24/05/2016
Bernardo Melo Franco e o áudio de Jucá: os fatos como são e as perguntas que não são feitas.
Por Fernando Brito
Bernardo de Melo Franco vai se tornando, a cada dia mais, leitura indispensável a quem quer entender a política do jeito que ela é praticada no Brasil. Seu artigo, hoje, na Folha, descreve crua e diretamente o episódio da gravação do diálogo entre Romero Jucá e Sérgio Machado, as razões reais do PMDB ter se passado inteiro ao golpismo.
De quebra, levanta as questões que o jornalismo deveria, agora, estar levantando todo o tempo, embora não se tenha visto ninguém ir ouvir ninguém sobre os gravíssimos fatos que Jucá descreve sobre o STF, os comandos militares e a seletividade das delações premiadas.
Bom ver que ainda tem gente que trata os fatos para além da casca.
A solução mais fácil
Bernardo de Melo Franco, na Folha
Dois políticos em fuga discutem uma saída para escapar da polícia. “Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria”, diz o mais afoito. “Tem que ser uma coisa política e rápida”, emenda o colega.
A conversa avança em tom de urgência. “Tem que demorar três ou quatro meses no máximo”, afirma o primeiro interlocutor. É a deixa para o outro fazer a proposta: “Rapaz, a solução mais fácil é botar o Michel”. Assim foi feito. E foi fácil mesmo.
O diálogo entre Romero Jucá e Sérgio Machado ajudará os historiadores do futuro a explicar o impeachment de 2016. O desastre na gestão da economia, as trapalhadas na articulação política e as prisões de dirigentes do PT ajudaram a empurrar Dilma para a beira do abismo.
Mas o medo do camburão, que deu o tom da conversa, foi o fator decisivo para estilhaçar a aliança parlamentar que sustentava o petismo. Esse medo alçou Michel Temer ao comando do que já se chamou, com elegância, de novo bloco de poder.
A gravação revelada pela Folha atesta como os investigados viram no impeachment a “solução mais fácil” para frear a Lava Jato, que ameaçava desmontar todo o sistema partidário.
“É um acordo. Botar o Michel num grande acordo nacional”, diz Machado. “Com o Supremo, com tudo”, responde Jucá. “Com tudo. Aí parava tudo”, continua o ex-presidente da Transpetro. “É, delimitava onde está. Pronto”, arremata o senador.
A queda de Jucá, que durou apenas 12 dias como ministro da junta de salvação nacional, é a consequência menos importante do episódio. Agora é preciso esclarecer as questões que o grampo deixou no ar.
As delações dos empreiteiros são mesmo “seletivas”, como afirma Jucá? Ministros do Supremo teriam aceitado participar de um acordão, como sugere o senador? O que os comandantes militares prometeram “garantir”? E Temer, o que pretendia fazer com a Lava Jato em nome de um “grande acordo nacional”?
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