação. Um grupo de profissionais revisa o conteúdo, mas nunca altera nada. Na Globo, o texto ia e voltava totalmente diferente. Às vezes eu não sabia nem quem tinha mexido. O controle ideológico passou a ser exercido, em minha opinião, de forma muito maior na Globo de São Paulo. Quando eu vim para SP, em 2006, cobri a minha primeira eleição presidencial. Eu acompanhava o candidato Geraldo Alckmin. Eu vi as coisas acontecerem bem de perto. O Rodrigo Mello e o Marco Aurélio saíram de lá enxotados. A violência com que eles lidaram com os profissionais eu não tinha visto em emissora nenhuma.

Sul21 – A blogosfera está crescendo e se consolidando. Existe uma tímida redistribuição das verbas estatais que também contribui para isso. Como tu avalias o conteúdo que é produzido pelos blogs?
Luiz Carlos Azenha - Hoje, a blogosfera tem muito de reprodução de conteúdo alheio. Não concordo em você pegar um artigo da Folha de São Paulo, e aí eu acho que a Folha tem razão de falar que não quer que reproduzam o conteúdo dela, e apenas reproduzir como uma crítica. A Folha de SP, assim como outros grandes veículos, também gasta pra produzir o conteúdo. Eu acho que é uma coisa do passado ficar pegando conteúdo dos outros e dizendo que fez determinada crítica com o conteúdo alheio. Creio que chegou o momento em que os blogueiros têm que produzir seu próprio conteúdo. É o que nós (Viomundo) estamos tentando fazer, apesar de não termos dinheiro. Eu penso que temos que fazer uso da colaboração espontânea de conteúdo na rede. Colaboradores e articulistas nos enviam determinado conteúdo, cientes de que têm no nosso blog um espaço para influenciar a opinião pública também. Temos como dar retorno para eles. Enquanto isso, batalhamos para conseguir uma fonte alternativa de recursos.

Sul21 – O senhor concorda com a ideia de um fundo de financiamento dos custos para a mídia independente?
Luiz Carlos Azenha – Isso surgiu no 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Seria um fundo para defender blogueiros do Brasil inteiro. Os processados e os ameaçados de assassinato. Porque o campo de disputa com a grande imprensa é desigual. E eles nos puxam para dentro do campo jurídico, que é onde somos vulneráveis. É óbvio que o Ali Kamel não quer discutir política comigo. Se ele discutir ele perde porque sabe que eu vi as coisas acontecendo dentro da emissora, eu tenho testemunhas. Ele não quer fazer disso em uma discussão política. Eu tenho os artigos que ele escreveu levantando dúvidas sobre o Bolsa Família, que hoje é um sucesso universal. Na discussão política ele foi derrotado completamente. Então ele leva para o campo da discussão judicial, onde ele é uma pessoa privada, mas conta com o apoio da maior emissora da América Latina. E esta judicialização não acontece só comigo. É um fenômeno que está se propagando contra os formadores de opinião da rede. É a Globo, os prefeitos e políticos em geral que vão para este campo. Tivemos um blogueiro que foi assassinado em São Luís do Maranhão. Existem situações em que você é, por não ter dinheiro, sufocado na justiça. Diante da diferença de poder econômico, o poderoso arrasta você pra dentro do campo em que ele tem vantagem. A judicialização é uma decisão política que tem como objetivo sufocar vozes dissidentes, os processos contra os blogs são decisões políticas com o objetivo de intimidá-los. Se a intenção fosse debater política, poderia ser exigido o direito de resposta.  O direito de resposta tem que existir na legislação brasileira. Isto não é regulamentado porque não é bom para a grande imprensa. Assim, ela faz o que bem entende e passa o rodo em cima de qualquer um. Como fizeram como Genoino [José] que não teve direito de resposta em um programa de televisão (CQC). Como não é lei, não precisam dar o direito de resposta. Quem tem grande vantagem financeira arrasta a disputa política para processos judiciais e para asfixiar a blogosfera. Este é o processo que está em curso no Brasil.

Sul21 – Qual a sua opinião sobre a importância do Marco Regulatório das Comunicações na democratização da mídia?

