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02/12/2015
'Corra, primo do Serra, que a polícia vem aí'
Documentos da Lava Jato funcionam
como alertas a Gregório Marin Preciado, citado em mais de uma delação
premiada e em gravação que levou Delcídio à prisão
CC / Glauco Umbelino
por Helena Sthephanowitz
Gregorio Marin Preciado é apontado em propinas por sondas para a Petrobras (foto) e pela refinaria de Pasadena
"Corra, Gregório, corra! Antes que a PF bata na
porta!" A frase é uma ironia inspirada em uma realidade gritante, por
sua vez extraída da leitura de três documentos públicos – mas ignorados
pela mídia tradicional – da Operação Lava Jato.
O primeiro documento, de agosto, é a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quando faz referência a propinas pagas por Júlio Camargo para o fornecimento de sondas para a Petrobras.
Na página 40 do documento de denúncia lemos: "(...) a Empresa Iberbras Integracion de Negócios y Tecnologia S.A. – empresa offshore que recebeu três transferências relativas à propina das sondas (...) é ligada a Fernando Soares. Tanto assim que ele se identificou, por diversas vezes, como representante da Iberbras ao visitar a sede da Petrobras".
Na mesma página e na seguinte desta mesma denúncia, uma nota de rodapé informa: "(...) a referida empresa tem uma sucursal brasileira, Iberbras Integração de Negócios (...) registrada em nome de Hiládio Ivo Marchetti, marido de Cláudia Talan Marin, que por sua vez é proprietária do Condomínio Vale do Segredo (...) em Trancoso/BA (...). Fernando Soares possui uma mansão de luxo no mesmo condomínio (...) bem como realizou diversas transferências que beneficiaram Cláudia Talan Marin (...)."
Cláudia Talan Marin é filha de Gregório Marin Preciado, ex-sócio e casado com uma prima do senador José Serra (PSDB-SP) envolvido no caso Banestado – por esse parentesco, nos bastidores do poder Gregório é chamado de "primo" de Serra. Este assunto já foi tratado em matéria anterior aqui na Rede Brasil Atual.
Tornar públicas suspeitas antes de cumprir diligências funciona como aviso para o suspeito se precaver. E este foi só o primeiro aviso, como veremos adiante.
O segundo documento é o pedido de busca e apreensão feito pelo Ministério Público Federal (MPF) na segunda fase da Operação Lava jato. Em um trecho, é relatado o pagamento por Gregório de propina de US$ 15 milhões por parte da Astra Oil a Nestor Cerveró e outros gerentes e ex-gerentes da Petrobras na compra da refinaria de Pasadena, detalhada por Fernando Baiano em delação premiada.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o documento aponta que Gregório Preciado utilizou uma empresa sua para dar vazão à propina e ainda descreve uma conduta criminosa envolvendo US$ 15 milhões. Mas no mandado, "não veio ao caso" pedir busca e apreensão em endereços de Gregório, o primo do senador tucano Serra.
Independentemente de qual tenha sido a intenção, o fato é que funcionou como outro aviso a Gregório.
O terceiro documento é a transcrição da gravação feita por Bernardo Cerveró, filho de Nestor, divulgada na semana passada e que levou o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) à prisão. Eis o trecho:
DELCIDIO: E você vê como é que ele é matreiro. A delação, quando ele conta quando me conheceu quando eu era diretor (da Petrobras no governo FHC) e o Nestor era gerente que ele foi apresentado a mim por um amigo. Ele poupou o Gregório Marin Preciado.
(...)
DELCIDIO: E as conversas que nós ouvimos é que numa dessas reuniões que ocorreram, eu não sei com relação a qual desses projetos, houve uma reunião dessa na Espanha que os caras já rastrearam quem tava nessa reunião e existia um espanhol nessa reunião que eles não souberam identificar quem era. Bingo!
EDSON: Gregório.
