A oposição tenta de todas as formas derrubar o governo do PT, mas isso pode sair muito caro os seus líderes
Blog do Francisco Castro 02/07/2015
A
parte do tucanato liderada pelo presidente do PSDB, senador Aécio
Neves, sonha liderar o enfrentamento ao governo, mas seus integrantes
reclamam que quando são reconhecidos em ambientes populares acabam sendo
recebidos com gritos de “ladrão” e outros palavrões. Apesar dos
esforços da imprensa em direcionar o noticiário contra o PT, a maioria
da população que recebe a mensagem antipolítica do noticiário não faz
distinção partidária, enxergando quase todos os políticos como se fossem
responsáveis, de uma forma ou de outra, pelas mazelas noticiadas.
Parlamentares
pré-candidatos a prefeitos estão preocupados em como enfrentar a
campanha eleitoral de 2016, diante de um eleitorado que os recebe com
frieza, ceticismo ou hostilidade. A falta de uma agenda parlamentar
positiva piora as chances. Enquanto os atuais prefeitos que concorrerão à
reeleição, ou secretários que exercem o Poder Executivo, bem ou mal,
têm obras e realizações para mostrar, os parlamentares que se destacam
apenas nos holofotes de CPIs têm um histórico de fracasso nas urnas
quando tentam um voo mais alto para concorrer a prefeito ou a
governador. A população os veem apenas como criadores de intrigas, sem
utilidade pública.
O
deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos mais ligados a Aécio
Neves, coloca em dúvida se seu partido conseguirá faturar eleitoralmente
a Operação Lava Jato, principal tema do noticiário político há um ano.
“O resultado líquido nas prefeituras, nas lideranças e na população não
dá para dimensionar. A população está de saco cheio com a política”,
disse.
Nos
bastidores tucanos circula que Aécio Neves ficou irado com as
declarações da presidente Dilma sobre doações da empreiteira UTC para
sua campanha, e marcou reunião com oposicionistas na terça-feira (30)
para debater a crise política. Enquanto um grupo defende pautar de novo a
tese do impeachment, outros advertem que os próprios tucanos precisam
melhorar a comunicação com a sociedade primeiro.
Depois
da reunião, e sempre atento aos holofotes generosos, Aécio procurou a
imprensa e anunciou que os partidos de oposição vão entrar com
representação na Procuradoria-Geral da República por crime de extorsão
contra a presidente Dilma Rousseff e o então tesoureiro da sua campanha,
ministro Edinho Silva.
O
grupo vai também apostar em outras duas frentes para desgastar o
governo: entrar com um novo pedido no Tribunal de Contas da União (TCU)
contra a contabilidade do governo e acionar o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) para que a delação de Pessoa seja levada em conta no
processo que já foi aberto no órgão contra a campanha da petista. Sobre o
fato de Ricardo Pessoa ter denunciado que o senador tucano Aloysio
Nunes recebeu R$ 500 mil, sendo R$ 300 mil em dinheiro vivo de caixa 2,
Aécio não se pronunciou.
Desde
o fim das eleições, Aécio Neves flertou com grupos agressivos de
extrema-direita que arregimentaram público pelas redes sociais para
manifestações de rua contra o governo. Mas os tucanos desejavam que
esses grupos fossem coadjuvantes para assumir o protagonismo. Não foi
que ocorreu. A mensagem destrambelhada foi de ódio, de pedir a volta da
ditadura, discriminar minorias e destilar preconceito contra a população
pobre.
Além
disso tais ativistas chamaram o próprio Aécio de “arregão” por não
propor o impeachment da forma como queriam. Agiram como brigões
arruaceiros e elementos antissociais ao irem provocar de propósito a
reunião de petistas em Salvador. Um desses ativistas, no Rio Grande do
Sul, perseguiu um cidadão haitiano que trabalha honestamente como
frentista em um posto de gasolina. Com cabos eleitorais como estes, os
tucanos atraem mais repúdio do que adeptos.
Voltando
à reunião convocada por Aécio, participaram os presidentes do PPS,
Roberto Freire, do DEM, Agripino Maia, do SD, Paulinho da Força, os
senadores Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, Ronaldo Caiado,
líder do DEM no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), Eduardo Amorim (PSC-SE), o
líder em exercício do PSDB na Câmara, Nilson Leitão, os líderes do DEM,
Mendonça Filho, e do PPS, Rubens Bueno, e os deputados Carlos Sampaio
(PSDB-SP), Raul Jungmann (PPS-PE), Bruno Araújo, (PSDB-PE) e Arthur Maia
(SD-BA). Presença majoritária dos, digamos, incendiários da oposição.
