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08/12/2013

A razão de Mandela ter entrado para a história

 
 
 
Desde tempos imemoriais, o avanço da civilização se faz através de processos sucessivos de emancipação  de pessoas, do trabalho árduo de reconhecimento de direitos, de busca da igualdade, de considerar todas as pessoas portadoras dos mesmos direitos.

Não é tarefa fácil. É disponível apenas àqueles que têm o sentimento do mundo.
Ao longo da história, o poder dos nobres foi derrubado com sangue; lutas abolicionistas, com guerras; guerras libertadoras, com mortes.

Quando se pensava que a ciência seria dominante, o século 20 abrigou duas guerras mundiais, holocaustos de judeus, de armênios, bósnios, de populações africanas dizimadas pela guerra e pela fome, pelos Gulags e pelo macarthismo. E, para grande parte deles, a justificativa foram as razões de Estado, o interesse nacional, ou algo circunstancial, de afirmação de poder.

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Na era da comunicação de massa, interesses de Estado ou mero oportunismo político levaram à exploração das piores caraterísticas humanas. O século 20 testemunhou a intolerância contra os negros, os homossexuais, os deficientes, as mulheres, os analfabetos.
Mas reservou espaço, na história, para os pacificadores, os Estadistas da paz, que conseguiram fazer a transição do regime selvagem para o civilizado, sem derramar sangue.

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Não os imagine dúbios ou pusilânimes.
Na infância, superaram as barreiras da mortalidade infantil, do analfabetismo familiar, da miséria. No início da vida adulta, esfolaram-se em trabalhos braçais
Gradativamente, superaram os obstáculos produzidos pela pobreza e pelo preconceito e, ao primeiro contato com o mundo das ideias políticas, tornaram-se ativistas, lutaram contra ditaduras. E, quando chegou sua vez de governar, conseguiram superar paixões e ódios

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É nos momentos em que empalmam o poder, que se identificam os verdadeiramente estadistas.
Tiveram que engolir os traumas anteriores, sufocar sede de vingança, deixar de lado pruridos possíveis apenas nos que buscam a comodidade da crítica sem resultados, e enfiar o pé no barro.

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Em cada luta civilizatória, desses estadistas da paz, a transição passou pelos pactos com as forças dominantes, pela institucionalização dos direitos, em vez de empurrá-los goela abaixo do preconceito. Passou por administrar os ímpetos dos seguidores e o ódio dos adversários, sem recorrer à violência e ao poder de Estado.
Tiveram que ler desaforos de uma imprensa defensora do “apartheid” que diuturnamente estimulava o ódio, a intolerância, o preconceito, que recorria a toda sorte de denúncias para impedir os avanços sociais, ainda que o preço a ser pago pudesse ser uma guerra civil.
No caso de Mandela, o agente o ódio foi o grupo Naspers, sócio da Editora Abril.

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Sempre haverá os puristas de gabinete, afirmando que a moderação teria impedido avanços maiores. Sempre haverá os catões condenando concessões que permitiram chegar ao concerto nacional. Sempre haverá os que deplorarão as vitórias, pela fé impenitente de que nada avança nem avançará sem o rastilho de uma revolução que nunca virá.
Mas são esses Estadistas, com a perspectiva dos visionários, com o senso prático dos vitoriosos, que comandam os avanços civilizatórios.
Quando morrem, não são pranteados: são celebrados como conquistas eternas da humanidade.

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