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24/06/2015
A geopolítica do Departamento de Justiça dos EUA
Por Andre Araújo
Tenho
alergia a imodéstia e exibicionismo, mas fui aqui desafiado por um
comentarista como "ignorante do que se passa nos Estados Unidos". Minha
ligação com esse país é profunda. Minha mãe estudou toda sua infância e
juventude nos EUA, voltou a São Paulo, onde nasceu e não falava
português. Tenho cinco primos irmãos americanos natos, tenho sobrinhos
americanos, cunhado americano. Eu, recém nascido, fui alimentado com
leite em pó do governo americano, meus pais foram dos primeiros
brasileiros a organizar a Rubber Reserve Company em Manaus, autarquia do
governo americano para comprar borracha, a companhia tinha um
supermercado abastecido diariamente por voos de Miami, em Manaus nessa
época o abastecimento era bem precário e o supermercado dos funcionários
era a salvação. Muito depois fui executivo e CEO de multinacional
americana nos anos 70 e de lá para cá trabalho praticamente só com
americanos, governo, partido e empresas. Portanto conheço um pouco os
EUA, especialmente seu governo e instituições.
Os
EUA tem instituições muito sólidas, é um país que obedece regras. Mas
há um outro aspecto. Os EUA tem PROFUNDA noção de interesse nacional.
Esses, quando necessário, se sobrepõe às regras e aos princípios. A
celébre frase de Roosevelt sobre Anastasio Somoza, ditador da
Nicarágua:"Esse é um filha da puta (literal) mas é o NOSSO filha da
puta" revela esse sentimento.
Na
América Latina, os EUA patrocinaram ditadores execráveis como Somoza,
Rafael Trujillo, François Duvalier, Gerardo Machado (Cuba), Fulgencio
Baptista (Cuba), Juan Vicente Gomez e Marcos Pérez Jiménez (Venezuela),
Rojas Pinilla (Colombia), Manuel Odria (Peru), Rios Montt (Guatemala),
Carlos Castillo Armas (Guatemala), Manuel Noriega (Panamá), fizeram
sempre com base no interesse nacional americano. Por esse mesmo
interesse apoiaram Saddam Hussein, Hosni Mubarak, a dinastia Ibn Saud,
Ferdinand Marcos (Filipinas), Ngo Diem (Vietnam), Generalíssimo Chiang
Kai Shek, o maior corrupto do Século XX, na China.
Eu
fico pasmo na questão da Lava Jato em se descartar a QUESTÃO POLÍTICA
ao recorrer ao Departamento de Justiça dos EUA para investigar a
Petrobras e agora investigar a Odebrecht como se o D of J fosse a Santa
Sé impoluta (nem essa é) a operar com absoluta neutralidade em uma
questão tão próxima ao interesse americano. Comentaristas aqui acham
isso normal. Eu acho uma aberração.
Os EUA, e eu não os censuro por
isso, não seriam uma potência mundial se fossem bonzinhos. NÃO SÃO. Ao
entregar de bandeja PETROBRAS e ODEBRECHT para eles investigarem,
estamos abrindo mão de capital estratégico nacional."Ah, mas temos
acordos de cooperação entre os Ministerios Públicos". E daí? Os acordos
são para serem usados quando interessa ao Brasil, nesse caso não
interessa. Com base nesse "Acordo de Cooperação" o Departamento de
Justiça pediu ao Brasil para investigar a Chevron? Claro que não. Esses
acordos foram pensados para combate ao crime de tráfico, terrorismo,
contrabando, a idéia não é perseguir empresas, os EUA nunca pediram ao
Brasil para investigar uma empresa americana.
Lá não tem Santelmos mas aqui parece é o que não falta.
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