21/05/2016
Mata, enterra, recria. E tem “compromisso pleno” com a Cultura?
Por Jari da Rocha, colaboração para o Tijolaço
Quando o sujeito, diante de uma arma apontada, ouve aliviado, que o criminoso não vai mais matá-lo, mas só roubar e agradece por isso – afinal de contas era a sua vida que estava em jogo – está aceitando ser roubado a hora que o bandido bem entender.
Se for pra viver com medo, pra que viver?
Temer não tinha moral para extinguir o Ministério da Cultura por várias razões. A mais importante é sobre a legitimidade que ele não tem. A segunda pela estupidez ou cinismo (era vingançazinha contra os artistas?) de dizer que o motivo de criar um puxadinho da Cultura era por razões de economia.
Alias, o lero lero de contingenciamentos, cortes, ajustes e arrochos sempre têm, por fim, esconder a real necessidade de superávit primário, e garantir o troco dos rentistas, a partir de uma visão grosseira de particularidades de uma república. Como se fossem detalhes que não vem ao caso.
Essa turma nunca deu importância para cultura, principalmente se considerar o que eles entendem por cultura. Desconsideram que há, inevitavelmente, duas vertentes básicas que confundem.
Uma delas, a mais visível, tem relação com o mercado cultural, cuja lógica depende de viabilidade econômica que, portanto, tem caráter mais popular, reproduzindo a lógica do entretenimento (matar o tempo).
Essa lógica se baseia no número de vezes que o nome do artista, ou de seu produto, apareceu nos meios de comunicação e considera números de público, números de vendas, marketing e, por fim, a viabilidade mercadológica.
O resultado disso é uma produção repetitiva com linguagem facilitada que não desafia, na maioria das vezes, um só neurônio das cabeças já vazias de tanto entretenimento.
A outra, que podemos chamar de cultura propriamente dita, tem como razão primordial a insurgência, a insubmissão e não tem que, obrigatoriedade, agradar. Ao contrário, a razão é justamente incomodar e funcionar a partir do caráter transformador da sociedade.
Temer não está recriando o Minc por essas razões e o pronunciamento do interino da educação, Mendonça Filho, dizendo que “A decisão de recriar o Minc é um gesto do presidente Temer no sentido de serenar os ânimos e focar no objetivo maior: a cultura brasileira.” É ainda pior.
Pior porque é mentiroso. Não é para serenar coisa nenhuma, o recado já foi dado antes, quando queriam matar o MinC.
Além disso, que tipo de recriação seria essa? Dá pra imaginar quais políticas de cultura serão estabelecidas a partir de agora. Eles não entendem nem de uma nem de outra coisa.
Cultura não é boquinha.
Portanto, se for pra viver com medo de quem finge ter uma arma na mão, então, o melhor a fazer é dizer: atire se tem coragem!
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