A mensagem popular é clara: fora com os usurpadores!
Brasil 247 - 20/05/2016
Wanderley Guilherme dos Santos
O governo interino de Michel Temer age com a truculência de força de
ocupação em território estrangeiro: desconsidera a história local,
subverte os laços de solidariedade e cancela as políticas aprovadas
coletivamente. Mesmo um governo de oposição eleito segundo as regras do
jogo evita bagunçar a vida da comunidade, e não só porque os padrões de
relacionamento entre o poder público e os grupos da sociedade estão
incorporados ao cálculo de futuro das pessoas. A prudência recomenda
reconhecer que são vocacionadas para o fracasso as tentativas de apagar
completamente os vestígios dos antecessores. O custo seria elevadíssimo,
a fraude descomunal e o desmascaramento certo. Explicam-se, portanto,
as idas e vindas das autoridades interinas, a atabalhoada adoção de
políticas antes anunciadas pelo governo destituído e a pirraça de
renomear o que já existe. Baratas tontas enfurecidas e míopes. Acresce o
comprovado envolvimento em traficâncias da maioria dos mandachuvas
interinos, com previsão de que não causará surpresa se o próprio
presidente precário vier a ser exposto como estrela da turma. Tudo
depende da capacidade dos líderes da Lava-Jato e outros figurões de
continuar filtrando o resultado de delações, batidas espetaculares e
conduções coercitivas. Até agora os golpistas têm conseguido levar a
vida na flauta, sorridentes, deputados, senadores e ministros, embora o
júbilo proporcionado pelo sucesso do assalto esteja sendo substituído,
em todos, por caras de paisagem.O impacto farsesco contamina o Supremo Tribunal Federal, obrigado a empenhar monumental esforço para emprestar ração modestíssima de autenticidade a deliberações de teor antecipado em editoriais intimidantes. Não há como disfarçar a repetida coincidência entre o desempenho do judiciário e o interesse de apressados golpistas. Nem escapa ao conhecimento da opinião pública a voracidade rentista da corporação, embaralhando tratativas constitucionais com irrefreável apetite salarial e por benesses colaterais. Destituído de solenidade crível, a teatralidade das sessões e a linguagem pedantemente rococó, quando não francamente charlatanesca (em despacho, o juiz Sergio Moro registra sua “cognição sumária”, pois aos iniciados não sucedem pedestres “primeiras impressões”), são como cartas de amor, embaraçosamente ridículas. Sem a inocência do lirismo de Fernando Pessoa, contudo.
Nada se sustenta. Podem os interinos tentar seduzir a audiência com
promessas de executar um salto mortal triplo, sem rede, mastigar sem
hesitação lápides fúnebres e beber seis taças de mercúrio cromo. Tirante
a irrelevância das fanfarronadas, nem essas são honradas por
usurpadores. Cabe aos eleitores afanados de seus direitos recusar-lhes
obediência, interpelar a infalibilidade do Supremo Tribunal Federal por
infidelidade constitucional e manter o democrático escracho, forma de
coação moral dentro da legalidade, até que os usurpadores renunciem ou
saiam eleitoralmente derrotados em 2016 e 2018. Pactos laterais
constituiriam assassinato pelas costas ao enorme contingente de
brasileiros que, desde logo, sublevou-se contra o golpe parlamentar.

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