19/03/2018
Marielle, a intervenção militar e a união das esquerdas
Do Brasil 247 - 19 de Março de 2018

Celso Amorim

Em qualquer dos casos, a filosofia que inspirou a intervenção foi o que induziu ao assassinato de Marielle, seja por priorizar a repressão violenta nas comunidades pobres, seja por levar setores policiais ou das milícias ou do tráfico a colocar a autoridade interventora frente a um desafio aberto. Como no episódio do Riocentro, já lembrado por Tereza Cruvinel, entre outros comentaristas, a responsabilidade pelo crime recai sobre aqueles que escolheram a via da violência como meio de, supostamente, garantir a segurança da população.
A leviandade de uns, aliada à truculência e estreiteza de visão de outros, foi o que levou à escolha da intervenção militar federal no Rio para fazer face aos complexos problemas do Estado, deixando em segundo plano as ações econômicas, sociais e culturais, que poderiam contribuir para extirpar as raízes da criminalidade. Não por acaso, o alvo do crime foi uma mulher negra, oriunda das favelas cariocas, além de ser uma socióloga e uma lutadora pelos Direitos Humanos, principalmente os das camadas mais pobres e vulneráveis. A apuração do crime e a responsabilização dos culpados ficarão incompletas se não alcançarem também os autores do golpe de Estado, que roubou a legitimidade do processo político brasileiro e que agora ameaça conspurcar as eleições de 2018.
Mas há um desafio colocado também às forças progressistas, que não podem, sob o risco de perda absoluta de credibilidade, se deixar dominar por interesses eleitorais sectários. Este é um momento de união. União contra o golpe, união pela democracia, união por tudo que a Marielle representou. E essa união só será possível se os vários setores da esquerda fluminense, sob a inspiração das lideranças nacionais, souberem colocar os valores democráticos e de justiça acima de visões e interesses particularistas. Não é esta a hora de procurar ganhos eleitorais ou partidários.
Nesse contexto, mais importante que o lançamento de candidaturas é a abertura de um amplo debate entre as forças verdadeiramente democráticas e progressistas; um debate que permita definir um programa comum e a formação de uma frente única em defesa da democracia e da justiça social em nosso Estado e no País como um todo. A questão da figura que encarnará essa luta é secundária diante da tarefa principal da busca de unidade das forças progressistas do Rio de Janeiro.
CELSO AMORIM. Diplomata, ex-chanceler e ex-ministro da Defesa.
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