DELCIDIO: Ou seja o Fernando tá na frente das coisas mas atrás quem organiza é o Gregório Marin. O Serra me convidou para almoçar outro dia e ele rodeando no almoço rodeando que ele é cunhado do Serra. (Ênfase em verde negritado é do ContrapontoPIG)
BERNARDO: José Serra.
DELCIDIO: E uma das coisas que eles levantaram, houve uma reunião na Espanha, eu não sei se sobre sonda, se sobre Pasadena, mas houve uma reunião na Espanha. Existia um espanhol na reunião que não foi identificado. É o Gregório... É o Gregório... Não sei se, o Nestor conheceu o Gregório.
Ao ser tornada pública, sem nenhuma diligência sobre Preciado e suas empresas, esta gravação funciona como mais um aviso ao "primo". É como se um vulto fantasmagórico da Lava Jato gritasse: "Ô espanhol, vê se te manda, senão a PF vai ser obrigada a te pegar".
Preciado tem cidadania espanhola, e se viesse a ser denunciado no Brasil, haveria dificuldade em conseguir a extradição, pelo menos antes de condenação definitiva. Paradoxalmente, a própria banalização das prisões preventivas, só relaxadas mediante delações premiadas, seria argumento bastante forte para dificultar a extradição. No mínimo atrasaria o processo criminal.
É bem possível que, sobre essa transação específica da Astra com a Iberbras, o Ministério Público já tenha documentação suficiente sobre o caminho do dinheiro. Mas por que não fazer busca e apreensão nas empresas e nos endereços do "primo" do Serra, como foi feito com todos os outros alvos da Operação Lava Jato?
O único "perigo" é encontrar o que "não veio ao caso" até hoje? Por exemplo, rastros no armário do "petrolão tucano", as já conhecidas movimentações no caso Banestado, ou até quadros da oposição que mantiveram esquemas clandestinos de corrupção mesmo estando oficialmente fora do governo.
Tudo isso lembra muito o que foi noticiado no caso do senador José Agripino Maia (DEM-RN), investigado por receber propina sobre a obra da Arena das Dunas. É também semelhante ao caso do ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, acusado de ter recebido propina para abafar a CPI da Petrobras de 2009.
E tem semelhança, ainda, com tantas outras histórias que cercam alguns de nossos políticos. E muito da nossa imprensa.
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O primeiro documento, de agosto, é a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quando faz referência a propinas pagas por Júlio Camargo para o fornecimento de sondas para a Petrobras.
Na página 40 do documento de denúncia lemos: "(...) a Empresa Iberbras Integracion de Negócios y Tecnologia S.A. – empresa offshore que recebeu três transferências relativas à propina das sondas (...) é ligada a Fernando Soares. Tanto assim que ele se identificou, por diversas vezes, como representante da Iberbras ao visitar a sede da Petrobras".
Na mesma página e na seguinte desta mesma denúncia, uma nota de rodapé informa: "(...) a referida empresa tem uma sucursal brasileira, Iberbras Integração de Negócios (...) registrada em nome de Hiládio Ivo Marchetti, marido de Cláudia Talan Marin, que por sua vez é proprietária do Condomínio Vale do Segredo (...) em Trancoso/BA (...). Fernando Soares possui uma mansão de luxo no mesmo condomínio (...) bem como realizou diversas transferências que beneficiaram Cláudia Talan Marin (...)."
Cláudia Talan Marin é filha de Gregório Marin Preciado, ex-sócio e casado com uma prima do senador José Serra (PSDB-SP) envolvido no caso Banestado – por esse parentesco, nos bastidores do poder Gregório é chamado de "primo" de Serra. Este assunto já foi tratado em matéria anterior aqui na Rede Brasil Atual.
Tornar públicas suspeitas antes de cumprir diligências funciona como aviso para o suspeito se precaver. E este foi só o primeiro aviso, como veremos adiante.
