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18/04/2017
Um ano para não esquecer – Por João Ricardo W. Dornelles
Do Blog da Cidadania - 17/04/2017
Por João Ricardo W. Dornelles – 17/abril/2017
Estou neste momento no Porto, Portugal. Há exatamente um ano atrás, 17 de abril de 2016, também encontrava-me por aqui. Era um domingo de sol, início da primavera no hemisfério norte. Na época, passei o dia todo conectado nas redes sociais acompanhando as mobilizações em diversas partes do Brasil e do mundo. Afinal, naquele dia estaria em jogo a democracia brasileira e a legitimidade do sufrágio que elegeu para um segundo mandato a Presidenta Dilma Rousseff.
Há um ano atrás, na noite do dia 17 de abril, corri para frente da TV , ligado na RTP e na SIC, com o laptop ligado na TV BRASIL, acompanhando o destino da democracia e do povo brasileiro com a votação na Câmara do Deputados. Aqui, quatro horas a mais do que no Brasil, entrei madrugada adentro e foi uma noite dos horrores. Não só para mim, para os jornalistas portugueses que faziam a resenha do evento. Mas, principalmente, uma noite de horrores para o povo brasileiro. Ali se desnudou o Brasil profundo, os cinco séculos de privilégios de poucos e submissão das maiorias; ali revelou-se o país dos coronéis, das oligarquias arcaicas, da Casa Grande, do permanente escravismo, a incultura, dos colonizados. Ali tivemos a certeza de que este país ainda terá que fazer a sua verdadeira revolução, nunca realizada. A sua “Revolução Francesa”, a sua entrada verdadeira na modernidade, já que a nossa modernidade conservadora sempre foi cruel e perversa com o nosso povo. Jamais foi emancipadora, como outras modernidades que derrotaram o passado de opressões e explorações.
Há um ano atrás o medo foi o que marcou as vidas dos brasileiros. O medo de perder os poucos (mas fundamentais) direitos garantidos em 13 anos de governos de centro-esquerda, de direitos conquistados na Constituição cidadã de 1988, direitos que foram conquistados na era Vargas.
Há um ano atrás começamos a seguir o caminho do passado. Um passado violento, intolerante, injusto e genocida. Em um ano vimos direitos trabalhistas, previdenciários, de minorias, grupos sociais irem ralo abaixo. Vimos o patrimônio nacional, que a todo povo pertence, ser entregue de bandeja, sem pudor ou cerimônia, ao capital internacional; a Petrobras perder seu valor de mercado e o Pré-Sal ser praticamente dado de graça para as petroleiras privadas internacionais; vimos o início da privatização do Aquífero Guarani, cedendo uma das maiores reservas de água doce do mundo para Nestlé e Coca Cola; vimos as maiores reservas de ouro, na Amazônia, serem privatizadas etc etc etc. Vimos o aumento das perseguições políticas e ideológicas, a censura ao jornalismo e blogs independentes, a repressão aumentando, o corte de programas sociais , a eleição de um aventureiro para prefeitura de São Paulo. E também vimos o surgimento de um governo sem voto, um governo de Temer-PSDB-Globo-STF, um governo “laranja” dos interesses do capital financeiro global.
Vimos o país perder o seu verde e o seu amarelo e se tornar cinza. Um cinza tão sintomaticamente representado nos muros de Dória em São Paulo.
Vimos o país regredir quase 100 anos em 365 dias. Vimos um país voltar a ser colônia de exploração comercial.
E, perplexos, atordoados, tristes, vimos o desemprego aumentar, a crise atingir a quase todos, inclusive aqueles que, com suas panelas e camisas amarelas, gozaram com a derrubada de Dilma e da democracia. Vimos a degradação moral das classes médias e mesmo de grande parte das classes populares. E vimos os vencedores verdadeiros (o grande capital financeiro) aumentando os seus quinhões na rapina, na pilhagem cínica, no saque generalizado que se iniciou com o governo golpista.
E, perplexos, atordoados, tristes, vimos o desemprego aumentar, a crise atingir a quase todos, inclusive aqueles que, com suas panelas e camisas amarelas, gozaram com a derrubada de Dilma e da democracia. Vimos a degradação moral das classes médias e mesmo de grande parte das classes populares. E vimos os vencedores verdadeiros (o grande capital financeiro) aumentando os seus quinhões na rapina, na pilhagem cínica, no saque generalizado que se iniciou com o governo golpista.
Um ano triste e infeliz.
Um ano para não esquecermos, pois a memória tem seu papel político. Um ano para definir, mais do que nunca, o nosso compromisso de luta pelas liberdades democráticas, contra o fascismo, contra a austeridade, pela integralidade dos direitos humanos e por uma sociedade mais solidária e justa.
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