segunda-feira, 15 de abril de 2013

Contraponto 10.926 - "Pensamento único: Dilma e a volta do dragão da inflação"

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15/04/2013

 

Pensamento único: Dilma e a volta do dragão da inflação



Do Viomundo - publicado em 15 de abril de 2013 às 20:44






por Luiz Carlos Azenha




Não entendo de economia, mas de mídia tenho alguns anos de estrada.
Exemplo acabado da manifestação do pensamento único: página 2 da Folha de S. Paulo, 15.04.2013.




Colunista Um da Folha:

De cada 100 brasileiros aptos a comparecer às urnas em outubro do ano que vem, 40 tinham menos de 16 anos ou nem haviam nascido quando o Plano Real liquidou a superinflação. Para essa fatia do eleitorado, é fraca a memória de preços galopantes, corridas aos supermercados no dia do pagamento e estresse cotidiano com o valor do dinheiro no banco.
Aécio Neves, candidato presidencial do PSDB, em sua coluna na mesma página:

O PT sempre foi permissivo com a inflação. Basta lembrar que se posicionou contra o Plano Real, instrumento que derrotou a inflação e fez o país entrar numa era de prosperidade*. Os mais jovens não conheceram os dias difíceis vividos pela geração de seus pais e avós nos anos 80 e 90, quando os preços mudavam todos os dias nos supermercados e alcançavam a estratosfera.
Colunista Dois da Folha, na mesma página:

Trágico, porém, é notar que o governo descobriu, tardiamente, que uma inflação girando na casa de 6% durante tanto tempo criou resistência para sua queda. E gera um risco de reindexação da economia. Parece ter acordado apenas depois que a inflação alta caiu na boca do povo**. Deixou de ser um debate entre economistas e passou a fazer parte do cotidiano dos eleitores. Nada pior às vésperas de uma eleição presidencial.
Aécio Neves, candidato presidencial do PSDB, na mesma página:

A alimentação no domicílio saltou cerca de 14% em 12 meses. O bom humor dos brasileiros fez a disparada do preço do tomate virar piada nacional. Mas podia ser a farinha da mandioca, que teve crescimento de 151% em um ano***. O impacto é maior entre as famílias mais pobres. Elas gastam do seu orçamento com comida e bebida bem mais que as famílias mais ricas.

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O que eu, Azenha, quero dizer é óbvio: ninguém iria notar se trocassemos de lugar as colunas da Folha ou alterassemos as assinaturas dos colunistas.

A ideia é a mesma: o PT e Dilma Rousseff vão pagar caro se não combaterem duramente a inflação via aumento dos juros.

Pregam, aparentemente, uma freada de arrumação na economia, faltando pouco mais de um ano para a eleição presidencial.

Falam, como sempre, em nome dos mais pobres, dos mais “sacrificados” pela inflação.
Ninguém se dá ao trabalho, como o bom jornalismo pede, de ao menos se perguntar: Há outra maneira de enfrentar o problema que não com aumento de juros? O que mudou na economia brasileira e, portanto, nas receitas do combate à inflação, desde que o Plano Real foi adotado? Os brasileiros estão dispostos a conviver com uma inflação ao redor dos 6% se isso não prejudicar o crescimento econômico? Pobre prefere perder com a inflação ou com o desemprego?

Eu, que nada entendo de economia, acho fascinante a “coincidência” entre o discurso de um candidato à presidência da República pelo PSDB e dois colunistas da Folha, praticamente no mesmo espaço.

Dias atrás, ouvindo a rádio CBN, testemunhei uma conversa entre Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg na qual ambos falavam sobre… a inevitabilidade de um aumento na taxa de juros para combater a inflação galopante.

Um deles avançou ao ponto de dizer que, a essa altura, um aumento na taxa de juros deixaria claro o fracasso da política econômica do governo Dilma, que em parte se baseou… na queda da taxa de juros, vendida aos eleitores e à população em geral como um estímulo ao bem estar do País.

Ou seja, se os juros subirem e houver uma freada econômica, Dilma será castigada pelo crescimento anêmico; se os juros ficarem na mesma e a inflação idem, será castigada por permitir a volta do dragão, por pisar no tomate e outros males dos quais, como admitiram tanto o colunista da Folha quanto o candidato do PSDB, boa parte dos eleitores nem se lembra mais. Neste caso, podem contar com aquela reportagem clássica do Jornal Nacional trazendo de volta as máquinas de remarcação de preços e os fiscais do Sarney.

O certo é que, quando José Dirceu acreditava ter uma TV “sua”, a Globo, cometeu um erro que hoje pode ser atribuído à esmagadora maioria do PT. A grande mídia aliada dos tucanos e financiada fartamente pelos governos petistas pauta os debates nacionais, empareda o governo, promove ou exagera crises (depois do inevitável apagão, veio a crise do tomate) e deixa os governos trabalhistas eternamente na defensiva.

Promover a diversidade de conteúdos é muito mais que garantir uma eventual vitória eleitoral. É razão de Estado na defesa de uma democracia que vá além do que pregam, em uníssono, colunistas tucanos e tucanos colunistas.

*A prosperidade citada por Aécio foi tanta que FHC, no segundo mandato, entregou o Brasil ao FMI.

**Também, como a inflação não cairia na boca do povo depois daquele show da Ana Maria Braga?

*** Vem aí a crise da tapioca.

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Jorge Vianna: “Há uma campanha em curso para os juros subirem”

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