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10/04/2013
A gritaria pela alta dos juros
Por Carlos Lopes, no jornal Hora do Povo:
Com a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom)
marcada para a terça e a quarta-feira da próxima semana, os moedeiros
falsos da mídia - e de outros covis - aumentaram a grita pela alta dos
juros.
Evidentemente, o motivo para essa grita nada tem a ver com a inflação. O motivo para aumentar juros é, naturalmente, aumentar os juros. Ou seja, aumentar os ganhos parasitários – os ganhos com juros – às custas dos lucros setor produtivo, dos salários, do Tesouro e do Estado. Em suma, aumentar os ganhos de bancos e demais especuladores, sobretudo os externos, às custas de toda a sociedade.
Não é sem consequências que temos, dentro do país, segundo o último relatório sobre o setor externo do Banco Central (BC), um estoque de US$ 640,41 bilhões em aplicações estrangeiras meramente especulativas, além da atividade especulativa das empresas de propriedade estrangeira, cujo estoque é maior ainda: US$ 724,34 bilhões em “investimentos diretos” (valores de fevereiro).
Evidentemente, os sujeitos por trás dessa massa de 1 trilhão e 364 bilhões de dólares, que opera internamente fantasiada de reais, estão loucos para que os juros aumentem.
Ou, olhando o mesmo problema por um ângulo diferente: segundo o Tesouro Nacional, em seu Relatório Mensal da Dívida Pública Federal de fevereiro, nada menos que 70,91% dos títulos federais lançados no mercado estão na mão de bancos, entidades controladas por bancos ou “não-residentes” no país. O que quer dizer que eles estão com R$ 1 trilhão e 321 bilhões em títulos públicos federais.
Basicamente, os detentores privados de títulos públicos federais são:
I) “instituições financeiras”: R$ 510,32 bilhões (27,38%);
II) “fundos de investimento”: R$ 468,63 bilhões (25,14%);
III) “não-residentes”: R$ 266,61 bilhões (14,30%);
IV) “seguradoras”: R$ 76,22 (4,09%).
Evidentemente, esses “detentores de títulos federais”, que, em grande medida, são os mesmos que vimos no estoque especulativo estrangeiro, estão sequiosos por um aumento de juros. Até porque, o custo mensal para o Tesouro da DPMFi (Dívida Pública Mobiliária Federal interna - a dívida federal em títulos dentro do país) caiu de 13,34% ao ano, em abril de 2011, para 11,87%, em fevereiro de 2013. Se o Tesouro está gastando menos para “custear” a dívida, evidentemente, seus detentores estão ganhando menos, ainda que seja muito – mas eles não se contentam com nada menos do que o máximo.
Assim, só almas ingênuas – por exemplo, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo - podem acreditar na motivação supostamente “anti-inflacionária” da grita pelo aumento de juros (ou na suposta necessidade, ainda que temporária, de aumentar os juros para, também supostamente, “combater a disseminação da inflação” - no fundo, é a mesma coisa acreditar numa ou noutra).
Evidentemente, aumentar juros significa, em primeiro lugar, diminuir a capacidade do governo de realizar investimentos públicos, pois é óbvio que quanto mais dinheiro o Estado gastar com juros, menos investimentos poderá realizar. Segundo, significa diminuir os salários. Terceiro, tirar lucros das empresas produtivas. Quarto, significa aumentar a desindustrialização do país, pelo efeito que o aumento de juros teria no câmbio, o que rebaixaria os preços das importações e aumentaria os preços dos produtos fabricados no país.
Em resumo, aumentar os juros significaria jogar o crescimento, que já é quase zero, para os insondáveis abismos da recessão e da depressão.
A rigor, aumentar juros significa tirar dinheiro de toda a coletividade para dá-lo a alguns poucos parasitas: no Brasil, apenas quatro bancos privados – dois estrangeiros – mandam no cartel financeiro.
Certamente, a existência de uma rede de bancos públicos faz com que o poder desse cartel possa ser bastante minimizado – exceto pelo servilismo de alguns aos monopólios financeiros externos, que, em geral, se expressa no aumento dos juros.
