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23/05/2016
“É um escândalo”, diz Berzoini sobre conversa entre Jucá e Machado
Jornal GGN – O
ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, comentou o
vazamento dos diálogos entre o ministro interino do Planejamento,
Romero Jucá, e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado,
investigados na Operação Lava Jato. Na conversa, realizada antes da
votação do impeachment na Câmara dos Deputados, os dois falam sobre a
necessidade de mudar o governo para deter as investigações.
Para Berzoini, o teor do diálogo
“demonstra a verdadeira razão do golpe contra a democracia e o mandato
de Dilma Rousseff”. “O objetivo é frear a Lava Jato. O objetivo é
empurrar para baixo do tapete as investigações”, disse. “O diálogo não
deixa dúvidas. Mostra um pretendente a ser ministro do golpe conversando
com uma pessoa que estava sendo investigada e eles tentando tramar para
encontrar no impeachment a forma de refrear as investigações de
apuração dos crimes praticados”.
O ex-ministro afirmou que o povo
brasileiro tem o direito de saber tudo sobre essas gravações. “É um
escândalo, é uma vergonha, é um produto de um governo golpista de
Eduardo Cunha, Michel Temer e Romero Jucá. É algo que precisa ser
investigado com profundidade. Precisamos imediatamente exigir a demissão
de Romero Jucá e a investigação da relação de Michel Temer com esse
diálogo”.
Abaixo, os trechos da conversa entre Jucá e Machado disponibilizados pela Folha:
Sérgio Machado - Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.
Romero Jucá - Eu ontem
fui muito claro. [...] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a
situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser
ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a
expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a
CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto
ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O
Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
Machado - Agora, ele acordou a militância do PT.
Jucá - Sim.
Machado - Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.
Jucá - Eu acho que...
Machado - Tem que ter um impeachment.
Jucá - Tem que ter impeachment. Não tem saída.
Machado - E quem segurar, segura.
Jucá - Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.
Machado - Acontece o
seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez
[autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo
mundo delatar.
Jucá - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
Machado - Odebrecht vai fazer.
Jucá - Seletiva, mas vai fazer.
Machado - Queiroz
[Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou
não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O Janot
[procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu
sou o caminho.
[...]
Jucá - Você tem que ver
com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser
política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a
política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra
poder estancar essa sangria.
[...]
Machado - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
Jucá - Só o Renan
[Calheiros] que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel,
porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o
Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá - Com o Supremo, com tudo.
Machado - Com tudo, aí parava tudo.
Jucá - É. Delimitava onde está, pronto.
[...]
Machado - O Renan
[Calheiros] é totalmente 'voador'. Ele ainda não compreendeu que a saída
dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem
ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida,
sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso
não.
Jucá - Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
***
Machado - A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado...
Jucá - Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com...
Machado - Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
Jucá - Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].
Machado - Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
Jucá - Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.
[...]
Machado - O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
Jucá - Todos, porra. E vão pegando e vão...
Machado - [Sussurrando]
O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os
deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto]
Amigo, eu preciso da sua inteligência.
Jucá - Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.
Machado - Porque se a gente não tiver saída... Porque não tem muito tempo.
Jucá - Não, o tempo é emergencial.
Machado - É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.
Jucá - Vá atrás. Eu
acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? [...]
Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve
falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas
todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles
ponderaram pra gente conversar.
Machado - Acha que não pode ter reunião a três?
Jucá - Não pode. Isso
de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras
já enxergam outra coisa que não é... Depois a gente conversa os três sem
você.
Machado - Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.
***
Machado - É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...
Jucá - Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.
Machado - O Aécio,
rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não
sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de
campanha do PSDB...
Jucá - É, a gente viveu tudo.
***
Jucá - [Em voz baixa]
Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só
tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a
imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'.
Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes
militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão
monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
Machado - Eu acho o
seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é
mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande
acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma,
ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo
ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo
Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso
da Lava jato]
Jucá - Os caras fizeram
para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira
obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato
violento...
Machado - ...E burro [...] Tem que ter uma paz, um...
Jucá - Eu acho que tem que ter um pacto.
[...]
Machado - Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.
Jucá - Não tem. É um
cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara... Burocrata da...
Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].
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