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23/06/2015
Defender o Lula é a última fronteira da disputa política nacional
Verdade seja dita, Lula sempre usou sua força para a defesa, é hora de usá-la para o ataque, para despertar e reencantar os políticos e as massas
LEOPOLDO VIEIRA
A 14ª etapa da Operação Lava-Jato foi descrita pela revista Veja como o penúltimo degrau para prender o ex-presidente Lula. Pergunto à nação petista, à esquerda brasileira, aos movimentos sociais, aos cidadão beneficiados pelas políticas sociais e mudança de vida se estão preparados para assistir a transmissão ao vivo da prisão de Luiz Inácio pela Globo?
Em 2012, Nelson Motta publicou um artigo em que narrava seu sonho pessoal de ver José Dirceu preso. Descrevia grandes manifestações nacionais, sobretudo em Brasília, às portas do Supremo Tribunal Federal, em defesa do ex-ministro, porém, este acordava dentro de uma cela na Papuda. Era um sonho, e ele estava encarcerado. Quando li, imaginei que aquilo era difícil, embora o julgamento caminhasse a passos largos para a condenação, com shows diários de afrontamento à Constituição.
Pouco tempo depois, pôde-se vê-lo se apresentando à Polícia Federal e todo o enredo sombrio que se seguiu. A reação política, social e, principalmente, jurídica veio, mas já era tarde. Todavia, esta reação gerou, pelo menos na corte máxima de justiça, uma sentimento de constrangimento e de basta. Os petistas já haviam sido condenados e presos, era hora de retornar à casinha.
A Operação Lava-Jato, longe de moralizar alguma coisa, foi a rebordosa do julgamento da AP 470 nas instâncias inferiores da justiça. E, novamente, tapando os olhos para o óbvio - o jurídico é, sempre, político - chega-se a esta última fronteira da política nacional atual, que é a hipótese de encarceramento de Lula. Playboys concurseiros de direita não tem limites algum e nem os tem encontrado pelo caminho. Deles não se pode esperar qualquer sensatez ou alto grau de inteligência.
São zumbis embalados pela mídia, por interesses do além-pátria (Marcelo Odebrecht preso porque sua empresa não fora proibida de participar do programa de concessões quer dizer o que?), do comitê central da direita. Ou seja: a cena - imaginem! - de Lula preso poderá ser assistida sob embasbacamento revoltado nas redes sociais que, neste caso, não servirá para nada. Lula será o "novo Genoíno", cujas narrativas cínicas da direita diziam: um grande homem, com história, honesto, mas que se meteu com "bandidos" e deve pagar pelo seu erro. In other words, "o condeno com lágrimas nos olhos". Será o uso do Direito Penal para desmoralizar o verdadeiro menino pobre que mudou o Brasil.
Com Dirceu e os demais, a direita pagou para ver o que aconteceria se ela ousasse um pouco mais. Vão pagar para ver mais um tantinho, já que funcionou a aposta. E o que verão? Choros, lágrimas e o que mais?
Em paralelo, a retomada da agenda do Impeachment foi levada a cabo, sob os auspícios do TCU e a condenação das "pedaladas". Num Congresso Nacional caótico, tomado por senhores da guerra ante a dispersão da lógica e racionalidade política e, agora com a iminente prisão de Lula, as condições podem sim, também, se porem para isso.
É preciso reagir e rápido, num contexto ainda mais difícil do que para a necessária reação pública - e não silenciosa como se apostou - às manifestações daqueles não-eleitores da presidenta Dilma.
Portanto, a tarefa posta, a ordem do dia, é defender o Lula. Não é uma agenda pessoal, é o projeto inteiro que ele representa. Não existe, neste momento, nada mais importante do que isso: evitar a cena. A gravidade da questão, por outro lado, traz uma enorme oportunidade de virar a mesa dos termos da disputa política atual: a judicialização da política, o protagonismo da playboyzada concurseira de direita, o crescimento da intolerância, o antipetismo, a defensiva do PT, o "esquecimento" popular das conquistas recentes diante da crise e do ajuste fiscal, o reino do baixo clero nos parlamentos.
A crença na comoção popular espontânea é errada. Quando o povo recuperou Miraflores, após o golpe contra Chávez, o cerco aos golpistas se deu quando os Círculos Bolivarianos convocaram as favelas a descerem rumo ao palácio do governo. Sem os círculos, Chávez teria sido assassinado. A "morte", neste caso, é passar semanas lendo jornais descrevendo com detalhes sórdidos a vida de Lula provisoriamente detido numa carceragem, tendo que fazer acareações e prestar depoimento sob tortura psicológica à playboyzada concurseira de direita.
Só que este caldo pode e deve entornar. O feitiço poderá voltar-se contra os feiticeiros. E a reação tem que começar pelo PT, que terá uma enorme chance nos dias a seguir quando se reunirá sua direção nacional. Defender o Lula permite recontar a história do país, do nosso tempo, revelar as escolhas feitas, os embates travados para viabilizá-las, repor a narrativa de como chegamos até aqui e projetar até onde queremos ir, relembrar quem é o PT e o legado da esquerda no Brasil, recoesionar os democratas, os movimentos sociais e repor a racionalidade política entre os políticos e o povo.
Quem assistiu A Revolução Não Será Televisionada sabe que o grande enredo do documentário é comparar - sentindo as emoções devidas - o momento de tristeza ante o anúncio do golpe, o júbilo dos golpistas empossando Pedro Carmona e, em seguida, o desespero da fuga destes de Miraflores ou o semblante derrotado de próceres menores do golpe, nas salas do Palácio, ante a volta do presidente eleito. O júbilo, hoje, de Moro e seus comparsas pode se tornar um tiro no pé na cena seguinte. Façamos esta cena prevalecer!
Para isso, modestamente, sugiro que o PT tome as seguintes medidas:
1) Convocação imediata dos presidentes estaduais do partido e, destes, em seus estados, dos presidentes municipais, para preparar um cronograma imediato de panfletagens-bandeiraços-projeções em logradouros públicos e caminhadas porta em porta nos bairros onde reside o povo e os beneficiários das políticas sociais, junto com os partidos e movimentos sociais que se dispuserem a cerrar fileiras;
2) Convocação de todos os artistas simpáticos ao PT, à esquerda ou anti-golpistas e anti-obscurantistas, junto com os juristas progressistas e aqueles que são críticos à Operação Lava-Jato;
3) Construção de uma frente internacional ampla, com intelectuais, artistas, presidentes no exercício do cargo, ex-presidentes que admiram a grande obra de Lula no Brasil.
O foco, sempre, na defesa do legado de Lula, de sua história, de sua importância para o Brasil e para o mundo.
Verdade seja dita, Lula sempre usou sua força para a defesa, é hora de usá-la para o ataque, para despertar e reencantar os políticos e as massas. A impopularidade - o tal "volume morto" do qual supostamente ele disse que se encontrava junto com Dilma e o PT - é o cenário que a direita aposta para liquidar nosso projeto, como fez em 1964, mas pode ser o fundo do poço de onde se levanta o rompimento do impasse político vivido pelo Brasil.
Defesa de Lula por todos os meios e armas. Literalmente.
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