JornalGGN dom, 08/12/2013 - 06:00
- Atualizado em 08/12/2013 - 07:38
Desde tempos imemoriais, o avanço da
civilização se faz através de processos sucessivos de emancipação de
pessoas, do trabalho árduo de reconhecimento de direitos, de busca da
igualdade, de considerar todas as pessoas portadoras dos mesmos
direitos.
Não é tarefa fácil. É disponível apenas àqueles que têm o sentimento do mundo.
Ao longo da história, o poder dos nobres
foi derrubado com sangue; lutas abolicionistas, com guerras; guerras
libertadoras, com mortes.
Quando se pensava que a ciência seria
dominante, o século 20 abrigou duas guerras mundiais, holocaustos de
judeus, de armênios, bósnios, de populações africanas dizimadas pela
guerra e pela fome, pelos Gulags e pelo macarthismo. E, para grande
parte deles, a justificativa foram as razões de Estado, o interesse
nacional, ou algo circunstancial, de afirmação de poder.
***
Na era da comunicação de massa,
interesses de Estado ou mero oportunismo político levaram à exploração
das piores caraterísticas humanas. O século 20 testemunhou a
intolerância contra os negros, os homossexuais, os deficientes, as
mulheres, os analfabetos.
Mas reservou espaço, na história, para
os pacificadores, os Estadistas da paz, que conseguiram fazer a
transição do regime selvagem para o civilizado, sem derramar sangue.
***
Não os imagine dúbios ou pusilânimes.
Na infância, superaram as barreiras da
mortalidade infantil, do analfabetismo familiar, da miséria. No início
da vida adulta, esfolaram-se em trabalhos braçais
Gradativamente, superaram os obstáculos
produzidos pela pobreza e pelo preconceito e, ao primeiro contato com o
mundo das ideias políticas, tornaram-se ativistas, lutaram contra
ditaduras. E, quando chegou sua vez de governar, conseguiram superar
paixões e ódios
***
É nos momentos em que empalmam o poder, que se identificam os verdadeiramente estadistas.
Tiveram que engolir os traumas
anteriores, sufocar sede de vingança, deixar de lado pruridos possíveis
apenas nos que buscam a comodidade da crítica sem resultados, e enfiar o
pé no barro.
***
Em cada luta civilizatória, desses
estadistas da paz, a transição passou pelos pactos com as forças
dominantes, pela institucionalização dos direitos, em vez de empurrá-los
goela abaixo do preconceito. Passou por administrar os ímpetos dos
seguidores e o ódio dos adversários, sem recorrer à violência e ao poder
de Estado.
Tiveram que ler desaforos de uma
imprensa defensora do “apartheid” que diuturnamente estimulava o ódio, a
intolerância, o preconceito, que recorria a toda sorte de denúncias
para impedir os avanços sociais, ainda que o preço a ser pago pudesse
ser uma guerra civil.
No caso de Mandela, o agente o ódio foi o grupo Naspers, sócio da Editora Abril.
***
Sempre haverá os puristas de gabinete,
afirmando que a moderação teria impedido avanços maiores. Sempre haverá
os catões condenando concessões que permitiram chegar ao concerto
nacional. Sempre haverá os que deplorarão as vitórias, pela fé
impenitente de que nada avança nem avançará sem o rastilho de uma
revolução que nunca virá.
Mas são esses Estadistas, com a
perspectiva dos visionários, com o senso prático dos vitoriosos, que
comandam os avanços civilizatórios.
Quando morrem, não são pranteados: são celebrados como conquistas eternas da humanidade.
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