01/05/2016
Os problemas que esperam por Temer, por André Singer
Jornal GGN - André
Singer, professor da USP e ex-porta-voz da Presidência da República,
analisa os problemas que serão enfrentados pelo vice-presidente Michel
Temer, caso assume o lugar de Dilma Rousseff. Para Singer, nada indica a
existência de um plano que evite que o novo ajuste fiscal piore a
recessão econômica, assim como não há garantias de que a Lava Jato não
atinga o interino na Presidência, além da proximidade com Eduardo Cunha,
que macula "ainda mais a imagem do homem que traiu Dilma".
Singer prevê que a escolha de Henrique
Meirelles significará "cortes estruturais que irão deprimir mais a
atividade econômica", que devem incidir diretamente no bolso e no
direito dos trabalhadores. Por último, afirma: "A quem achou que o
domingo 17 representava o fim da crise, recomenda-se reforçar o estoque
de Rivotril." Leia a coluna abaixo:
Da Folha
André Singer
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Em cerca de duas semanas o Brasil terá
novo governo, pois o Senado deve aprovar o afastamento de Dilma
Rousseff. O vice, no entanto, assume em condições inéditas, pois o
julgamento da atual presidente, em até 180 dias, acabará por ser,
também, um veredito sobre a própria interinidade de Michel Temer.
A sorte pode resolver os complicados
problemas postos para o líder do PMDB, mas trata-se de verdadeira, passe
o trocadilho, temeridade contar com ela. E até aqui, nada indica a
existência de plano razoável para evitar que novo ajuste fiscal
aprofunde a recessão; que a Operação Lava Jato atinja o interino na
Presidência; que a proximidade com Eduardo Cunha macule ainda mais a
imagem do homem que traiu Dilma.
O senador José Serra (PSDB-SP), óbvio
candidato à Presidência, apresentou-se para realizar a difícil missão de
produzir rápida retomada do crescimento sem perder o apoio do
"mercado". Se desse certo, Temer teria carimbado o passaporte para ficar
até 2018 e o ex-governador paulista, por sua vez, repetiria a
trajetória de Fernando Henrique Cardoso com o real. Ambos ganhariam.
O voo do tucano, contudo, foi abatido pelo veto do seu colega de partido,Geraldo Alckmin,
e pelo medo do próprio Temer de desagradar as finanças. Ao escolher
Henrique Meirelles, vinculado aos bancos, opta pela proposta de fazer
cortes estruturais que irão deprimir mais a atividade econômica, em
busca das chamadas "condições fiscais sustentáveis".
A guerra de classes promete esquentar,
pois as tesouradas incidirão diretamente sobre o bolso e os direitos dos
trabalhadores. Além disso, livre do fardo de ter que defender uma
política indefensável, o PT trará o discurso classista à tona, voltando a
ter o que dizer na disputa pelas prefeituras. Como ficará o ânimo
popular, quando perceber que os empregos continuam a sumir?
Enquanto isso, acusações como
a de que a campanha do presidente interino recebeu propina de R$ 1
milhão em 2014, segundo afirmou um dos donos da Engevix; ou de que o
peemedebista indicou diretor corrupto da Petrobras; ou de que foi
beneficiário de pagamento de R$ 5 milhões, conforme disse um dos sócios
da OAS, continuarão no noticiário. Qualquer iniciativa de aplacar a
sanha da República de Curitiba, como foi o virtual convite a um dos
advogados de acusados para ocupar a pasta da Justiça, pode ter resultado
bumerangue. As revelações voltarão mais fortes.
Para completar, existe a sombra do
aliado Eduardo Cunha. Trata-se do clássico caso em que o executor do
trabalho sujo precisa ser eliminado, pois ameaça conspurcar a reputação
do mandante. A quem achou que o domingo 17 representava o fim da crise,
recomenda-se reforçar o estoque de Rivotril.
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