08/04/2017
O garoto propaganda de si próprio
por ALEX SOLNIK
Em 100 dias como prefeito de São Paulo, que se completam depois de amanhã, João Dória aproveitou todos os meios de comunicação para fazer o que sabe melhor: propaganda de si próprio.
Ele se fantasiou de gari e participou de alguns sábados de faxina, sempre muito mais propagandísticos que efetivos, um dos quais com a presença da faxineira Regina Duarte, mas a cidade continua tão suja como estava no último dia da administração Fernando Haddad.
Os baixos do Minhocão – agora batizado com o nome de Elevado João Goulart, para desespero de Paulo Maluf, que, quando o construiu o chamou de Elevado Costa e Silva em homenagem ao ditador que lhe deu o primeiro emprego público (presidente da Caixa Econômica Federal) e marido de Yolanda Costa e Silva, a quem Maluf costumava presentear com joias – continuam na condição de dormitórios a céu aberto, exibindo colchões infectos, plásticos sujos, casinhas de cachorro, ocupados dia e noite por homens, mulheres, crianças e animais à espera de uma saída para a vida.
O centro da cidade, que já foi um lugar frequentado por elegantes paulistanos de chapéu e bengala exibe um cenário de pós-guerra, com prédios abandonados, pichados, destruídos e gente dormindo na rua embaixo de marquises de prédios, um dos quais abriga várias secretarias municipais, inclusive a da Cultura, na avenida São João.
O slogan “Cidade Linda”, exibido à exaustão até em jogos da seleção brasileira diz respeito muito mais às pretensões políticas do prefeito do que a alguma melhoria no caos urbano em que São Paulo mergulhou faz alguns anos.
Para não dizer que ele não fez nada em 100 dias e para fazer justiça, é verdade: ele cortou 40% do orçamento da Cultura, em legítima defesa, porque é esperto o bastante para saber que os artistas estão de costas viradas para ele e podem ser os primeiros a fomentar protestos contra ele – o que já acontece, aliás. Melhor, portanto, deixá-los à míngua. O secretário André Sturm tenta dourar a pílula, prometendo descongelar as verbas, mas não tem tido sucesso.
Outra coisa que fez foi aumentar a velocidade nas Marginais, o que provocou o aumento de acidentes e de mortes, mas seus eleitores agora podem chegar mais depressa para assistir à novela em suas mansões de Alphaville.
Dizem que zerou a fila dos exames com o Corujão da Saúde, o que carece de confirmação porque a imprensa não tem acesso a informações comparativas por dificuldades criadas por sua administração.
O que ele conseguiu, mesmo, foi provocar muito alvoroço nas hostes direitistas, que viram nele o perfeito lobo em pele de cordeiro para enganar o distinto eleitor brasileiro em 2018, com sua cara de bom moço, nenhuma ideia na cabeça e discurso boquirroto.
A sua grande realização à frente da prefeitura de São Paulo foi abolir a gravata.
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos".
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