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28/05/2016
A República das Bananas dos interinos, por Pepe Escobar
Do Sputnik News
Brasil: República das Bananas dos Escroques Provisórios
Por Pepe Escobar (em inglês, no Sputnik News)
Parece
que todos os pervertidos políticos do planeta estão conectados na
atual House of Cards à brasileira, para oferecer festim sem interrupção
de emoções baratas.
Pepe Escobar
A mais recente reviravolta do script foi
o vazamento de conversa entre um dos operadores chaves envolvidos no
escândalo de corrupção na gigante Petrobras e um senador que acabou por
ter vida curta como Ministro do Planejamento do governo provisório
usurpador que atualmente substitui a presidenta Dilma Rousseff, enquanto
ela enfrenta processo de impeachment pelo Senado.
O vazamento pode ser descrito como rápida autópsia do que, desde o início nunca passou de golpeachment;
mistura de "golpe" e "impeachment" que aconteceu em votação em duas
etapas no Congresso (Câmara de Deputado e Senado) do Brasil, e quando
uma conhecida congregação de escroques investigados por incontáveis
crimes e infrações tomaram o poder em Brasília, numa espantosa ópera
bufa. Para mim, são a República das Bananas dos Escroques Provisórios
(ReBEP).
Conheçam o Morto Vivo interino
O vazamento/autópsia revelou como
avançou o câncer ReBEP. Um dos conspiradores-chefe delineou o golpe;
explica que é indispensável proteger a cleptocracia/plutocracia
brasileira contra consequências não desejadas da investigação da
corrupção que já dura dois anos, chamada "Operação Lava-jato"; e como a
esquerda – da presidenta Rousseff até Lula e o Partido dos
Trabalhadores, PT – têm de ser criminalizados a qualquer custo.
O resto seria história, inclusive a
demolição – pela imposição de uma restauração neoliberal – dos direitos
sociais e trabalhistas recentemente conquistados no Brasil; reversão
total na política exterior, com as relações geopolíticas e geoeconômicas
devolvidas ao quadro mental mais colonizado que o Brasil conheceu; e o
restabelecimento no poder hegemônico, de uma classe conservadora,
neoliberal rentista, com plenos poderes sobre uma sociedade que chegou a
ser democrática e socialmente orientada.
Combina perfeitamente com a atual
configuração do Congresso brasileiro hoje dominado por interesses "BBB" –
as bancadas do Boi (o poderoso lobby do agronegócio); da Bala
(o complexo de armas e da segurança privada); e da Bíblia (fanáticos
evangélicos) – todos esses apoiados pela mídia-empresa. Muitos desses
impalatáveis personagens são conectados e/ou representam a tóxica
aristocracia rural brasileira – que são de fatos herdeiros de títulos
nobiliárquicos distribuídos aos proprietários de escravos do Brasil
colonial.
Tudo estava indo muito bem nos primeiros
dias – e até o ex-presidente da Câmara de Deputados e escroque
conhecido, Eduardo Cunha, havia sido temporariamente afastado; Cunha –
coordenador de uma máfia de financiamento de campanhas eleitorais dentro
do Congresso – atuava como um primeiro-ministro de facto do então vice-presidente fantoche e hoje presidente interino Michel Temer.
Temer O Usurpador – que na
verdade pode tornar-se Temer O Breve – sempre esteve sob sítio, desde
que tomou o poder. A impopularidade do homem alcança níveis de Kim
Jong-Un reverso, e já chega a quase 99%. A vasta maioria dos brasileiros
o quer impichado. É mencionado em vários escândalos de corrupção. Hoje,
nada faz além de nomear, como nomeador serial, lista que parece
infinita de ministros envolvidos, eles também, em incontáveis escândalos
de corrupção.
Problema é que a gangue da República das
Bananas dos Escroques Provisórios (ReBEP) simplesmente não pode
separar-se de Temer [vice-presidente legal, cuja presença no atual
governo é o único tênue fiapo de legalidade que ainda impede que o
golpeachment seja exposto como o golpe que é (NTs)] – porque sem Temer a
gangue golpista perde todo o poder.
