22/07/2017
“É muito triste. O Brasil não merece isso”: o resumo preciso da tragédia nacional segundo Mujica. Por Kiko Nogueira
Do Diário do Centro do Mundo - 22 de julho de 2017
“Tudo isso é muito triste. O Brasil não merece isso”
Por Kiko Nogueira
O resumo da tragédia brasileira foi feito for duas pessoas, cada uma à sua maneira: Paulo Skaf e Pepe Mujica.
Skaf ressuscitou o pato inflado na Paulista que foi instrumental no impeachment, agora para protestar contra o aumento dos impostos dos combustíveis.
Lá está o bichão de 5 metros de altura na sede da entidade, agora desprovido de sua carga golpista, apenas um velho mascote de coxinhas que nunca estiveram interessados em combater a corrupção e sim em tirar o PT do poder.
“Não cabe à Fiesp falar sobre renúncia de presidente”, declarou Skaf quando inquirido sobre sua desaparecida combatividade.
É tudo parte da farsa nacional, traduzida por Mujica em entrevista à BBC Brasil. “É como se o Brasil estivesse voltando aos seus piores tempos”, afirmou o ex-presidente do Uruguai.
Reproduzo alguns trechos francos, doídos e bonitos:
“Atacar Lula, da maneira como o estão atacando, é impressionante. Colocam a eventual venda de um apartamento em uma praia… (o tríplex no Guarujá). Para um homem que foi presidente durante oito anos da principal potência da América Latina e com o antecedente da retirada de Dilma Rousseff do governo… realmente tudo isso gera a imagem de um Brasil muito doente.
E, além disso, aprovam um conjunto de reformas que vão para o passado, (anulando) as medidas que foram implementadas por Getúlio Vargas, que foi um presidente inesquecível e se suicidou por causa da pressão da oligarquia. É como se o Brasil estivesse voltando aos seus piores tempos”.
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“Acho que ele [Moro] está trabalhando no compasso desses setores ultraconservadores e, na verdade, o que se percebe é que pretendem fechar o caminho para a candidatura de Lula, porque de outra forma é difícil que possam evitar que ele vença.
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“E isso não soluciona o problema endêmico que o Brasil tem, que é um sistema político muito perigoso, com mais de 30 partidos políticos. Ninguém tem a maioria. Cada lei é uma negociação à parte. Então, em vez de ser um parlamento, o Congresso acaba virando uma bolsa de valores.
Isso é um problema de caráter constitucional. Não se pode governar um país com esse mosaico de partidos onde cada qual luta por seu próprio interesse e tudo se transforma em negociações. É um problema grave para o Brasil e, portanto, para nós também. Nosso pequeno país fica no meio de um sanduiche, ao lado de dois países grandes (Brasil e Argentina) em crise”.
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“Olha, eu mantenho minha fé no Lula. Eu o conheço há muitos anos. O acusam por um sítio. Uma vez estive no sítio e é muito simples, com uma casinha. Além disso, tem outra coisa, ninguém coloca ênfase no papel das empresas. Parece que as empresas são pecadoras e isso está virando moda no mundo.”
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“Tudo isso que está acontecendo no Brasil acaba interrompendo, no longo prazo, a esperança em uma sociedade. E na vida dos homens, das mulheres, das sociedades, precisamos ter esperança. O Brasil está cultivando o não acreditar em nada. E depois disso o que vem? O niilismo? O golpe de Estado?
Uma coisa é ser de direita e outra, conservador. O que há no Brasil está com cara de falso moralismo, e o fascismo na Europa se apresentou com cara de falso moralismo também”.
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“Me dá pena. Pena pelo Brasil por ver o que aconteceu com uma comissão (a Comissão de Constituição e Justiça) que estava estudando as eventuais acusações, e tiveram que mudar a composição dessa comissão. E tudo indica que houve muita influência para poder colocar gente que não decepcionasse o governo.
Tudo isso é muito triste. É um cenário que coloca o Brasil, na visão internacional, como uma república muito desprestigiada. O Brasil não merece isso”.
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“Esse é um velho mito que existe – de que é preciso reduzir os impostos aos mais ricos para fomentar sua ambição e que com isso vão investir e vão aumentar o trabalho. Mas, na verdade, é preciso levar em conta o salto tecnológico contemporâneo. Ou seja, multiplica-se a riqueza, mas não necessariamente os postos de trabalho.
A riqueza pode aumentar, e também o desemprego. E no caso do Brasil isso é evidente. O Estado tem que funcionar como escudo dos mais pobres, ou haverá uma polarização da riqueza na sociedade, e a concentração excessiva da riqueza acaba se transformando, indiretamente, em poder político a favor da riqueza”.
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“Isso me preocupa [a prisão de Lula]. E acho que a candidatura dele seria uma forma de colocar nos trilhos, institucionalmente, uma crescente oposição a estas políticas, mantendo as regras da democracia representativa e sua garantia fundamental. E tudo isso (que hoje envolve Lula) pode ser que nos leve a um arrependimento no futuro”.
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“A polarização é um perigo. E Lula sabe disso. Mas Lula é um homem negociador. Por isso chegou onde chegou. Certamente Lula é o político mais maduro que o Brasil tem para poder orquestrar um freio nessa polarização. Mas concordo com sua pergunta e acho também que a polarização é um veneno na América Latina.
O problema da polarização é que faz com que metade do país fique contra a outra metade. Além disso, existe a polarização social. Aqueles que saíram da pobreza e voltam à pobreza são candidatos a participar dessa polarização.
Quando alguém é muito pobre, isso costuma gerar uma cultura de resignação à pobreza. Mas quando essa pessoa melhora de vida e depois tem que voltar à pobreza, é a historia da rebeldia. A rebeldia surge daqueles que, estando menos pobres, têm que retroceder. Hoje existe egoísmo demais”.
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“O Brasil não merece isso”, falou Mujica.
Começo a ter cá minhas dúvidas.
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