“Os artigos perduram e podem ressurgir em um link tempo mais tarde. Ou seja, o produto da blogosfera é contínuo”. | Foto: Divulgação

Luiz Carlos Azenha – Neste debate tem um ponto central que distorce o discurso sobre os blogueiros. A grande mídia sempre diz que “o governo está comprando os blogueiros”. Bom, eu não tenho assunto com o governo. Eles se apegam a exemplos de blogueiros mais bem-sucedidos e que estão vendendo espaço comercial, o que é absolutamente legítimo. Entre eles o Luis Nassif e o Paulo Henrique Amorim. Mas o que está acontecendo é que estão percebendo o valor da internet. O jornal escrito é uma coisa estática que não permite a interatividade. A blogosfera responde. E os artigos postados na blogosfera, na rede, não são de publicação única, como os jornais. Eles perduram e podem ressurgir em um link tempo mais tarde. Ou seja, o produto da blogosfera é contínuo. Isso tem muito mais valor do que o produto estático do jornal, que vai servir para embrulhar o peixe depois. Existe uma diferença comercial muito importante que está sendo percebida pelos governos, pela iniciativa privada e isto gera uma ameaça muito grande para o modelo de negócios da imprensa tradicional. Por isso atacam a questão dos financiamentos dos blogs, quando na verdade esses poucos grupos são os que concentram grande parte das verbas publicitárias. Esse debate foi erguido para tentar comprometer a blogosfera. Nós enfrentamos e contrapomos: “querem falar de números, então traz os números para compararmos quantos bilhões o governo federal gasta com quem na comunicação”. Os números reais gastos em publicidade pelo governo federal, na verdade gastos com dinheiro público, significam 80% de investimentos nos grandes grupos de comunicação. Este é outro debate que não interessa para a grande imprensa. Portanto, eles estão sendo atacados no modelo de negócios, no desconforto da revelação da verdade sobre as verbas publicitárias e no questionamento da opinião pública com o novo modelo de comunicação, com o qual eles não estão acostumados. Esses barões da mídia do Brasil, donos dos grandes meios, não estão acostumados a ser questionados. No modelo antigo de jornalismo se reproduzia conteúdo e ninguém rebatia. Eles decidiam se reproduziriam uma carta de resposta ou não. Com o surgimento da blogosfera ficou diferente. Tudo que se escreve pode ser questionado. Se eu disser uma besteira no meu blog, eu sou bombardeado imediatamente. É um modelo de relacionamento com o próprio leitor.


“As grandes empresas de comunicação veem o poder da internet, mas não sabem fazer a internet” | Foto: Divulgação

Sul21 – As grandes empresas de comunicação sabem ocupar a internet? O que pensas sobre a  convivência entre blogueiros e grande imprensa?
Luiz Carlos Azenha - Elas veem o poder da internet, mas não sabem fazer a internet. O que acontece na lógica das grandes empresas, mesmo as de esquerda, é que elas pensam que vão passar para o digital o que está escrito e para o papel que tudo que está no mundo virtual. Ninguém entende nada. A internet é outra coisa. A blogosfera, especificamente, é outra lógica.  É bom lembrar que nós ainda estamos no mundo dominado pela televisão. Todas as ações midiáticas importantes hoje são dominadas pela televisão. As pessoas assistem muitas horas de televisão por dia e estão acostumadas com o discurso de televisão, em que a emoção sobrepõe à razão no Brasil. Na blogosfera também se preserva um pouco esta relação emotiva. Não que você se emocione com o leitor, mas no sentido da aproximação com ele. Você divide muita coisa do seu dia e compartilha coisas pessoais nas redes sociais (Facebook, Twitter). Você recebe críticas, dicas de viagens, troca experiências e informações. A interação da blogosfera permite que você desenvolva com o seu leitor uma relação de ser seguidor. Ninguém é autônomo. São pessoas com grande autonomia intelectual, mas que desenvolvem entre elas um campo de entendimento, isso é a blogosfera. Essa lógica não está na cabeça dos patrões, porque é uma lógica horizontal. A lógica deles é hierarquizada e vertical. Na blogosfera, você não vale pelo seu sobrenome, ninguém se interessa muito por quem você é, mas pelo que você diz. As pessoas são julgadas na internet pela qualidade das suas argumentações. Não importa se você é Roberto Marinho ou Ali Kamel. Se o argumento é fraco, o cara é detonado. Pode ser o dono do blog, quem quer que seja. Isso é outra coisa que as grandes empresas também não perceberam. Na verdade, não é apenas não perceber, elas não podem sobreviver sem a linha vertical. As empresas de mídia cresceram muito e se associaram a outros negócios. A verticalização e o controle ideológico são muito necessários para preservar estes outros negócios. Por exemplo, a Globo faz parte da associação do agronegócio. Ela tem negócios de alguma forma relacionados com o agronegócio. E o mundo neoliberal tem grandes interesses econômicos. As grandes empresas de comunicação deixaram de ser a mídia apenas no sentido de fazer a mediação entre as pessoas. E esse modelo vertical de controle hierarquizado é o que permite ter o chamado pensamento único. Ele é necessário dentro da redação. Não pode haver distensão. Eu diria que a margem pra distensão foi diminuída muito. Porque se eu tenho controle ideológico, a mensagem tem que ser muito parecida. Essa é a lógica, por isso que existe um confronto ideológico tão forte quando se fala de blogosfera e de grandes empresas.