O vazamento do Diálogo dos Grandes
Escroques prova conclusivamente que a Operação Lava-jato foi
instrumentalizada para criminalizar o Partido dos Trabalhadores e
derrubar a presidenta Rousseff, ao mesmo tempo em que a farsa do
golpeachment avançava paralelamente, de modo a assegurar que forças
políticas tradicionais jamais fossem apanhadas na rede da Lava-jato.
O Diálogo dos Grandes Escroques
aconteceu há mais de dois meses – e vazou pelo menos três semanas antes
de a farsa do golpeachment alcançar o auge naquela sinistra, medonha sessão de votação na Câmara dos Deputados.
O que nos leva a uma questão chave: por que o procurador-geral e o juiz
federal da vara de Curitiba encarregados da investigação chamada
Lava-jato não revelaram aquela informação e/ou por que não tomaram
qualquer medida imediata?! Porque se o Judiciário brasileiro tivesse
revelado as informações contidas no Diálogo dos Grandes Escroques – e
tomado as medidas cabíveis – o golpeachment teria de ter sido abortado.
O fato de nada ter vazado há dois meses
enche de suspeitas todas as cabeças e mentes sérias do país. No Diálogo
dos Grandes Escroques o senador Romero Jucá fala com [Sérgio Machado, da
Transpetro] conhecido nodo numa cadeia de corrupção histórica que
existe dentro da gigante petroleira Petrobras desde os governos de
Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990s. Atuou na alta cúpula da
administração de todos os governos no Brasil, ao longo dos últimos 22
anos. Implica que o senador sempre foi o Escroque em Chefe e escroque
leva-e-traz de seu partido político, o PMDB.
Mas nada disso sequer se aproxima da
gravidade que é a dupla admitir que toda a agenda oculta do golpeachment
visou a deter as investigações de corrupção, e foi parte de acordo mais
amplo e que envolveu seletos juízes da Suprema Corte no Brasil. Se não
se tratasse da House of Cards à brasileira, toda a conspiração desse golpeachment teria de já ter sido declarada nula e sem efeitos.
Mas, como venho dizendo e insistindo desde as primeiras escaramuças, o golpe em curso no Brasil é sofisticada operação político-financeira-'jurídica'-midiática tipo Guerra Híbrida. E será muito difícil deslindá-la.
A lógica do escândalo perpétuo
Como se pode ver, os historiadores do
futuro já receberam o resumo da narrativa a reproduzir – bem clara no
Diálogo dos Grandes Escroques: o golpeachment de 2016 foi trama urdida
por um bando de políticos canalhas, fazendo de tudo para escapar da
prisão.
Temer o Breve, fantoche de
segunda categoria, já está sob sítio. Os dois agentes que o manipulam –
Cunha, o ex-presidente da Câmara de Deputados; e Jucá, seu ex-ministro
do Planejamento de curto mandato – estão agora obrigados a só operar nas
sombras. Na prática, significa que conseguir que o Congresso aprove
políticas econômicas profundamente impopulares será ainda mais difícil.
O reinado de Temer O Breve é
indiscutivelmente ilegítimo. Ninguém; já ninguém está engolindo a farsa,
nem os atores privilegiados – a Deusa do Mercado, sortimento variado de
empresários e até alguns setores da mídia-empresa dominante. Ao mesmo
tempo, a rua brasileira não se calará. Essa é a estratégia de Rousseff e
do Partido dos Trabalhadores, PT (mas não basta).
Assim sendo... o que acontecerá na
sequência? A única via para que Rousseff seja reinvestida na presidência
é que ela e seu partido construam narrativa crível das prioridades do
país, com vistas às eleições presidenciais de 2018. Implica muita
conversa de bastidores e muita negociação política – áreas em que
Rousseff não é muito competente.
