12/07/2016
Impeachment
A Comissão da Mentira
Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade. O golpe não ofende somente a presidenta afastada, mas também o país e a nação
por Mino Carta
—
publicado
11/07/2016 04h43
Geraldo Magela
por Mino Carta
Destaco dois trechos da carta
dirigida à Comissão Especial de Impeachment pela presidenta afastada
Dilma Rousseff, lida na sessão de 6 de julho por seu advogado, José
Eduardo Cardozo.
“Já sofri a dor indizível da tortura,
já passei pela dor aflitiva da doença e hoje sofro a dor igualmente
inominável da injustiça.”
“Na minha vida, os que me conhecem
sabem que incorri provavelmente em erros e equívocos, de natureza
pessoal e política. Errar, por óbvio, é uma decorrência inafastável da
vida de qualquer ser humano. Todavia, dentre esses erros, posso afirmar
em alto e bom som, jamais se encontrarão na minha trajetória de vida a
desonestidade, a covardia ou a traição. Jamais desviei um único centavo
do patrimônio público para meu enriquecimento pessoal ou de terceiros.
Jamais fugi de nenhuma luta, por mais difícil que fosse, por covardia. E
jamais traí minhas crenças, minhas convicções ou meus companheiros em
horas difíceis.”
Esclarece a presidenta que jamais lutará
pelo privilégio da Presidência e sim em nome de um princípio: defender a
Constituição de 1988. Determina a Carta que o impedimento somente será
justificado por atos gravíssimos, a configurar os crimes de
responsabilidade, diretamente praticados pelo presidente da República.
A existência desses crimes, sublinha
Dilma Rousseff, há de ser plenamente provada em um devido processo
legal, para assentar a responsabilidade de quem os cometeu. Conforme a
reportagem que se segue, reconstituição minuciosa do próprio golpe em
andamento, verifica-se a inexistência de quaisquer provas além de um
conjunto de falsidades de sorte a justificar que os designados a
encaminhar o processo ao plenário do Senado para a sessão decisiva
compõem, com todos os atributos necessários, a Comissão da Mentira.
A carta de Dilma Rousseff é texto
impecável para denunciar uma monstruosa injustiça perpetrada não somente
contra a presidenta, mas também contra o País e a Nação. Rasga-se a
Constituição, liquida-se a esperança de democracia, enterram-se os ralos
avanços conseguidos desde o fim da ditadura. E o engodo imposto aos
brasileiros pelo golpe, de fato demole o regime presidencialista que
rege a República, com a arbitrária decisão, tácita mas concreta, e como
tal levada adiante pelo complô, de manchá-lo pelo uso de uma fórmula
parlamentarista, inadequada além de falaciosa.
Não se trata de
discutir os erros cometidos por Dilma Rousseff, e já criticados, em
diversas oportunidades e às vezes asperamente, por CartaCapital. A
começar pelo estelionato eleitoral cometido logo após a posse do
segundo mandato ao convocar um bancário fiel do neoliberismo para o
Ministério da Fazenda, com o transparente propósito de agradar ao deus
mercado. Não há erro, de todo modo, que justifique o impedimento.
Sempre ocorre, ao evocar os mandamentos do
presidencialismo, citar Bush Jr., aquele presidente que declarou guerra
contra o Iraque de Saddam Hussein ao sabor de uma clamorosa e criminosa
mentira, conflito que precipitou atrocidades sem conta e matou dezenas
de milhares de soldados de um lado e de outro, sem contar as vítimas
civis. Em momento algum, o Congresso americano cogitou do impedimento do
presidente e muito menos o solicitou a opinião pública.
Este processo a Dilma Rousseff nos
envergonha e ofende a todos, mesmo quantos não percebem suas implicações
e não imaginam suas consequências.
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