quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Contraponto 18.288 - "Alckmin é a elite que não aceita democracia, inclusão social e fecha escolas"

 

02/12/2015

 

 

Palavra Livre  - 02/12/2015
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Por Davis Sena Filho
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A repressão aos estudantes de São Paulo é o exemplo pronto e acabado de que a classe dominante brasileira, especificamente neste caso a paulista, é antidemocrática, e, portanto, elitista e sectária. A repressão da polícia do governador do PSDB, Geraldo Alckmin, que fechou quase cem escolas, mas construiu presídios e transformou o Estado de São Paulo no paraíso dos pedágios, ou seja, simbolicamente de quem pode pagar para ganhar a vida.



O governador de São Paulo, juntamente com o do Estado tucano do Paraná, Beto Richa, está na contramão da história do povo brasileiro. Não negocia com os estudantes e os professores e, por seu turno, trata as questões sobre a educação como se fosse caso de polícia, a lembrar, inclusive, o presidente, Washington Luís, da República Velha, que certa vez afirmou: "A questão social é um caso de polícia".



Washington Luís, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso — o Príncipe da Privataria I —, nasceu no Rio de Janeiro, só que na cidade de Macaé, mas foi adotado pela aristocracia paulista e paulistana, bem como seu partido, o Partido Republicano Federal (PRF), tal qual ao PSDB, era uma agremiação que defendia os interesses dos republicanos oligárquicos, que controlavam a Presidência da República por intermédio da imposição da política do Café com Leite.



Os revolucionários de 1930, liderados por Getúlio Vargas, destituíram do poder o presidente Washington Luís, que estava pronto para empossar seu candidato, o presidente (governador) de São Paulo, Júlio Prestes, como presidente da República. Prestes foi acusado, juntamente com Washington Luís, de fraudar as eleições, em um tempo em que os oligarcas podiam tudo, inclusive assassinar seus adversários políticos e nada acontecer, sem se preocupar com punições.



O governador Geraldo Alckmin, dentre todos seus correligionários do PSDB paulista, a exemplo de José Serra e FHC, além de outros tucanos, é o político conservador que mais se aproxima com os barões da política do Café com Leite. Alckmin é a própria direita em toda sua essência no que concerne ao seu pensamento direitista e elitista. Se este político estivesse a viver nas primeiras três décadas do século XX, ele se sentira tão confortável como um pato na lagoa ou um peixe no aquário.



Ideologicamente, filosoficamente e religiosamente conservador, o político direitista, representante e porta-voz da oligarquia paulista e brasileira, na verdade é um plutocrata, que deveria ser duramente combatido pelas forças progressistas deste País. Alckmin expressa a vontade e o desejo de os conservadores romperem com o Estado de Direito, com as instituições republicanas, que sustentam o regime democrático, bem como é referência da direita brasileira para que os avanços sociais e econômicos conquistados até agora não se consolidem.



A luta da direita de índole escravagista é esta, e muitas pessoas instruídas não percebem ou fingem que não compreendem as mudanças, porque a verdade é que não concordam com os avanços no campo político e econômico que aconteceram neste País, a partir de 2003. Alckmin, por ser governador de uma Estado da Federação tão poderoso, reage furiosamente e violentamente contra a consciência e os desejos da maioria, que passou a ter direitos e voz para reivindicá-los, como tem ocorrido nas milhares de passeatas e protestos que tem acontecido principalmente nos últimos três anos.



São estas realidades e estes fatos e fatores que incomodam profundamente a reação, os que apostam no atraso e no retrocesso, os que lutam contra a inclusão social e a igualdade de oportunidades. Incomoda-os, e muito, acredite. Causa rancor e fúria a simples visualização, por parte da classe média paneleira e dos ricos, em perceber que cidadãos pobres ou remediados estão a frequentar "seus" espaços, a exemplo de shoppings, universidades, restaurantes, aeroportos, lojas de todos os ramos, acesso ao consumo e a direitos trabalhistas, como a obrigatoriedade de assinar as carteiras das empregadas domésticas.