A nova normalidade no Brasil – já descrita como o novo presidencialismo condominial –
envelopa agendas conflitantes, sem qualquer consenso à vista. Deve-se
esperar que a nação permaneça atolada, ainda por muito tempo, na lógica
do escândalo perpétuo.
A variável chave de agora em diante é
como a gangue da República das Bananas dos Escroques Provisórios
manobrará – possivelmente ilegalmente – para manter-se agarrada ao
poder. O Ministério Público e a Polícia Federal estão completamente
politizadas. Cada vez mais se vê que não há poderes de mediação. A
gangue da República das Bananas dos Escroques Provisórios, ReBEP, não
arrastará prisioneiros. O Ministério Público sairá à caça de Lula; e o
Procurador Geral tentará bloquear qualquer possibilidade de Rousseff ser
reposta no poder.
Enquanto isso, os social-democratas
neoliberais – associados de cama e mesa da gangue da República das
Bananas dos Escroques Provisórios – continuarão a avançar a própria
agenda: privatizações hardcore; bandeja para entregar a exploração dos depósitos de petróleo do pré-sal ao Big Oil dos EUA; almofadinhas para se ajoelharem como vassalos aos pés de Washington. Basta examinar o interesse extremo que o Departamento de Justiça dos EUA tem
mostrado por tudo que tenha a ver com a investigação Lava-jato, e logo
se percebe que Washington está profundamente interessada no desmonte das
principais empresas brasileiras.
E quanto aos BRICS?
No momento, o Brasil está globalmente
isolado. Só Maurício Macri, presidente argentino amigo dos fundos
abutres, reconheceu até agora o governo golpista da gangue da República
das Bananas dos Escroques Provisórios. A República das Bananas dos
Escroques Provisórios idolatra Macri, como se fosse a Beyoncé;
absolutamente a-do-ra Macri, matador de um ciclo de governos inclusivos
na Argentina.
Washington
ainda não teve colhões para reconhecer oficialmente os Escroques no
Poder –, e passou a tarefa a escalões inferiores, como o embaixador
interino na OAS. Mas a mensagem é claríssima: o golpeachment é legal, e
Washington confia nas "instituições democráticas" do Brasil. MUITO
DIFERENTE do Ministério de Relações Exteriores da Rússia, que alertou
contra "interferência estrangeira" nos assuntos do Brasil.
O novo ministro de Relações Exteriores –
perdedor insistente de (perdeu duas vezes) eleições presidenciais
vencidas pelo Partido dos Trabalhadores – não demorou a lançar sua
política gloriosa de Vassalo do Big Capital de Washington/EUA. E
já lançou "ameaça" velada contra Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bolívia,
Equador e El Salvador. O Mercosul será posto de lado, em favor da
Aliança do Pacífico – na qual México, Peru e Colômbia já se meteram sob a
saia de Washington. Unasul será isolada.
E na sequência, o sorvete azedado no
bolo dos escroques: o "B" de BRICS é posto para dormir. Significa que o
papel do Brasil no banco dos BRICS estará muito gravemente prejudicado.
Claro: o grupo BRICS nunca foi grupo homogêneo e sempre viveu eivado de
interesses conflitantes. Por exemplo, o acordo de partilha nuclear da
Índia com os EUA efetivamente acabresta o país, sob controle dos EUA. A
próxima reunião dos BRICS acontecerá na Índia, em outubro. O Brasil está
exposto à vergonha de aparecer lá representado pela gangue da República
das Bananas dos Escroques Provisórios.
Entrementes, que ninguém se engane:
assim como a investigação Lava-jato já foi exposta como processo
político não judicial – para o qual combater a corrupção não passa de
cobertura útil – a República das Bananas dos Escroques Provisórios e
seus aliados e agentes farão de tudo para se livrarem das eleições
diretas à presidência marcadas para 2018. E assim, eis o lamentável mapa
do caminho até 2018: rumo ao mais total caos nos campos político,
econômico, social e judiciário.
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