Os corifeus dos juros altos, talvez por enfrentarem uma resistência muito maior do que esperavam, foram obrigados, nos últimos dias, a expor sua indigência, reacionarismo alucinado - e ódio pelo país. O mais leve que se pode dizer deles é que são uma destrambelhada advocacia administrativa bancária. Ou seja, querem apresentar como interesse público aquilo que é o interesse mesquinho de bancos que nem chegam a meia dúzia.
Em suma, para esses anormais, o problema do Brasil é “excesso de consumo” (sic). Logo, o povo está comendo demais – pois a “inflação” que apontam é sobretudo nos alimentos. E a culpa é do salário mínimo, que, maldito seja o Lula, aumentou demais.
Olha só que gracinha, leitor, esses trechos, extraídos de uma matéria publicada por um “jornal econômico”, na última segunda-feira: “o salário mínimo [é] outro importante farol para reajustes, principalmente no setor de serviços , cujos preços saltaram 8,6% nos 12 meses encerrados em fevereiro (…) A regra brasileira, que corrige o mínimo pela inflação do ano anterior e a alta do PIB de dois anos atrás (…) vai em sentido contrário ao observado em economias desenvolvidas, que geralmente reajustam seus pisos salariais com base em projeções para a inflação futura. (…) a regra de indexação mais nociva existente é a do salário mínimo”.
Acontece que “reajustar pisos salariais com base em projeções para a inflação futura” significa esquecer as perdas devidas à inflação entre um reajuste e outro – ou, para ser mais claro ainda, significa reduzir o salário real, já que essas perdas não serão repostas.
Por isso, o ex-ministro Delfim Netto declarou que “a empregada doméstica virou manicure ou foi trabalhar num call center. Agora, ela toma banho com sabonete Dove. A proposta desses ‘gênios’ é fazer com que ela volte a usar sabão de coco, aumentando os juros” (O Globo, 24/03/2013).
Alguns desses “gênios” são entrevistados nessa mesma reportagem – um deles, para dizer que “a saída é frear a economia. É demitir mesmo”. Outro, para declarar que “não dá para fazer omeletes sem quebrar os ovos”. Os dois foram, ou são, “economistas-chefe” de bancos privados, inclusive estrangeiros, depois de terem sido diretores do Banco Central.
O país cresceu 0,9% no ano passado. Mas os “gênios” querem “frear a economia”, “demitir”, “quebrar os ovos” - e, provavelmente, mandar a reeleição da presidente Dilma para o espaço.
Evidentemente, o motivo para essa grita nada tem a ver com a inflação. O motivo para aumentar juros é, naturalmente, aumentar os juros. Ou seja, aumentar os ganhos parasitários – os ganhos com juros – às custas dos lucros setor produtivo, dos salários, do Tesouro e do Estado. Em suma, aumentar os ganhos de bancos e demais especuladores, sobretudo os externos, às custas de toda a sociedade.
Não é sem consequências que temos, dentro do país, segundo o último relatório sobre o setor externo do Banco Central (BC), um estoque de US$ 640,41 bilhões em aplicações estrangeiras meramente especulativas, além da atividade especulativa das empresas de propriedade estrangeira, cujo estoque é maior ainda: US$ 724,34 bilhões em “investimentos diretos” (valores de fevereiro).
Evidentemente, os sujeitos por trás dessa massa de 1 trilhão e 364 bilhões de dólares, que opera internamente fantasiada de reais, estão loucos para que os juros aumentem.
Ou, olhando o mesmo problema por um ângulo diferente: segundo o Tesouro Nacional, em seu Relatório Mensal da Dívida Pública Federal de fevereiro, nada menos que 70,91% dos títulos federais lançados no mercado estão na mão de bancos, entidades controladas por bancos ou “não-residentes” no país. O que quer dizer que eles estão com R$ 1 trilhão e 321 bilhões em títulos públicos federais.
Basicamente, os detentores privados de títulos públicos federais são:
I) “instituições financeiras”: R$ 510,32 bilhões (27,38%);
II) “fundos de investimento”: R$ 468,63 bilhões (25,14%);
III) “não-residentes”: R$ 266,61 bilhões (14,30%);
IV) “seguradoras”: R$ 76,22 (4,09%).
