01/02/2016
O duplo padrão da Polícia Federal no Helicoca e no “triplex do Lula”. Por Kiko Nogueira
Ninguém pode acusar a Polícia Federal de não dar show, especialmente para o público sedento de escândalos dos mesmos atores. O famoso triplex 164-A no Guarujá foi classificado pela PF como um imóvel com “alto grau de suspeita quanto à sua real titularidade”.
A delegada Erika Mialik Marena, da Lava Jato, aponta num relatório que “manobras financeiras e comerciais complexas envolvendo a empreiteira OAS, a cooperativa Bancoop e pessoas vinculadas a esta última e ao Partido dos Trabalhadores apontam que unidades do condomínio Solaris, localizado na Avenida General Monteiro de Barros, 638, em Guarujá-SP, podem ter sido repassadas a título de propina pela OAS em troca de benesses junto aos contratos da Petrobrás”.
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Para todos os efeitos, o apartamento já é de Lula. O trabalho é confirmar a suspeita e não exatamente verificar a verdade. Lula terá de esclarecer. Mas a mensagem que se quer passar adiante, entre outras, é a do “aí tem”, objetivo já plenamente alcançado.
É de se perguntar onde estava essa, digamos, fome de bola de apropriação no episódio do Helicoca. Para refrescar sua memória: no dia 24 de novembro de 2013, um helicóptero com 445 quilos de pasta base de cocaína foi apreendido numa fazenda no Espírito Santo.
A aeronave pertencia à Limeira Agropecuária, do ex-deputado estadual Gustavo Perrella, da irmã dele, Carolina Perrella, e do pai, o senador Zezé Perrella, ex-presidente do Cruzeiro e amigo de Aécio Neves.
O piloto, Rogério Almeida Antunes, era funcionário da Limeira tinha um cargo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais por indicação de Gustavo.
A droga veio do Paraguai, onde esteve quatro dias antes do flagrante. Passou pelo Campo de Marte, na capital paulista, e por Minas Gerais. A carga estava avaliada em 50 milhões de reais.
Nunca houve qualquer dúvida quanto a quem pertencia o helicóptero.
No entanto, o doutor Leonardo Damasceno, da PF de Vitória, em velocidade estonteante, inocentou os Perrellas de qualquer participação no crime. Damasceno chegou a essa conclusão em escassos 15 dias, baseado, oficialmente, nas ligações telefônicas dos celulares capturados.
Zezé Perrella não foi sequer ouvido, nem para dizer que não tem nada a ver com nada. Não houve indignação popular seletiva, não houve vazamento e a cobertura foi escassa.
Meia tonelada de coca num helicóptero de um parlamentar jamais rendeu uma declaração pública das autoridades de que havia “alto grau de suspeita” com relação ao homem.
Seja no caso do triplex na praia, seja no do sítio, seja no barco, Lula é culpado a priori — e o esforço hercúleo da Polícia Federal é juntar pontos que provem isso, eventualmente sem provar muita coisa, para que o show possa continuar.
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