por Tereza Cruvinel
Em vez de afastamento, Lula defendeu a dedicação exclusiva do ministro à cordenação das ações de governo
A versão de que o ex-presidente Lula
sugeriu à presidente Dilma a substituição do ministro Aloizio
Mercadante na chefia da Casa Civil foi desmentida pelos dois. Mercadante
foi mesmo um dos temas da conversa mas em contexto diverso do que foi
difundido, garantem pessoas próximas do ex-presidente.
Ele aconselhou Dilma a fazer mais
política, procurando restaurar a coalizão governista no Congresso,
reaproximar-se do PMDB e fortalecer a coordenação política do governo.
Na crise de 2005 ele ampliou a coalizão, nela incluindo formalmente o
PMDB, e reformou o ministério para expressar a nova composição da
aliança. Crise se vence fazendo política, teria insistido ele, mas
também governando, produzindo fatos perceptíveis pela população e que
disputem a agenda nacional com o noticiário negativo dos escândalos.
Para isso, as ações do conjunto do governo exigem uma fina e dedicada
coordenação.
Neste sentido foi que defendeu a
dedicação exclusiva de Mercadante à coordenação de governo através da
Casa Civil, o que já é um trabalho monumental, e para o qual acha que o
ministro tem os atributos necessários. Mercadante, teria dito ainda,
precisa ser para Dilma o que Dilma foi para Lula no segundo mandato.
Para isso, terá que deixar a coordenação política para o ministro Pepe
Vargas e o núcleo que agora será ampliado por Dilma. A chamada
coordenação política passará a contar também com Eliseu Padilha (PMDB),
Aldo Rebelo (PC do B) e Gilberto Kassab (PSD), além de Pepe, Mercadante,
Jacques Wagner, Ricardo Berzoini e Miguel Rossetto.
O aprofundamento da Operação Lava
Jato e o lançamento das primeiras medidas do ajuste fiscal atropelaram o
governo em seu primeiro mês do segundo mandato de Dilma. Em fevereiro
agravaram-se os problemas com o PMDB em função da disputa pela
presidência da Câmara. A lista Janot fez o resto. E com isso, o
preenchimento dos cargos de primeiro e segundo escalão foi paralisado.
Este é um exemplo, dado por Lula a interlocutores, de tarefas de governo
que precisam avançar. Há problemas pontuais também exigindo atenção,
como as mudanças nas regras do FIES, que têm levado estudantes a dormir
na porta da CEF para garantir acesso ao financiamento dos estudos
superiores.
Afora isso, Lula não gostou mesmo do
pronunciamento de domingo passado, que considerou muito técnico, longo e
pouco objetivo na explicação do ajuste fiscal e de onde o governo
espera chegar com ele. Avaliou como uma “oportunidade” perdida e
recomendou que a presidente continuasse defendendo as medidas e
explicando à população que estes sacrifícios têm uma razão de ser, que é
garantir a continuidade e o avanço das conquistas já asseguradas aos
mais pobres em 12 anos de governos do PT.
Dilma desta vez parece que ouviu e
está seguindo os conselhos. Desde segundo já esteve em três estados e em
todos fez a defesa do ajuste fiscal de forma mais compreensível. Na
noite de quinta-feira ganhou uma parada dura no Congresso, conseguindo
manter todos os vetos, depois de negociar o da tabela do imposto de
renda com Congresso. No mesmo dia anunciou a ampliação da coordenação
política, que realmente pode oxigenar o relacionamento com o Congresso.
Lula fazia isso, em seu governo,
partindo do pressuposto de que o ministro de um partido está no cargo
como numa sociedade política, cabendo-lhe garantir ou tentar garantir os
votos de seu partido nas questões de interesse do governo. Assim
funcionam todas as coalizões no mundo democrático.
Aldo Rebelo representa um pequeno
partido aliado, o fiel PC do B, mas é um provado gestor de crises.
Assumiu a coordenação política no governo Lula depois da queda de José
Dirceu, e a presidência da Câmara depois da carbonização de Severino
Cavalcanti. Eliseu Padilha é um exímio negociador, tendo sido um dos
principais responsáveis pela articulação da aprovação da emenda da
reeleição no governo FHC. Kassab não tem grande vivência parlamentar mas
provou seu tino político ao montar o PSD, nacionalmente estruturado. Se
todos eles garantirem pelo menos a maioria dos votos de seus partidos, o
governo estará com a governabilidade assegurada.
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