segunda-feira, 29 de junho de 2015

Contraponto 17.110 - "O roteiro da sangria "




Tereza CruvinelOposição quer mais crise para conseguir remover Dilma

Se dependesse do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), a oposição apresentaria nesta segunda-feira, sob os ecos da delação premiada de Ricardo Pessoa, da UTC, um pedido de abertura de impeachment contra a presidente Dilma. Alegação: financiamento da campanha eleitoral com recursos derivado da corrupção na  Petrobrás. Não imposta que a doação de R$ 7,5 milhões pela UTC tenha sido legal e declarada, que a campanha de Aécio Neves tenha recebido R$ 8,3 milhões da mesma fonte e que Ricardo Pessoa tenha espalhado brasas sobre políticos de dez partidos e sobre alguns catões do TCU.

Caiado, entretanto, terá que conter sua ansiedade.  O alto comando da oposição, nas confabulações deste final de semana,  avaliou que ainda não é hora de tentar o golpe final.  Para que ele seja exitoso, no resumo de um deles, “Dilma ainda tem que sangrar mais, pelo menos até setembro/outubro”.   Se a Lava Jato continuar fazendo jorrar lama e a produzir espetáculos como o das prisões de empresários, mesmo violando ordenações jurídicas, se a mídia continuar costurando a narrativa do descalabro moral, se o Congresso seguir minando o ajuste fiscal, se a economia já combalida continuar piorando,  no final do terceiro  ou início do quarto trimestre deste ano  a situação estará em “ponto de bala” para o impeachment, um processo que exige povo da rua.

As manifestações já ocorridas, para estes pensadores da solução final, não demonstraram a consistência necessária.  Foram capitaneadas por movimentos de traço ideológico muito nítido, como os direitistas VempraRua e Movimento Brasil Livre. Um impeachment exige mobilizações mais espontâneas, mais fortes, mais amplas e menos partidarizadas, como as que marcaram o impeachment de Collor.  Mas com a economia piorando, elas podem voltar no segundo semestre com estas características.

Outro problema estaria na perspectiva de substituição de um governo petista por um do PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, que assumiria no lugar de Dilma. Itamar Franco, como vice de Collor, já havia deixado o PRN, estava sem partido e divergia publicamente do titular da Presidência.  Não é o caso de Temer, que pode ter uma boa imagem pessoal mas é a maior liderança do PMDB, partido que é rejeitado pelas vanguardas formadoras de opinião. E até agora, Temer  mantém-se comprometido com o governo Dilma, do qual é coordenador político.  Esta situação não favorece o impeachment. Não sinalizaria uma ruptura capaz de inspirar um grande movimento de massas.   A não ser, é claro, que se partisse para a criminalização da chapa Dilma-Temer, mas este seria um movimento mais complicado.  Afora as dificuldades jurídicas para incriminar o vice, que nada teve a ver com arrecadação de fundos de campanha, como ainda não se teriam passado dois anos de governo, haveria nova eleição presidencial. E esta hipótese, é claro, não teria o apoio do PMDB.

Mas tudo isso poderia mudar até o final do ano com uma continuada sangria do governo Dilma.  A substituição por Temer deixaria de ser vista como troca de seis por meia dúzia para soar como única saída.  Em resumo: com o país no fundo do poço e o povo na rua,  as condições políticas estariam criadas e  os entraves jurídicos seriam mais facilmente contornados. Como foi com Collor. Iriam para o segundo plano questões formais, como o fato de que as doações da UTC e de outras empreiteiras para a campanha de Dilma foram oficiais, tanto quanto as doações para outros partidos e campanhas, inclusive a de Aécio.

Então, o roteiro é este. Se Dilma e o PT saírem da letargia em que se encontram, têm algum tempo para tentar sair do labirinto. Mas isso exige disposição para o confronto, inclusive com os algozes de dentro do próprio Estado, como a Lava Jato do Juiz Moro e a Polícia Federal em que ninguém manda.  Pedalando sua bicicleta e elogiando as ações da PF Dilma não irá longe.



Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247. 


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PITACO DO ContrapontoPIG

Dilma tem que trocar o ciclismo palaciano atual pela velocidade da Fórmula 1 nas ações, bem como substituir a atual fase de elogios à PF e a inação em relação ao PIG, pelo MMA da verdadeira luta pelo País.

Dilma também tem que substituir alguma peças do seu time por jogadores do tipo Ciro Gomes ou Roberto Requião saindo da defesa para o ataque antes que leve um gol do tipo morte súbita.


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