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03/07/2015
Não são só os evangélicos: a redução da maioridade é um 1º aperitivo da bancada da bala. Por Kiko Nogueira
Uma das vantagens de se poder acompanhar as sessões da Câmara ao vivo é a oportunidade de ver o desenrolar dos debates quentes. A desvantagem é a certeza de que tudo o que é ruim sempre pode piorar.
A bancada da bala tem 21 membros na Câmara. O relator da PEC 171 é um deles, o deputado Laerte Bessa, do PR. Em sua proposta original, o ex-delegado da Polícia Civil do Distrito Federal propusera a diminuição da idade penal para todos os crimes.
Bessa se disse “cansado dos esquerdistas” que lhe faziam oposição. Sobre as condições do sistema penitenciário, acha que “os estados darão um jeito de arrumar esses presídios”. O destempero é um traço particular. Em 2009, foi chamado ao palco de um show de Elza Soares em Brasilia.
Uma vaia estrepitosa o recepcionou. Bessa perdeu a classe. “Isso é um desrespeito, seus vagabundos, seus frouxos. Muitos de vocês que estão me vaiando são os mesmos que eu já coloquei na cela”, afirmou, chamando o pessoal para a briga.
A bancada da bala é a bancada evangélica por outros meios. A agenda é a mesma, o grande líder é Cunha, a desinteligência é equivalente, mas há suas peculiaridades. Sob o nome eufemístico de “Frente Parlamentar da Segurança Pública”, congrega homens das polícias militar, civil e federal, além do exército e dos bombeiros.
Como ocorre com os pastores e bispos, usam a patente como epíteto eleitoral. Assim temos figuras como Delegado Edson Moreira, Delegado Éder Mauro, Delegado Waldir, Capitão Fábio Abreu, Capitão Augusto, Major Olímpio, Cabo Daciolo e Cabo Sabino, entre outros. Os Bolsonaros estão nessa também.
São financiados pela indústria de armamentos. A Taurus, a Aniam (Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições) e a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) pagaram por campanhas. Treze dos membros são gaúchos (as fábricas estão sediadas no Rio Grande do Sul).
O termo “delegado” vem dos programas de rádio e televisão que grande parte deles apresentava e que têm uma audiência cativa. Costumam ser citados com frequência por gente como Datena ou Marcelo Rezende.
Estão absolutamente em casa. Recentemente, o Capitão Augusto presidiu a Câmara a convite de um membro da cúpula.
José Augusto Rosa só anda vestido em sua farda da PM paulista, é orgulhosamente a favor da ditadura — ah, essa democracia — e acha que as torturas foram “fatos isolados”.
Está tentando fundar o Partido Militar Brasileiro. “É o primeiro assumidamente de direita”, afirma. O número ainda não foi definido. Existem algumas opções: 18 (“É a idade do alistamento militar obrigatório”), 38 (“Por causa do famoso três oitão”) e 64 (“Em homenagem a nossa revolução democrática”).
Alberto Fraga, o coordenador da bancada, já avisou que vai apresentar um projeto de lei para liberar o porte de armas para os congressistas. É de se imaginar o que pode acontecer. Você terá saudade do tempo em que o Congresso era um circo e não um faroeste.
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