“Na hora da eleição, correm para a blogosfera. Acabou a eleição, correm para a Globo.  Isso é assim há muito tempo”. | Foto: Sebrae

Sul21 – A questão do acesso à internet ainda é um desafio no Brasil. Até que ponto a blogosfera alcança a opinião pública?
Luiz Carlos Azenha – Creio que tem um bom alcance. As pessoas enviam conteúdo de graça para postagem no meu blog, por exemplo, creio que por imaginarem que terá repercussão. Mais do que a Folha de São Paulo, que é um jornal estático. A internet anda por meio das redes sociais. Um bom conteúdo no meu blog chega a 15 mil compartilhamentos. Se você for considerar que cada compartilhamento significa que uma pessoa dividiu com um grupo de amigos, você pode colocar que pelo menos 100 mil pessoas estarão sabendo daquela informação. Nem que seja metade disso, uns 50 mil, já será muito mais que um artigo em jornal. Na internet é muito mais compartilhado e isso determina a audiência.

Sul21 – A expectativa era de que um governo de esquerda pudesse avançar para um Marco Regulatório. Segundo o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Cesar Alvarez, o governo não discutirá isso antes das eleições de 2014. Tu tens uma opinião sobre o motivo pelo qual o PT não enfrenta este tema?
Luiz Carlos Azenha - Eu creio que existe uma disputa interna no governo. Mas eu estou dando uma opinião. Não tenho amigos no governo ou um deputado de bolso. Pela minha leitura política há uma divergência forte dentro do governo em relação a isso. Acho que existe uma confusão criada deliberadamente pela grande mídia.  O debate no Brasil, em minha opinião, é o que a maioria dos militantes nessa área defende que é ampliar a diversidade cultural prevista na Constituição Federal. Para isso, tem que ter um órgão de comunicação local que anuncie as atrações regionais. O que temos é serviço de mídias regionais com divulgação para pouco alcance e com grande dificuldade e a Globo, e outras emissoras maiores, ditando que todo domingo tem que assistir Domingão do Faustão. Ou seja, há uma centralização da comunicação e da cultura nos principais centros do país e sempre dentro dos monopólios da comunicação. A política do governo federal deveria estimular em todos os campos a diversidade. Porque quando você estimula o a diversidade, estimula o debate político, e encontra outros caminhos, alternativas. 

Acontece que o neoliberalismo não admite alternativas, especialmente em um momento como esse, de crise. Ele precisa de acumulação de capital a qualquer custo, precisa de consenso. Qual consenso permite a acumulação de capital na Europa, por exemplo, no momento em que eles estão tirando os direitos judiciais das pessoas para permitir que se salvem os grandes bancos? É um consenso forçado, principalmente pela mídia. Não é por acaso que os grandes portais hoje divulgam notícias de senso comum ou sobre o BBB (Big Brother Brasil). Você não discute os assuntos essenciais. Os assuntos essenciais, que dizem respeito à vida, às pessoas e ao país, não são discutidos. Para essa mídia não interessa discutir, interessa o BBB, o cabelo da Fátima Bernardes, que a Ana Paula Padrão saiu da Record porque brigou, ou seja, fofoca. E aí você tem fofoca de tudo, a cobertura política é cobertura de fofoca. “Será que a Dilma brigou com o Lula?”, isso não interessa. O que interessa é a política. Creio que não houve os avanços necessários (Marco Regulatório) porque, de certa forma, o PT foi contaminado por essa política do neoliberalismo também. O movimento neoliberal avançou sobre parte significativa do PT, que quer preservar seu poder político. Estão mais preocupados com o resultado da eleição do que com a política pública. O Brasil sempre foi um país assim, um país da chamada modernização conservadora, em que existe certo consenso entre elites. Então eu penso que agora, nesse momento específico, embora haja uma disputa política que aparece na mídia, existe certo consenso de que o modelo de comunicação do jeito que está, está bom. Mas… na hora da eleição correm para a blogosfera. Acabou a eleição, correm para a Globo.  Isso é assim há muito tempo.
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