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12/03/2014
QUEM QUER DESPOLITIZAR A POLÍTICA
É preciso entender que conflito entre o governo e parte do PMDB envolve interesses maiores do que vagas no Ministério
Da IstoÉ Independente 12/03/2014
Paulo Moreira Leite
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Depois de passar o mandato
inteiro tomando pancada porque era acusada de barganhar ministérios
por
minutos no horário político e permutar verbas públicas por apoio no
Congresso, agora Dilma Rousseff é criticada porque definiu um limite
para as tratativas e negociações com o PMDB.
A mais nova catástrofe
anunciada de seu governo é a possibilidade do partido de Michel Temer e
Eduardo Cunha romper a coalização construída em 2010. Como tantas
catástrofes que expressam acima de tudo um inconfessável desejo
político, as chances de uma ruptura ocorrer são reais, mas
remotíssimas.
Não é isso que cabe discutir aqui, porém.
O visão
criminalizante sobre o conflito entre o governo e o PMDB sustenta que
Eduardo Cunha quer mais empregos e mais verbas – mercadorias que se
costuma classificar como sujeira política, quando praticada pelo
adversário, ou como sacrifício necessário, quando se trata de um
aliado.
Em qualquer caso,
descreve-se um jogo sem saída, que Dilma perderá em qualquer hipótese
no balanço final. Se atrair o PMDB, terá sido porque sujou-se. Se não
atrair, demonstrou incompetência e falta de apetite para o jogo
político como ele é.
Caso o PMDB fique na aliança, vamos descobrir quanto ganhou por isso. Caso vá embora, vamos apurar quanto Dilma perdeu.
Em qualquer caso, avançam
nossos sábios, terá sido mais uma demonstração de sua inferioridade
diante de adversários supostamente competentes, modernos, atualizados,
preparados, simpáticos e carismáticos, blá, blá, blá -- ainda que os
números de intenção de voto digam que ela tem chances matemáticas de
levar a eleição no primeiro turno. É isso, no fundo, que se pretende
demonstrar.
Prisioneiros de um olhar
moralista que tenta criminalizar toda atividade política, impede debater
interesses de fundo e diferenças importantes para a maioria da
população, procura-se fingir que não há nada mais relevante do que um
ministério a mais (ou a menos) em Brasília.
O fenômeno é conhecido. Depois de criar uma lenda, é preciso, pelo menos, fingir que se acredita nela.
Vamos falar de política.
Eduardo Cunha, Gedel Lima, Sandro Mabel e outras estrelas do PMDB
integram a parcela reacionária de um partido desigual e disforme. Têm
peso no Congresso, sim. Mas expressam interesses de grandes empresários
que, como todos aprendemos , sei lá, desde que o capitalismo começou a
funcionar em determinado ponto da Escócia, não costumam ser os mesmos da
maioria das pessoas.
Eles agem como adversários políticos de projetos essenciais para o governo e de interesse da maioria dos brasileiros.
Cunha, por exemplo, é o
principal porta-voz dos interesses das empresas de telefonia que querem
acabar com a neutralidade do Marco Regulatório da Internet. Um negócio
que vale bilhões para as empresas e que, conforme a decisão dos
parlamentares, irá transformar a rede – até agora um espaço público –
numa feira de negócios e cobranças indevidas para empresas privadas,
prejudicando milhões de usuários.
Sandro Mabel é o profeta da
eliminação da CLT, que pretende trocar por um projeto de terceirização
completa do mercado de trabalho. Dá para acreditar? Eliminar a Era
Vargas estava no programa de Fernando Henrique Cardoso, não de Lula.
Geddel Lima é um tucano que
permanece no PMDB por interesses particulares, utilizando o apoio ao
governo federal para receber recompensas de praxe. Não gosta e nunca
gostou de Dilma, nem de Lula nem do PT.
Você pode concordar – ou não – com os pontos de vista de Cunha, Mabel, Geddel e tantos outros.
Só não vale fingir que eles
não tem relevância e interesse. Esse é o truque: mascarar a diferença
política para transformar tudo em jogos de aparelhos, cargos públicos e
dinheiro pesado, é a melhor forma de despolitizar a democracia e
deseducar o eleitorado.
Paulo Moreira Leite. Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
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