O segundo documento é o pedido de busca e apreensão feito pelo Ministério Público Federal (MPF) na segunda fase da Operação Lava jato. Em um trecho, é relatado o pagamento por Gregório de propina de US$ 15 milhões por parte da Astra Oil a Nestor Cerveró e outros gerentes e ex-gerentes da Petrobras na compra da refinaria de Pasadena, detalhada por Fernando Baiano em delação premiada.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o documento aponta que Gregório Preciado utilizou uma empresa sua para dar vazão à propina e ainda descreve uma conduta criminosa envolvendo US$ 15 milhões. Mas no mandado, "não veio ao caso" pedir busca e apreensão em endereços de Gregório, o primo do senador tucano Serra.
Independentemente de qual tenha sido a intenção, o fato é que funcionou como outro aviso a Gregório.
O terceiro documento é a transcrição da gravação feita por Bernardo Cerveró, filho de Nestor, divulgada na semana passada e que levou o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) à prisão. Eis o trecho:
DELCIDIO: E você vê como é que ele é matreiro. A delação, quando ele conta quando me conheceu quando eu era diretor (da Petrobras no governo FHC) e o Nestor era gerente que ele foi apresentado a mim por um amigo. Ele poupou o Gregório Marin Preciado.
(...)
DELCIDIO: E as conversas que nós ouvimos é que numa dessas reuniões que ocorreram, eu não sei com relação a qual desses projetos, houve uma reunião dessa na Espanha que os caras já rastrearam quem tava nessa reunião e existia um espanhol nessa reunião que eles não souberam identificar quem era. Bingo!
EDSON: Gregório.
DELCIDIO: Ou seja o Fernando tá na frente das coisas mas atrás quem organiza é o Gregório Marin. O Serra me convidou para almoçar outro dia e ele rodeando no almoço rodeando que ele é cunhado do Serra. (Ênfase em verde negritado é do ContrapontoPIG)
BERNARDO: José Serra.
DELCIDIO: E uma das coisas que eles levantaram, houve uma reunião na Espanha, eu não sei se sobre sonda, se sobre Pasadena, mas houve uma reunião na Espanha. Existia um espanhol na reunião que não foi identificado. É o Gregório... É o Gregório... Não sei se, o Nestor conheceu o Gregório.
Ao ser tornada pública, sem nenhuma diligência sobre Preciado e suas empresas, esta gravação funciona como mais um aviso ao "primo". É como se um vulto fantasmagórico da Lava Jato gritasse: "Ô espanhol, vê se te manda, senão a PF vai ser obrigada a te pegar".
Preciado tem cidadania espanhola, e se viesse a ser denunciado no Brasil, haveria dificuldade em conseguir a extradição, pelo menos antes de condenação definitiva. Paradoxalmente, a própria banalização das prisões preventivas, só relaxadas mediante delações premiadas, seria argumento bastante forte para dificultar a extradição. No mínimo atrasaria o processo criminal.
É bem possível que, sobre essa transação específica da Astra com a Iberbras, o Ministério Público já tenha documentação suficiente sobre o caminho do dinheiro. Mas por que não fazer busca e apreensão nas empresas e nos endereços do "primo" do Serra, como foi feito com todos os outros alvos da Operação Lava Jato?
O único "perigo" é encontrar o que "não veio ao caso" até hoje? Por exemplo, rastros no armário do "petrolão tucano", as já conhecidas movimentações no caso Banestado, ou até quadros da oposição que mantiveram esquemas clandestinos de corrupção mesmo estando oficialmente fora do governo.
Tudo isso lembra muito o que foi noticiado no caso do senador José Agripino Maia (DEM-RN), investigado por receber propina sobre a obra da Arena das Dunas. É também semelhante ao caso do ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, acusado de ter recebido propina para abafar a CPI da Petrobras de 2009.
E tem semelhança, ainda, com tantas outras histórias que cercam alguns de nossos políticos. E muito da nossa imprensa.
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