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19/06/2013
O dia em que uma equipe da Globo quase apanhou
18 de junho de 2013
Nosso colunista testemunhou uma cena que não passará na TV.
A repórter Valéria Almeida é impedida de trabalhar (foto de Mauro Donato)
Quando fui para o Largo da Batata na tarde de ontem, foi com o
objetivo de observar a postura de partidos políticos e o Movimento Passe
Livre. Para mim estava claro que, diferentemente dos outros dias, o pau
iria comer entre eles e não entre manifestantes e polícia. A briga
seria “interna” pois todos desejariam tomar conta do protesto. De fato
houve momentos de tensão na saída da passeata com perdigotos voando
entre faces exaltadas pedindo o apartidarismo e que se abaixassem as
bandeiras.Mas outros confrontos iam brotando e estava difícil mover-se rapidamente até eles para averiguar de que se tratavam pois a multidão era maciça.
Ao me aproximar do local onde havia ocorrido uma gritaria, soube que era contra a TV Globo e Caco Barcellos havia acabado de ser expulso.
A passeata começava a se mover lentamente em direção à Avenida Faria Lima.
Pouco depois, uma outra equipe do “Profissão Repórter”, da mesma Globo e do mesmo Caco Barcellos, tentou dar sequência ao trabalho. Novamente foram cercados e impedidos de gravar. Ali percebi que a Globo não teria vida fácil naquele dia. A repórter Valéria Almeida e seu cinegrafista estavam espremidos, mudos. Ela parecia calma e demonstrava coragem, mas não quis falar comigo. Seu cinegrafista quase provocou uma confusão ao filmar as pessoas que os rodeavam. Foi uma atitude de afronta muito arriscada e a turma do deixa-disso entrou em ação.
Fui seguindo a massa que não sabia aonde ia (e a todo instante me perguntavam se eu sabia para onde estávamos indo). Imaginei subirmos para a Paulista. Nada, continuamos no sentido sul.
Quando entrei na Av. Berrini, subentendi o recado. “Estamos indo para a Globo”, pensei. Imaginei que ali o caldo fosse engrossar, com alguma perspectiva de balbúrdia. No caminho, um ponto de taxi possuía uma pequena TV. Estava sintonizada na Globo e foi por ali que muitos manifestantes souberam que uma parte havia subido para a Paulista. Muitos ficaram confusos. Nós não sabíamos quem estávamos seguindo nem para onde estávamos indo.
A poucos metros da emissora, a repórter Isis Cerchiari, apesar da impressionante beleza, passou despercebida pelos manifestantes. Portava microfone sem identificação e interrompia a gravação a cada vez que a massa parecia mais arisca.
E então, paradoxalmente, todos passaram direto em frente a Globo. No máximo palavras de ordem. Por que não pararam ali?
Cheguei em casa à meia-noite já sabendo que o protesto em frente ao Palácio dos Bandeirantes começava a ter consequências mais imprevisíveis. Naquele momento a emissora exibia um filme dos estúdios Disney. Como se explica isso?
A Globo ignorou a campanha pelas Diretas até onde deu. Depois disso ajudou a criar o fantoche Collor e prejudicou Lula na edição dos debates. Hoje, como o PT é situação, esconde as vaias que a presidente Dilma levou no Mané Garrincha. Tratou com desdém e chamou de vândalos os manifestantes dos primeiros protestos do Passe Livre para na noite de ontem Patrícia Poeta ler em editorial do Jornal Nacional: “A TV Globo vem fazendo reportagens sobre as manifestaçoes desde o seu início, sem nada esconder: os excessos da polícia, as reivindicações do Movimento Passe Livre, o caráter pacífico dos protestos e, quando houve, depredações e destruição de ônibus. É nossa obrigação não nos afastarmos. O direito de protestar e se manifestar pacificamente é um direito dos cidadãos”. Conta outra.
Agora a emissora sempre reforça os termos “pacífica” ao lado de “manifestação” e “minoria” para acompanhar imagens de quebra-quebra. Na tarde e noite de ontem, novamente a emissora entrou na carona popular como fez em todas as outras oportunidades. Só quando não tinha mais volta. Isso não muda?
Acompanhando os gritos de “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”, vendo o JN precisar dar uma satisfação, vendo Arnaldo Jabor pedir desculpas podemos ter a impressão de que acordaram.
Hoje cedo soube da violência dos protestos no Rio de Janeiro ao tomar café na padaria. Em qual canal estava a TV?
Faça um teste: vá a padarias, restaurantes e bares que possuam essas TVs enormes penduradas e verifique se não estão sintonizadas na Globo. Enfim, o povo a odeia, mas não deixa de vê-la.
Mesmo com toda a antipatia que ela provoca, parece estar no piloto automático das pessoas sintonizar e assistir à Globo. Isso é incompreensível e, para mim, preocupante.
A passividade mórbida diante da Globo cria uma massa facilmente manobrável e vulnerável para comprar “salvadores da pátria”.
Foi um momento de insatisfação generalizada como a que vemos hoje o que ocorreu nos anos 80. Resta saber se isso ajudará a criar um novo Collor. Vade retro.
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