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19/06/2015
A amarelada histórica de Aécio. Por Paulo Nogueira
Por mais que se busquem palavras edulcorantes, o fato é o seguinte.
Aécio amarelou.
Eu tinha escrito, antes da viagem, que era uma das ideias mais imbecis da política brasileira nos últimos anos.
Acrescento agora: foi, também, um dos projetos mais ignorantes.
A pergunta essencial é: o que eles esperavam encontrar lá? Flores, palmas, presentes, discursos de agradecimento?
A esquerda venezuelana é, em grande parte pelo exemplo de Chávez, aguerrida e combativa.
Se um doente mental como Marcello Reis ousasse fazer lá o que fez no Congresso do PT, irromper com uma camiseta pregando o impeachment depois de prometer “pegar o Lula”, levaria um corretivo exemplar.
Não teria, depois, que fingir que quebrou um braço ou coisa parecida. Ficaria fora de circulação por muito tempo.
Aécio mostrou não ter noção das coisas ao projetar sua ida à Venezuela.
Minha hipótese, para um descolamento tão forte da realidade, é que ele sempre foi um menino mimado, poupado de riscos.
Garoto, ganhou uma sinecura em Brasília mesmo estudando e morando no Rio, e daí para a frente não parou mais de viver uma vida fácil.
Beneficiou-se, em Minas, de pertencer a uma família da oligarquia local. Não foi diferente dos Sarneys no Maranhão ou dos Magalhães na Bahia.
Governador, virou piada ao ser visto o tempo todo na boemia do Rio de Janeiro. Senador, tem sido uma nulidade. Num levantamento de produtividade publicado pela Veja, ficou em último lugar.
No Brasil, ele é objeto de uma descomunal proteção da mídia. Ninguém mencionou seu nome quando o helicóptero do amigo Perrela foi apanhado com quase meia tonelada de pasta de cocaína.
Parecia que isso não era notícia – a despeito das várias fotos de Aécio e Perrela abraçados fraternalmente.
Ninguém o apertou sobre o aeroporto que ele mandou construir em Cláudio, Minas, em terras que pertenciam a um tio.
Um telefonema dele aos donos das empresas de jornalismo e está tudo controlado. Às vezes, nem este telefonema é necessário.
Tanta proteção e você fica mal-acostumado. Mas esta blindagem é válida para o Brasil, e é aí que as coisas se enroscaram para Aécio.
Na Venezuela, ele é apenas um direitista intrometido. Para os milhões de eleitores que sempre prestigiaram Chávez e por último Maduro, é um sujeito que, definitivamente, não é bem-vindo, um defensor de uma oligarquia predadora que tenta de toda forma subverter a democracia e retomar o poder por ardis.
Rapidamente, ele teve um choque de realidade na Venezuela. Ouviu gritos de “fora” e talvez tenha pensado no que poderia vir depois da gritaria, caso desse uma de valente.
É provável que ele tenha tomado corda por cobra quando disse, dramaticamente, que sua van estava “ilhada”.
Havia um problema sério de trânsito na estrada em que Aécio e colegas senadores estavam.
Para alguém apavorado, este tipo de situação é suficiente para configurar que você está cercado pelos inimigos.
Daí à ordem de bater em retirada é um pulo.
Aécio não nasceu para ser mártir de nada, muito menos da oposição da Venezuela. Nenhum boa vida está disposto a arriscar a pele por nada. O que interessa é a próxima festa.
E assim terminou a aventura bolivariana de Aécio: numa fuga veloz.
Agora, de volta ao Brasil, ele está pronto para as festas deste final de semana, e de tantos outros finais de semana que virão pela frente.
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Aécio amarelou.
Acrescento agora: foi, também, um dos projetos mais ignorantes.
A pergunta essencial é: o que eles esperavam encontrar lá? Flores, palmas, presentes, discursos de agradecimento?
A esquerda venezuelana é, em grande parte pelo exemplo de Chávez, aguerrida e combativa.
Se um doente mental como Marcello Reis ousasse fazer lá o que fez no Congresso do PT, irromper com uma camiseta pregando o impeachment depois de prometer “pegar o Lula”, levaria um corretivo exemplar.
Não teria, depois, que fingir que quebrou um braço ou coisa parecida. Ficaria fora de circulação por muito tempo.
Aécio mostrou não ter noção das coisas ao projetar sua ida à Venezuela.
Minha hipótese, para um descolamento tão forte da realidade, é que ele sempre foi um menino mimado, poupado de riscos.
Garoto, ganhou uma sinecura em Brasília mesmo estudando e morando no Rio, e daí para a frente não parou mais de viver uma vida fácil.
Beneficiou-se, em Minas, de pertencer a uma família da oligarquia local. Não foi diferente dos Sarneys no Maranhão ou dos Magalhães na Bahia.
Governador, virou piada ao ser visto o tempo todo na boemia do Rio de Janeiro. Senador, tem sido uma nulidade. Num levantamento de produtividade publicado pela Veja, ficou em último lugar.
No Brasil, ele é objeto de uma descomunal proteção da mídia. Ninguém mencionou seu nome quando o helicóptero do amigo Perrela foi apanhado com quase meia tonelada de pasta de cocaína.
Parecia que isso não era notícia – a despeito das várias fotos de Aécio e Perrela abraçados fraternalmente.
Ninguém o apertou sobre o aeroporto que ele mandou construir em Cláudio, Minas, em terras que pertenciam a um tio.
Um telefonema dele aos donos das empresas de jornalismo e está tudo controlado. Às vezes, nem este telefonema é necessário.
Tanta proteção e você fica mal-acostumado. Mas esta blindagem é válida para o Brasil, e é aí que as coisas se enroscaram para Aécio.
Na Venezuela, ele é apenas um direitista intrometido. Para os milhões de eleitores que sempre prestigiaram Chávez e por último Maduro, é um sujeito que, definitivamente, não é bem-vindo, um defensor de uma oligarquia predadora que tenta de toda forma subverter a democracia e retomar o poder por ardis.
Rapidamente, ele teve um choque de realidade na Venezuela. Ouviu gritos de “fora” e talvez tenha pensado no que poderia vir depois da gritaria, caso desse uma de valente.
É provável que ele tenha tomado corda por cobra quando disse, dramaticamente, que sua van estava “ilhada”.
Havia um problema sério de trânsito na estrada em que Aécio e colegas senadores estavam.
Para alguém apavorado, este tipo de situação é suficiente para configurar que você está cercado pelos inimigos.
Daí à ordem de bater em retirada é um pulo.
Aécio não nasceu para ser mártir de nada, muito menos da oposição da Venezuela. Nenhum boa vida está disposto a arriscar a pele por nada. O que interessa é a próxima festa.
E assim terminou a aventura bolivariana de Aécio: numa fuga veloz.
Agora, de volta ao Brasil, ele está pronto para as festas deste final de semana, e de tantos outros finais de semana que virão pela frente.
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