28/07/2017
'TOMA LÁ, DÁ CÁ DO GOVERNO TEMER É QUASE SEXO EXPLÍCITO', DIZ CELSO AMORIM
Brasil 247 - 28 DE JULHO DE 2017 ÀS 09:00
Mais longevo chanceler brasileiro, o ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa Celso Amorim criticou duramente o sistema de "toma lá, dá cá" implantado nas relações entre o governo Michel Temer e o Congresso; "Nunca vi uma coisa assim tão escancarada. É quase sexo explícito", disse Amorim à BBC Brasil; ele também criticou a política externa do governo Temer, que reduziu a condição do Brasil de protagonista internacional a um mero coadjuvante; "Nos melhores momentos, (a política externa) é passiva. Nos piores, é desastrada", destacou
247 - Mais longevo chanceler brasileiro, o ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa Celso Amorim criticou duramente o sistema de "toma lá, dá cá" implantado nas relações entre o governo Michel Temer e o Congresso. "Nunca vi uma coisa assim tão escancarada. É quase sexo explícito", disse Amorim em entrevista à BBC Brasil. Ele também, criticou a política externa do governo temer que reduziu a condição do Brasil de protagonista internacional a um mero coadjuvante. "Nos melhores momentos, (a política externa) é passiva. Nos piores, é desastrada", destacou. Ele também destacou que as eleições de 2018 devem contar com a participação do ex-presidente Lula.
Para Amorim, "não pode haver um cenário presidencial" nas eleições presidenciais de 2018 sem a participação de Lula, já que ele seria o único o a reunir condições capaz de derrotar "as ameaças de direita e de extrema-direita". "Nessa coisa não tem que ter plano B", ressalta. "Sobre o fato do ex-presidente ter sido denunciado, Amorim afirma ter "certeza que nenhuma dessas acusações se sustentará. Acho que as pessoas percebem que as acusações são infundadas. "Acho que o povo não vai cair nessa, e que o Lula tem muita chance de ser eleito", completa.
Na entrevista, Amorim diz acreditar que a presidente eleita Dilma Rousseff foi deposta por meio de um golpe. "Pessoalmente, acho que foi um golpe. As formalidades foram seguidas, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso estão funcionando, então não é um golpe militar, claro. Mas se você teve uma eleição que elegeu uma chapa com um determinado projeto de país - pode até ter errado na execução, isso é outro problema - mas um projeto que pressupõe maior inclusão social, autonomia na política internacional, não incluía privatizações como as que estão sendo feitas agora, nada disso. E você substitui, através do impeachment, por um projeto oposto - isso é um golpe, a meu ver. Ainda que os meios não tenham sido ilegais do ponto de vista formal", avalia.
Para o ex-chanceler, "as eleições de 2018 serão muito importantes, e temos riscos até da (ascensão de um candidato de) extrema-direita, graças à campanha feita no Brasil. O objetivo foi desmoralizar o PT, mas desmoralizou a política. Os candidatos que se apresentam como não-políticos, da extrema-direita ou da direita mesmo, podem se beneficiar disso", analisa. Para ele, "o Lula é a única pessoa que tem capacidade de mobilizar o povo para derrotar essas ameaças de direita e de extrema-direita. Não é nem para ganhar do PSDB tradicional, não, é para ganhar de pessoas que são antipolíticas e antidemocráticas".
"Criminalizaram o fato de o Lula receber determinada quantia pelas palestras que fez. Gente, isso é o que faz o Clinton, o Bush... já que a gente gosta de ver exemplos fora. Quase todos esses líderes têm uma fundação. Você acha que eles tiraram dinheiro do bolso deles para botar na fundação? O Instituto Lula é auditado com uma lupa que eu nunca vi aplicada a outros institutos. Eu não tenho nada contra o Instituto Fernando Henrique Cardoso, acho bom que haja. Mas são critérios diferentes, nunca ninguém nunca pensou (em fiscalizar)", afirma.
Para Amorim, a crise política brasileira somente será resolvida por meio de "uma reforma política que dê legitimidade ao poder no Brasil. Senão, fica impossível. Com o Congresso sendo eleito da maneira como é eleito hoje, qualquer governante vai ser obrigado a entrar em negociação. Não estou falando de negociar politicamente. Isso é normal. Em qualquer país do mundo, você faz concessões para fazer uma coalizão. Não é isso. O problema é você ter que negociar favores, verba. Como você está vendo agora. Nunca vi uma coisa assim tão escancarada. É quase sexo explícito", dispara.
"Falaram tão mal da Dilma, mas a Dilma não mudou a composição de Comissão nenhuma (referência à substituição de última hora de membros da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados em julho para rejeitar denúncia contra Temer). E isso de pessoas do mesmo partido, como o deputado que soube pelo jornal que tinha sido substituído por outro", destaca.
Na entrevista, ele também criticou a colaboração de autoridades brasileiras junto ao departamento de Justiça dos Estados Unidos no âmbito da Lava jato e que o Brasil passa por um processo de "automortificação" das empresas envolvidas. "Não quero defender de modo algum as ações erradas que foram praticadas. Agora, eu acho que sim, houve uma automortificação", diz. "Você ter uma ação política em favor de uma empresa é parte da ação comercial de um país no exterior. Por exemplo, a Boeing queria vender o seu avião no Brasil. A Hillary Clinton me escreveu uma carta. A Condoleezza Rice já tinha levantado o assunto comigo", explica.
"Agora, acho que tudo ficou criminalizado indistintamente. Fez-se uma generalização errada e vai levar muito tempo para que isso seja corrigido. Se convenções internacionais anticorrupção já existem há algum tempo, é porque corrupção havia, né? Acho que isso tinha que ser visto de forma menos ingênua, de modo a não achar que eram só as brasileiras. Ainda que com a punição adequada aqui dentro", observa Amorim.
Amorim finaliza a entrevista afirmando que "tirando o período negro da ditadura militar, é o pior momento em que eu já vi o Brasil. Inclusive em matéria de credibilidade internacional. Mas o Brasil é um país grande, a diplomacia tem tradição, as Forças Armadas vão exigir que projetos importantes continuem, temos instituições de primeiríssima qualidade, como a Fiocruz, que luta pela saúde brasileira.O Brasil tem que voltar a ter o peso e a credibilidade que perdeu. Agora, o Brasil está cumprindo tabela. Na realidade, não pode fazer muito mais do que isso. Mas eu acho que vai se recuperar. Agora como, e quando, eu não sei".
Leia a íntegrada entrevista.
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