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04/07/2014
O povo despreza a elite
porque a elite despreza o povo
Do Tijolaço - 4 de Jul de 2013 | 14:01
por Fernando Brito
É impressionante a incapacidade da elite brasileira de compreender que um país é de seu povo.
Mais: que um país É seu povo.
Povo, para ela, não é a primeira, mas a terceira pessoa: são eles, não somos “nós”.
Hoje, O Globo secunda o Estadão e proclama: “há obstáculos insuperáveis (ao plebiscito sobre a reforma política) de duas ordens: de tempo e em relação ao conteúdo da consulta, ambos condicionados a preceitos constitucionais“.
Ah, sim, obstáculos insuperáveis. De tempo, porque temos um moderníssimo sistema de urnas eletrônicas – estão compradas e guardadas, prontinhas – que, claro, precisa de muito tempo para ser programado para registrar um sim ou não a cinco ou seis perguntas, distribuídas para os locais já definidos e experimentados em n eleições, para mesários que já estão nos cadastros dos tribunais eleitorais…
Se fossem os arcaicos papéis – cédulas de votação, coloquei aí na imagem uma, dos atrasados EUA para vocês lembrarem – e as pré- urnas dava tempo, o problema é que é informatizado, aí demora. A não ser que seja na “ditatorial” Venezuela, onde – também com urnas eletrônicas – Hugo Chávez morreu em 5 de março e as novas eleições foram em 14 de abril… Deu tempo, né?
Mas voltemos ao que diz O Globo:
“Como o prazo legal para a
promulgação das novas regras vencerá em 5 de outubro – a um ano das
eleições -, deputados e senadores contarão com menos de um mês para
metabolizar o resultado do plebiscito, transformá-lo em projetos,
discuti-los, emendá-los ou não, e aprová-los. Só em velocidade
supersônica.”
Os deputados e senadores não podem ir preparando, afinando e discutindo os projetos enquanto o povo decide em que direção quer ir e estar prontos para colocar em plenário e votar aquilo que emanar da vontade popular? Fariam o que, enquanto isso, nada?
Mas os “obstáculos”, diz O Globo, são maiores: a ignorância do povo…
“O outro obstáculo – o conteúdo da
consulta – parece também insuperável. A obscuridade do tema está
refletida nos itens sugeridos pela presidente Dilma ao Congresso, a quem
cabe formular as questões do plebiscito: “misto restrito”
(financiamento de campanha), “distrital puro” (sistema eleitoral), e por
aí vai.”
O tal “misto restrito” não fica fácil dizendo que é que tem fundo partidário – como já tem hoje – e apenas se proíbe o dinheiro de empresas, além de limitar em um valor a doação de pessoas físicas? E o “distrital puro” não fica simples quando se diz que se elege o mais votado em cada região?
A campanha para Presidente na TV tem 22 ou 23 dias, porque são 45 no total, dia sim, dia não. Não é o bastante?
Mas aí é que vem a receita global: desde quando é para dar confiança ao povo?
“Quanto tempo será necessário para tornar
o eleitorado “suficientemente esclarecido” sobre assuntos que para a
grande maioria parecem falados em língua extraterrestre? É sensato
concluir que o tema não é adequado para plebiscitos. Talvez um
referendo, e em 2016.”
Talvez um referendo… Em 2016…E olhe lá…Lambam os beiços…
Quando lhes serve para atacar o Governo é o povo exigindo nas manifestações, a voz das ruas…
Na urna, aí não pode. Não dá tempo e o povo “é burro”.
Mas, sejamos justos, O Globo não é muito diferente de nossas elites políticas. O povo, para eles, é um ente distante, que só serve para legitimar os seus privilégios e poderes, uma massa destinada a ser consumida pelos interesses econômicos e amassada pelas suas conveniências políticas.
Se o povo cobra, dizem: devo, não nego, pago quando puder.
Porque precisamos respeitar o lazer e o descanso de suas excelências, deputados, senadores, juízes, etc…E o porque “vocês não entendem nada disso”, não podem decidir senão quando “os educarmos” bem direitinho.
Temos elites que desprezam o povo brasileiro.
Natural, portanto, que o povo brasileiro as despreze.
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