Evidentemente, esses “detentores de títulos federais”, que, em grande medida, são os mesmos que vimos no estoque especulativo estrangeiro, estão sequiosos por um aumento de juros. Até porque, o custo mensal para o Tesouro da DPMFi (Dívida Pública Mobiliária Federal interna - a dívida federal em títulos dentro do país) caiu de 13,34% ao ano, em abril de 2011, para 11,87%, em fevereiro de 2013. Se o Tesouro está gastando menos para “custear” a dívida, evidentemente, seus detentores estão ganhando menos, ainda que seja muito – mas eles não se contentam com nada menos do que o máximo.
Assim, só almas ingênuas – por exemplo, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo - podem acreditar na motivação supostamente “anti-inflacionária” da grita pelo aumento de juros (ou na suposta necessidade, ainda que temporária, de aumentar os juros para, também supostamente, “combater a disseminação da inflação” - no fundo, é a mesma coisa acreditar numa ou noutra).
Evidentemente, aumentar juros significa, em primeiro lugar, diminuir a capacidade do governo de realizar investimentos públicos, pois é óbvio que quanto mais dinheiro o Estado gastar com juros, menos investimentos poderá realizar. Segundo, significa diminuir os salários. Terceiro, tirar lucros das empresas produtivas. Quarto, significa aumentar a desindustrialização do país, pelo efeito que o aumento de juros teria no câmbio, o que rebaixaria os preços das importações e aumentaria os preços dos produtos fabricados no país.
Em resumo, aumentar os juros significaria jogar o crescimento, que já é quase zero, para os insondáveis abismos da recessão e da depressão.
A rigor, aumentar juros significa tirar dinheiro de toda a coletividade para dá-lo a alguns poucos parasitas: no Brasil, apenas quatro bancos privados – dois estrangeiros – mandam no cartel financeiro.
Certamente, a existência de uma rede de bancos públicos faz com que o poder desse cartel possa ser bastante minimizado – exceto pelo servilismo de alguns aos monopólios financeiros externos, que, em geral, se expressa no aumento dos juros.
Os corifeus dos juros altos, talvez por enfrentarem uma resistência muito maior do que esperavam, foram obrigados, nos últimos dias, a expor sua indigência, reacionarismo alucinado - e ódio pelo país. O mais leve que se pode dizer deles é que são uma destrambelhada advocacia administrativa bancária. Ou seja, querem apresentar como interesse público aquilo que é o interesse mesquinho de bancos que nem chegam a meia dúzia.
Em suma, para esses anormais, o problema do Brasil é “excesso de consumo” (sic). Logo, o povo está comendo demais – pois a “inflação” que apontam é sobretudo nos alimentos. E a culpa é do salário mínimo, que, maldito seja o Lula, aumentou demais.
Olha só que gracinha, leitor, esses trechos, extraídos de uma matéria publicada por um “jornal econômico”, na última segunda-feira: “o salário mínimo [é] outro importante farol para reajustes, principalmente no setor de serviços , cujos preços saltaram 8,6% nos 12 meses encerrados em fevereiro (…) A regra brasileira, que corrige o mínimo pela inflação do ano anterior e a alta do PIB de dois anos atrás (…) vai em sentido contrário ao observado em economias desenvolvidas, que geralmente reajustam seus pisos salariais com base em projeções para a inflação futura. (…) a regra de indexação mais nociva existente é a do salário mínimo”.
Acontece que “reajustar pisos salariais com base em projeções para a inflação futura” significa esquecer as perdas devidas à inflação entre um reajuste e outro – ou, para ser mais claro ainda, significa reduzir o salário real, já que essas perdas não serão repostas.
Por isso, o ex-ministro Delfim Netto declarou que “a empregada doméstica virou manicure ou foi trabalhar num call center. Agora, ela toma banho com sabonete Dove. A proposta desses ‘gênios’ é fazer com que ela volte a usar sabão de coco, aumentando os juros” (O Globo, 24/03/2013).
Alguns desses “gênios” são entrevistados nessa mesma reportagem – um deles, para dizer que “a saída é frear a economia. É demitir mesmo”. Outro, para declarar que “não dá para fazer omeletes sem quebrar os ovos”. Os dois foram, ou são, “economistas-chefe” de bancos privados, inclusive estrangeiros, depois de terem sido diretores do Banco Central.
O país cresceu 0,9% no ano passado. Mas os “gênios” querem “frear a economia”, “demitir”, “quebrar os ovos” - e, provavelmente, mandar a reeleição da presidente Dilma para o espaço.
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