04/07/2016
A vergonhosa banalização da deduragem
Do
Por Bepe Damasco
Matéria de capa da revista CartaCapital desta semana mostra
"la dolce vita" levada pelos criminosos que deduraram gente ligada ao PT
e ao governo na Lava Jato, pois, decididamente, o juiz de 1ª instância
Sérgio Moro e a força-tarefa da República de Curitiba não se interessam
quando o dedo acusador dos corruptos mira tucanos de alta plumagem.
Um delator chegou a ouvir ao citar Aécio a resposta cortante
:"isso interessa, mas não agora." E quem ousou inocentar o presidente
Lula da acusação ridícula sobre as obras no apartamento do Guarujá e o
sítio em Atibaia se deu deu mal. É o caso de Léo Pinheiro, executivo da
empreiteira OAS, que teve a delação premiada anulada e não escapou da
volta para a cadeia.
Grande parte do conteúdo da deduragem de corruptos confessos
como Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Sérgio Machado, Ricardo Pessoa
e Pedro Barusco sequer restou comprovada pelos investigadores. Isso não
impede esses senhores de levar vida nababesca em casas e condomínios de
luxo, principalmente na Barra da Tijuca, Petrópolis, Angra dos Reis, e
de frente para uma praia paradisíaca, no Ceará, como mostra a
reportagem.
A única exigência de Moro é que usem tornozeleira eletrônica,
incomodo que esses sessentões devem tirar de letra, afinal, embora
tenham devolvido alguns milhões por conta do acordo judicial, certamente
ainda lhes sobrou o suficiente para manter "o boi na sombra." Não pode
haver exemplo mais acabado de como o crime pode compensar no Brasil.
Desde menino sempre tive ojeriza a dedo-duro. Seja em casa,
quando eu e meus quatro irmãos nos protegíamos uns aos outros da punição
para as nossas travessuras através do pacto "vamos negar até a morte",
ou nas turmas de rua que condenavam ao isolamento quem dedurasse alguém,
não denunciar os outros sempre foi visto como questão de princípios e
revelador de caráter.
Por isso, estou de pleno acordo com a avaliação severa feita
pela presidenta Dilma em relação à figura do dedo-duro : "Não respeito
delator." Palavra de quem enfrentou bárbaras torturas por parte de
verdugos em busca de delação. Nos tempos de trevas em que vivemos no
Brasil, a deduragem está banalizada, protegida pelo eufemismo
"contribuição com a justiça." Alguns dirão, "ora, mas a delação está
prevista em lei". Sem nem entrar no mérito de como as delações na Lava
Jato são arrancadas, eu respondo : "e daí, nem tudo que é legal é
moral."
O fato é que Lava Jato criou um fórmula imbatível a ser
seguida de agora em diante pelos corruptos : depois de roubar à vontade,
para garantir o desfrute de tudo que foi amealhado de maneira
criminosa, basta um acordo de delação premiada com a justiça. Desde, é
claro, que o dedo seja apontado na direção correta.
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