A
tese do impeachment nas ruas não prosperou, segue a tentativa de
tapetão nos tribunais. A representação na Procuradoria-Geral da
República (PGR) anunciada por Aécio teve com base texto da revista Veja sobre
a delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC, cujo teor
oficial ainda é desconhecido, pois está em segredo de Justiça – pelo
menos para o público, para setores da imprensa.
É
óbvio que a representação é só para dar satisfação ao ativismo
pró-golpe que chamou Aécio de “arregão”. Mas a ação de é útil também
para desviar a atenção das doações que ele próprio recebeu da UTC em sua
campanha eleitoral, e se atrapalhou em explicar o porquê, dizendo que
“tudo o que tinha a oferecer para a UTC era alforria do governo do PT”.
Na
Lava Jato, o antecessor de Aécio na presidência do PSDB, Sérgio Guerra,
morto em março do ano passado, foi delatado pelo ex-diretor da
Petrobras, Paulo Roberto Costa, acusado de exigir R$ 10 milhões na forma
de doação de campanha para enterrar um pedido de instalação de CPI da
Petrobras em 2009. Em dezembro de 2010, no escritório da UTC, foram
encontradas anotações comentando negociações de bastidores entre
representantes das empreiteiras e Aécio Neves para não envolver as
empresas na CPI da Petrobras de 2014. Segundo as anotações, Aécio teria
dito que os senadores Mário Couto (PSDB-PA) e Álvaro Dias (PSDB-PR)
estavam escalados para “fazer circo”, ou seja, criar noticiário, mas
inofensivo às empreiteiras.
Agora, parece que Aécio escalou a si mesmo para “fazer circo”. E que tem gente na oposição com medo do circo pegar fogo.
O
presidente de outro partido de oposição, o DEM, senador José Agripino
Maia (RN), demonstrou preocupação com a sobrevivência política dos
oposicionistas. Colocando-se como bombeiro, disse: “É obrigação da
oposição encontrar um rumo para o país”.
Não
que Agripino queira ser bombeiro para não queimar o governo. A questão é
que o senador sempre representou as empreiteiras no Congresso e elas
sempre financiaram suas campanhas. Ele próprio já foi sócio da EIT, uma
das empreiteiras envolvidas na Lava Jato. Foi sócio da Strata
Concessionária, que explora pedágios nos estados do Rio de Janeiro e
Paraná junto com a Queiroz Galvão e OAS, outras duas empreiteiras
envolvidas na Lava jato.
É
até bem-vindo Agripino, como qualquer homem público, agir como bombeiro
contra excessos da Lava Jato para que não destrua as empresas, os
empregos e a cadeia produtiva nacional do setor de infraestrutura criada
durante décadas. Condenar corruptos e corruptores, desde que com
provas, para inocentes não pagarem por culpados, ressarcir os cofres
públicos e multar as empresas, sem quebrar todas elas, são atitudes
esperadas da investigação e necessárias ao combate à corrupção. O que é
absurdo é destruir todo um setor econômico, como se para matar as
baratas de uma casa precisasse demoli-la.
No
caso do DEM, não é só empregos e empresas que podem ser extintas. A
fonte de financiamento de campanhas eleitorais que elege suas bancadas e
seus prefeitos também. O DEM votou a favor de manter o financiamento
empresarial de campanha. Significa que seus membros temem não se
elegerem se disputarem eleições em condições niveladas de custo de
campanha com outros candidatos de outros partidos.
Por
fim, a oposição de Agripino não vê no Congresso condições de julgar o
impeachment da presidenta, se há dezenas de parlamentares investigados
na Lava Jato e em outros malfeitos, enquanto não existe nada contra
Dilma. O próprio Agripino é investigado na Operação Sinal Fechado por
supostamente ter recebido R$ 1 milhão de empresa candidata a fazer
inspeção veicular no Rio Grande do Norte. Como abrir um processo de
impeachment contra a presidenta, se o Congresso Nacional não abre nem
processo no Conselho de Ética e decoro parlamentar contra dezenas de
parlamentares?
Por
isto, o senador potiguar saiu da reunião com Aécio com discurso mais
suave. “Ainda faltam argumentos jurídicos consistentes para que a ação (impeachment)
não se transforme em uma peça inócua.” Por isso, explicou o senador, “a
oposição está unida na busca de provas claras da prática de crime de
responsabilidade por parte da chefe do Executivo”.
Em comum, Aécio e Agripino fogem das ruas e tentam fazer o que podem no golpe do tapetão do Judiciário.
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