26/07/2017
Temer sai do espeto e cai na brasa
Brasil 247 - 26 de Julho de 2017

TEREZA CRUVINEL

No jornal O Globo, sob a manchete do dia, “Contas que não fecham”, seus colunistas disparam contra a desordem econômico-financeira. Gaspari anuncia a fervura de Meirelles na água em que Temer ceva os votos para salvar o pescoço, Miriam Leitão proclama o risco de “apagão fiscal” e Lydia Medeiros informa que a unidade em torno de Meirelles ruiu após o aumento de impostos e que ele resiste à pressão para afrouxar a meta fiscal.
A elite econômica que apoiou o golpe, desiludida com Temer, esperava que o Congresso assumisse a tarefa de removê-lo após a ajuda providencial de Joesley Batista. Menos o setor financeiro, que enche as burras com os juros altos (e nem vai se abalar com a esperada redução de um ponto na Selic, pois agora a inflação voltará a subir com o aumento da gasolina e o Copom pisará no freio). A mídia grande dividiu-se, com o grupo Globo liderando a artilharia anti-Temer e os jornalões paulistas se equilibrando entre o apoio e a omissão. Com a Câmara dominada, o empresariado produtivo começou a se movimentar. Ontem publicamos aqui as duras criticas do vice-presidente da Abimaq à política econômica. Paulo Skaf, presidente da Fiesp, janta com Temer mas põe seu pato novamente na rua. E para completar, hoje estourou a denúncia do site Buzzfeed, de que Meirelles guarda no exterior os milhões que recebeu com sua consultoria, que teve como maior cliente a JBS.
O colapso fiscal é uma realidade, não é retórica dos que desejam trocar Temer por um preposto menos vulnerável, com melhores condições para tocar a agenda de contrarreformas. Mas agora, começou a ser usado como munição.
Na semana passada o governo contingenciou R$ 5,9 bilhões do Orçamento mas só em emendas parlamentares já se foram R$ 4,1 bilhões. A base de Temer deformou o Refis para atender a interesses próprios sem levar qualquer advertência, frustrando a arrecadação. Não votou a reoneração da folha de pagamento das empresas e as receitas com repatriamento externo têm sido decepcionantes. Enquanto isso, Temer e a área política continuam prometendo até lotes na lua para garantir um voto contra a denúncia de Janot. Ontem Temer prometeu R$ 13 milhoes para as escolas de samba do Rio e com isso o deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ) agora é voto certo a seu favor.
O rombo é grande, serviços públicos (como recentemente a emissão de passaportes) podem parar mas as medidas propostas são inócuas. O PDV para funcionários públicos em pleno desemprego será um fiasco. Buscar dinheiro indevidamente pago a pessoas mortas é uma garimpagem frívola. Agora já se fala em suspensão dos aumentos a funcionários concedidos no ano passado por Temer em busca de boa vontade da máquina administrativa.
O jeito é pedalar e Temer tem pedalado bem. Para permitir a volta da emissão de passaportes e rolar a dívida, na semana passada ele baixou dois créditos suplementares, um de R$ 100 milhões, outro de R$ 3 bilhões. E o fez sem aprovação parlamentar, o que valeu a Dilma a deposição por “pedaladas fiscais”. Mas depois do golpe o Congresso mudou a lei e agora pedalar não é mais crime.
A ironia da história está em que, para enterrar a denúncia de corrupção e permanecer no cargo, Temer acabou comprometendo um de seus poucos “ativos” valorizados pela elite, a presença de Meirelles na Fazenda. Sem a gastança para enterrar a denúncia, talvez ele tivesse evitado o aumento de imposto. E como isso não bastou para tapar o rombo, agora Meirelles enfrenta a pressão da área política para afrouxar a meta fiscal já deficitária em R$ 139 bilhões. Ele prometeu um crescimento de 1,6% este ano e o FMI já prevê 0,3%. O confronto com a área política vai se intensificar e em algum momento ele vai pedir o boné.
Além do “gasto político” de Temer, há outros atores contribuindo para o colapso fiscal, como o Ministério Público, quando se concede aumento de 16%, ou como o juiz que suspende a cobrança do aumento do Pis-Cofins, impondo perdas de R$ 76 milhões diários aos cofres do governo. Mas quando a desordem impera, é assim mesmo. Cada um por si, em tempo de murici, e dane-se o resto.
Se a mala de dinheiro de Loures não mexeu com o brio das excelências, há pouco o que esperar das novas denúncias de Janot, disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, segundo o site Poder360. Nada mais grave do que isso deve aparecer, apesar das delações que estão na bica. Mirando 2018, DEM e PSDB, no encontro entre Maia e Geraldo Alckmin, outros demistas e tucanos, acertaram o enterro da denúncia e a permanência de Temer, eleitoralmente mais conveniente a eles. As ruas estão vazias e os indignados já não batem mais panelas. Assim, caso uma parte da elite nacional queira mesmo se livrar do presidente que vem ampliando a recessão e promovendo o colapso fiscal, vai ter que lutar com outras armas. Por ora, com a exposição da inviabilidade econômica do governo. Está claramente começando outra fase do jogo.
TEREZA CRUVINEL. Colunista do 247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País
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