O governador Geraldo Alckmin e o PSDB são a pura expressão de um desejo de conotação nostálgica e de uma vontade quase instintiva de manter congelada sem limite de tempo a ascensão social dos pobres. Tais elites conservadoras não negociam e, com efeito, recusam-se a descer do pedestal onde se encontram com a finalidade de dialogar. Simplesmente não cedem nada para a sociedade civil, que, na verdade, sustenta a riqueza e o status quo dos poderosos e ricos.



Quando Alckmin e o tucano paranaense quebram a cara, literalmente, de estudantes e professores por meio de força policial, tal violência se torna simbólica ao tempo que real. Trata-se da intolerância, da soberba e da evidenciação da face violenta e sectária da casa grande de alma escravocrata. É seu mais puro DNA, que move as profundezas da alma de uma das piores elites econômicas do planeta, em termos históricos.



Em todas as eras e épocas o poder sofre alternâncias, sendo que os grupos políticos conservadores, ou seja, de direita, ficam mais tempo no poder por serem eles próprios o status quo — o establishment. Fechar escolas é a mesma coisa que negar a vida às pessoas, à sociedade, que, como disse anteriormente, sustenta o poder político e econômico, por razões que vão desde o analfabetismo político das elites até a cooptação e a concordância com esse estado de coisas por parte também de grupos sociais populares.



Quero explicitar, este é o propósito, que muitos pobres são cúmplices dos interesses da casa grande por serem ideologicamente de direita, sem, no entanto, compreenderem que seus posicionamentos não os favorecem, porque simplesmente basta olhar com lucidez para seus passados, bem como para as situações de vida muito difíceis que seus pais e avós, enfim, seus antepassados, tiveram de enfrentar, até porque quase a metade do povo brasileiro é descendente de escravos. Vale lembrar que o Brasil tem a segunda maior população de negros do mundo, sendo que a Nigéria, país africano, é a primeira.



Entretanto, reconheço, que parte do povo brasileiro tem índole e valores conservadores, porque vivemos em uma sociedade moralmente conservadora, apesar de muitas vezes se mostrar moralista sem moral. Mesmo assim a luta pelo desenvolvimento do Brasil e pela emancipação plena do povo brasileiro é um processo longo e doloroso. Já se conquistou no Brasil muitos avanços, mas ainda falta quebrar, definitivamente, o muro "invisível" edificado pelas diferentes burguesias, as classes dominantes, inquilinas da casa grande, que desejam a felicidade apenas para elas e suas proles, que crescem e se tornam mais egoístas e intolerantes do que seus próprios pais.



Geraldo Alckmin, ao contrário de Fernando Henrique — o Neoliberal I — não consegue disfarçar o que ele verdadeiramente é. Alckmin é o conservadorismo em pedra bruta. FHC, tal qual a Washington Luís, é fruto do Rio de Janeiro capital da República, que tinha verniz francês e estava socialmente à frente das províncias brasileiras, como a de São Paulo, apesar de ser rica.



A resumir: Fernando Henrique Cardoso é camaleônico e Geraldo Alckmin retrata, literalmente, a violência paulista dos bandeirantes. Por isto que o governador de São Paulo e a elite "cafeeira", ainda ancorados no golpe derrotado de 1932 contra Getúlio Vargas, não negociam com a sociedade, porque, antes de tudo e qualquer coisa, o status quo é alma e raiz da casa grande.


O ódio ao PT, às suas lideranças e aos seus eleitores está intrinsecamente ligado à hegemonia que a direita não quer perder, mesmo a saber que com o Partido dos Trabalhadores no poder jamais vai perdê-la. O PT é reformista, porque não é revolucionário. O governador Alckmin representa a elite que não aceita democracia e inclusão social, e, consequentemente, fecha escolas, a repetir Washington Luís, que disse: "A questão social é um caso de polícia". É isso aí. 
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