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12/05/2016
Como a plutocracia reduziu o Brasil a uma mistura de Honduras e Paraguai. Por Paulo Nogueira
Em 2006, numa visita à Alemanha, fiquei impressionado com a
reverência que a revista semanal Spiegel, de centro esquerda, inspira
entre os alemães.
Um jornalista de outra revista me contou que esperava ansiosamente chegar o novo exemplar da Spiegel para ler os textos de seu articulista favorito. “Ficava triste quando o artigo terminava”, me disse ele.
No aeroporto, ao voltar ao Brasil, quis comprar a Spiegel da semana. O vendedor ficou ofendido com a maneira errada como pronunciei o nome da revista. Só me entregou quando falei direito: “Ishipíguel”.
Contei essa história porque vi a reação do seu correspondente no Brasil Jens Glüsing ao golpe. O título da reportagem no site é “Um país perde”.
Escreveu Glüsing: “O drama em torno da presidente é um vexame para um país afundado na crise.” (…) “O grande e orgulhoso Brasil terá que se resignar a, no futuro, ser citado por historiadores ao lado de Honduras e Paraguai – e não só por causa de apresentações bizarras de seus deputados. Também em Honduras e Paraguai, presidentes eleitos foram afastados de forma questionável do cargo.”
O “espetáculo indigno” dos políticos brasileiros “prejudicou de forma duradoura as instituições e a imagem do país”, escreveu Glüsing. Ele lembrou que, se maquiagens orçamentárias fossem crime, muitos governadores teriam que ser afastados do cargo, isso para não falar dos antecessores de Dilma, a começar por FHC.
Foi uma das melhores leituras que li na mídia sobre o golpe, se não a melhor.
Não perdeu Dilma, não perdeu o PT, não perdeu a democracia, não perderam apenas os 54 milhões de eleitores cujos votos foram obliterados: o grande derrotado, no impeachment, foi o Brasil.
Sonhávamos nos tornar um país avançado, menos injusto, menos primitivo. Mas acordamos para a dolorida realidade de que somos ainda uma República de Bananas, na qual uma plutocracia primitiva e canalha sempre encontra maneiras de manter seus privilégios e mamatas.
Nosso lugar no mundo, nesta era, não é ao lado de países como a Alemanha da Spiegel, ou a França, ou a Inglaterra, ou a Dinamarca das bicicletas e do igualitarismo. Estamos, como sublinhou Glüsing, alinhados com Honduras e Paraguai.
Nos anos 1980, um economista disse que o Brasil era a “Belíndia”, uma pequena e rica Bélgica cerca de uma enorme e miserável Índia. Agora somos “Paraduras”, a fusão de Honduras com Paraguai.
É a isto que fomos reduzidos pelo golpe da plutocracia.
Enquanto a plutocracia não for domada e derrotada, assim seguiremos, oscilantes entre a Belíndia de ontem e a Paraduras de hoje – e esmagados em nossas aspirações de sermos, enfim, uma nação civilizada.
Um jornalista de outra revista me contou que esperava ansiosamente chegar o novo exemplar da Spiegel para ler os textos de seu articulista favorito. “Ficava triste quando o artigo terminava”, me disse ele.
No aeroporto, ao voltar ao Brasil, quis comprar a Spiegel da semana. O vendedor ficou ofendido com a maneira errada como pronunciei o nome da revista. Só me entregou quando falei direito: “Ishipíguel”.
Contei essa história porque vi a reação do seu correspondente no Brasil Jens Glüsing ao golpe. O título da reportagem no site é “Um país perde”.
Escreveu Glüsing: “O drama em torno da presidente é um vexame para um país afundado na crise.” (…) “O grande e orgulhoso Brasil terá que se resignar a, no futuro, ser citado por historiadores ao lado de Honduras e Paraguai – e não só por causa de apresentações bizarras de seus deputados. Também em Honduras e Paraguai, presidentes eleitos foram afastados de forma questionável do cargo.”
O “espetáculo indigno” dos políticos brasileiros “prejudicou de forma duradoura as instituições e a imagem do país”, escreveu Glüsing. Ele lembrou que, se maquiagens orçamentárias fossem crime, muitos governadores teriam que ser afastados do cargo, isso para não falar dos antecessores de Dilma, a começar por FHC.
Foi uma das melhores leituras que li na mídia sobre o golpe, se não a melhor.
Não perdeu Dilma, não perdeu o PT, não perdeu a democracia, não perderam apenas os 54 milhões de eleitores cujos votos foram obliterados: o grande derrotado, no impeachment, foi o Brasil.
Sonhávamos nos tornar um país avançado, menos injusto, menos primitivo. Mas acordamos para a dolorida realidade de que somos ainda uma República de Bananas, na qual uma plutocracia primitiva e canalha sempre encontra maneiras de manter seus privilégios e mamatas.
Nosso lugar no mundo, nesta era, não é ao lado de países como a Alemanha da Spiegel, ou a França, ou a Inglaterra, ou a Dinamarca das bicicletas e do igualitarismo. Estamos, como sublinhou Glüsing, alinhados com Honduras e Paraguai.
Nos anos 1980, um economista disse que o Brasil era a “Belíndia”, uma pequena e rica Bélgica cerca de uma enorme e miserável Índia. Agora somos “Paraduras”, a fusão de Honduras com Paraguai.
É a isto que fomos reduzidos pelo golpe da plutocracia.
Enquanto a plutocracia não for domada e derrotada, assim seguiremos, oscilantes entre a Belíndia de ontem e a Paraduras de hoje – e esmagados em nossas aspirações de sermos, enfim, uma nação civilizada.
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