terça-feira, 25 de abril de 2017

Nº 21.299 - "O que esperar da greve geral, um século depois?"


25/04/2017


O que esperar da greve geral, um século depois?



Do Blog do Kotscho - Publicado em 25/04/2017 às 10h20

grevefinal O que esperar da greve geral, um século depois?
Trabalhadores parados na greve geral de 1917 (Foto: Reprodução)


por Ricardo Kotscho

Julho de 1917.

Em meio à Primeira Grande Guerra Mundial, quase um século atrás, eclodia no Brasil a primeira greve geral de trabalhadores, que mereceu ampla cobertura do jornal O Estado de S. Paulo, hoje conhecido como Estadão, sob a rubrica "Agitações Operárias". Começou nas indústrias têxteis de São Paulo e se alastrou por todo o país. Durou trinta dias.

Abril de 2017.

Solenemente ignorada até aqui no noticiário da grande imprensa, é impossível prever o tamanho da greve geral marcada para esta sexta-feira, dia 28, véspera do feriadão de 1º de Maio, organizada por movimentos sociais e centrais sindicais contra a reforma da Previdência.

Aqui em São Paulo, por via das dúvidas, sem saber o que pode acontecer, muita gente já está desmarcando compromissos e antecipando viagens, temendo a paralisação dos transportes públicos. Aeroviários também ameaçam entrar em greve. As escolas deverão permanecer fechadas, inclusive as particulares.

A maior greve geral de que se tem notícia aconteceu em 1989, quando o país era presidido por José Sarney, do mesmo PMDB do atual presidente Michel Temer (por coincidência, ou não, os dois eram vices que assumiram os cargos). A paralisação nacional atingiu 70% da população economicamente ativa, calculada na época em 59 milhões de trabalhadores.

Cem anos atrás, quando não havia redes sociais e toda a parafernália das modernas tecnologias de comunicação, os jornais eram a principal, muitas vezes única fonte de informação.

Hoje, o cidadão comum, que não é ligado a sindicatos nem movimentos sociais, continua com dificuldades para saber o que vai parar, onde haverá protestos, que ruas serão fechadas, e procuram jornalistas para descobrir o que pode afetar a sua vida daqui a três dias.

Até as dez horas da manhã desta terça-feira, eu também não tinha informações precisas para oferecer, além dos releases da CUT que falam em parar o país.

As reivindicações foram assim resumidas:

"A Direção Nacional, reunida em Brasília, no dia 29 de março, deliberou pela organização da greve geral como ação estratégica da CUT para derrotar a reforma da Previdência, a reforma trabalhista e a terceirização propostas pelo governo ilegítimo de Michel Temer. Nenhum direito a menos!".

Na edição de 10 de julho de 1917, o Estadão informava desta forma o que os trabalhadores queriam (na grafia original):

"Desde ha dias a esta parte, alguns estabelecimentos fabris da capital têm paralisado o seu movimento, por que os operarios, acossados pela carestia da vida e pela miseria dos salarios, lançaram-se na greve como recurso que se lhes afigurou mais efficaz para o triumpho dos seus direitos".

Pelo jeito, nem tudo mudou um século depois.

Certo apenas é que esta será a primeira manifestação popular após o tsunami das delações da Odebrecht, que soterrou o mundo político-partidário nos escombros da corrupção. Até aqui, nem panelas foram ouvidas nas varandas.

Como no Brasil até o passado é imprevisível, segundo o ex-ministro Pedro Malan, melhor é aguardar o desenrolar dos acontecimentos, tomando emprestada a linguagem dos antigos locutores de rádio.

A depender das dimensões que esta greve geral tomar, poderá ser um divisor de águas no contestado governo de Michel Temer, que até agora não foi ameaçado pelo que mais teme (sem trocadilho): as ruas.

Vida que segue.

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