terça-feira, 16 de junho de 2015

Contraponto 16.999 - "Janio: 'fora Cunha' é pretexto, o que ele quer é o poder"

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16/06/2015


Janio: “fora Cunha” é pretexto, o que ele quer é o poder


Tijolaço - 16 de junho de 2015 | 10:45 Autor: Fernando Brito

cunha

Depois do que aconteceu com o Luís Nassif e sem dinheiro para sequer pensar em contratar advogado, fiquei pensando se poderia escrever aqui que Eduardo Cunha é um escroque. politicamente falando.

Cheguei a ir ao Houaiss e, como a definição de escroque dizia que é “aquele   que se apodera de bens alheios por meios ardilosos e fraudulentos”, achei que esta última palavra vulnerava o comentário, embora a história do tal “requerimento” escrito no gabinete dele e apresentado por uma deputada que lhe era fiel para pressionar o lobista Júlio Bueno desse margem à tal “exceção da verdade”.

Então, continuei a ler e vi que a origem da palavra é o verbo “escrocccare”: “abiscoitar, ganhar com intrujices e manhas”.

Por segurança, então, restrinjo-me a afirmar que Eduardo Cunha conjuga este verbo na primeira pessoa como poucos.

Como poucos, mas por causa de muitos.

Não há ninguém, entre os personagens de primeira linha na política brasileira que não tenha culpa na ascensão de um tipo como este ao controle de nosso Legislativo.

É uma carreira que causa arrepios sobretudo a quem serviu de hospedeiro político a este personagem: Fernando Collor, Anthony Garotinho – Cunha, nomeado por ele, foi peça central do seu desaguizado com Leonel Brizola – , o próprio PMDB, que o recebeu do PP, um partido que se notabilizou por estar no centro de todas as propinagens da República, ao PT que cevou o bicho sem cuidar da cerca e o PSDB, que se atirou de cabeça e bico a ele, por achar que poderia ser a gazua para abrir a porta da derrubada de Dilma, pecado que partilhou, com nossa intrépida mídia.

E o Cunha, com o perdão do cartunista, cobra.

Agora, como fez domingo a Folha, preocupa-se com o que fazer com ele. Talvez, como assinala hoje o mestre Janio de Freitas, seja o caso de nos preocuparmos com o que ele quer fazer conosco.

Quando querer é poder


Janio de Freitas, na Folha


Uma situação peculiar, a que não falta certa comicidade, é esta resultante da avassaladora invasão do poder político por Eduardo Cunha. Desde que emergiu, há quatro meses e meio, até a predominância absoluta que impõe, nada justifica essa “blitzkrieg” e nem ao menos a explica. Diante dos seus propósitos, no entanto, todos baixaram a cabeça. Mesmo sem saber a finalidade de cada um deles ou o plano que os conjuga.

Apresentados com a serena segurança de determinações que vão se cumprir, os objetivos imediatos de Eduardo Cunha se sucedem sem distinção entre governo, Congresso, o seu e os demais partidos. 

No seu caso, querer é poder. “Vamos fazer a reforma a política e votá-la até o fim do mês”, e pronto, mesmo sem preliminar alguma até a altura do decidido. “A Câmara não aceita esse projeto do governo”, e a voz de Eduardo Cunha passa a ser a voz da Câmara. E o governo baixa a cabeça: “Não há mal-estar com o presidente da Câmara”, existe sempre um ministro com disponibilidade moral para dizer.

Agora Eduardo Cunha absorveu o diretório nacional do PMDB, a convenção partidária e a presidência peemedebista. “O PMDB está cansado de ser agredido pelo PT, essa aliança não se repetirá.” Os poderes internos do PMDB baixam a cabeça. O governo treme, e Edinho Silva, o mais recente incumbido de socorrer a imagem da presidente, mostra sua eficiência: “Não há mal-estar com o presidente da Câmara”. Cabeça baixa.

Um noticiário plantado por ou também por Eduardo Cunha andou dizendo que o ministro Aloizio Mercadante pretende tirar o peemedebista Michel Temer da coordenação política entre governo e Congresso. Mas houve ainda uns brados de “fora Cunha” no congresso do PT. E a causa da ruptura decidida por Eduardo Cunha passou a ser localizada naqueles gritos anônimos.

O que Eduardo Cunha quer, no caso, não tem a ver com vaias nem com o PT. É retirar o PMDB da base parlamentar governista, ou seja, para efeitos práticos, arruinar politicamente o governo. Um passo radical em seguimento aos meses de ação para desgastar o governo e Dilma.

O PT entrou só como pretexto. Nem poderia ser mais do que isso porque, à parte ilusões sustentadas pelo comando petista, por Dilma, a imprensa e a oposição, não existe “o governo do PT”. Nunca existiu. Nenhuma política e nenhuma orientação do governo Lula e do governo Dilma foi decidida pelo PT, com o PT ou se deveu ao PT de alguma forma.

O próprio Eduardo Cunha dá o melhor testemunho da marginalidade do PT. Seu poder emergiu da ausência de um governo de partido. Desse ou vazio, ou, o que dá no mesmo, caos partidário –nem frente, nem aliança, nem coligação– que abagunça e explora o governo.

A título de explicação ou lembrança: o inverso disso foi feito para o governo Fernando Henrique, no qual Luiz Eduardo Magalhães integrou PSDB e PFL como um partido no governo. Além de atrair e usar o PMDB, esse “partido” conduziu tudo no Congresso e reduziu o PT a espectador esperneante. Nem sequer uma CPI saiu, embora a compra da reeleição fosse imoralidade incomparavelmente maior que o mensalão.

É desconhecido, claro, o desdobramento imaginado por Eduardo Cunha para a ruptura do alegado acordo com o PT e o governo. Mas, cá de fora, as muitas hipóteses devem incluir até, nos possíveis efeitos extremos, uma cisão no PMDB. Muito improvável só à primeira vista, porque, na realidade, pode convir a certa armação, que se insinua, de Eduardo Cunha com vistas à sucessão presidencial. 

Não necessariamente com candidatura sua, como sabe seu novo correligionário José Serra. Mas talvez sim, sabe-se lá que fogos animam um tipo incomum como Eduardo Cunha.

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