terça-feira, 11 de outubro de 2016

Nº 20.036 - "A nova denúncia contra Lula e o incrível timing político da Lava Jato"


 

11/10/2016 

 

A nova denúncia contra Lula e o incrível timing político da Lava Jato


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(Charge: Vitor Teixeira)
Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho


É incrível como o timing da Lava Jato serve perfeitamente aos interesses da direita.

Se alguma amiga ou amigo seu não lobotomizada(o) pela mídia familiar ainda duvida da parcialidade e do uso político da operação, lembre-a(o) disso: o timing das ações midiáticas da Lava Jato coincide demais com os interesses políticos da direita para que tenhamos o direito de acreditar em coincidências.

Começou às vésperas das eleições de 2014, com vazamentos seletivos para tentar interferir na eleição e evitar a vitória de Dilma.

Depois, antes das micaretas coxinhas de 2015, para turbiná-las.

Quando a esquerda convocava seus atos contra o golpe a cobertura era ofuscada por mais uma ação bombástica dos heróis de Curitiba.

Quando a votação do impeachment se aproximava, tanto na Câmara quanto no Senado, mais pirotecnias da PF, do MPF e de Moro para convencer os congressistas indecisos.

Antes das eleições municipais, mais uma rodada de prisão de petistas para lembrar os eleitores em quem eles não devem votar.

Agora, com o Congresso votando a PEC 241, que congela os gastos públicos pelos próprios 20 anos, ou seja, um ataque a direitos da população sem precedentes, a Lava Jato dá o gancho para o cartel midiático desviar desse assunto chato e focar no que interessa: Lula denunciado mais uma vez pelo MPF.

A tese já é conhecida faz tempo.

Lula cometeu crime ao ajudar empresas brasileiras, como a Odebrecht, a expandir seus negócios para o exterior. Não teve a finesse, que o sociólogo fluente em francês teve, de vender nossas empresas a preços camaradas para os gringos.

Segundo reportagem do G1, a prova apresentada para o favorecimento ilegal de Lula à Odebrecht através do BNDES são ‘registros da participação de Lula em uma reunião da Diretoria de Administração do BNDES’, em 2010, quando ainda era presidente.

A Odebrecht teria pago propina ao ex-presidente, disfarçada através da contratação de palestras.

Não faz muito sentido, considerando que Lula saiu do cargo de presidente como um dos governantes mais populares do planeta, o que lhe permitiu realizar palestras e cobrar caro por elas, tendo sido contratado por empresas como Microsoft, Itaú, Globo, Santander, Ambev e Telefónica.

Sobre o preço das palestras, um parêntese: Lula afirma em seus discursos que não via motivo pelo qual ele deveria cobrar menos por suas palestras do que Bill Clinton, por exemplo. Só porque ele é um ex-operário e não foi presidente de um país de primeiro mundo? Lula diz que os operários e o Brasil não são menos que ninguém, e por isso foi olhar quanto Clinton estava cobrando por suas palestras e decidiu cobrar o mesmo. Podemos discutir se é moralmente condenável alguém com ideais de esquerda (Lula nunca foi todo esse idealista de esquerda, é bom lembrar) ganhar milhões dando palestras, mas a argumentação de Lula faz sentido, e é coerente com a política externa do seu governo: altiva, soberana, de fortalecimento dos BRICs, das alianças regionais e das alianças sul-sul, bem diferente do vira-latismo subserviente aos EUA e criminosamente entreguista dos golpistas do PSDB e PMDB.

A outra acusação a Lula é de ter favorecido um irmão de uma ex-esposa de Lula, já falecida (descrito como ‘sobrinho’ pela velha imprensa) em contratos com a Odebrecht. As provas, até agora, são mensagens de texto e uma agenda de Taiguara, o supostamente favorecido. Não é necessário mais para quem já está condenado no tribunal da mídia faz muito tempo.

O irônico, dessa vez, é que a PEC 241, escanteada no debate público pela atuação dos meganhas da Lava Jato, é um ataque também aos próprios procuradores, polícia federal e Sérgio Moro.

O corte atingirá em cheio o Judiciário, o MPF e a polícia federal - pelos próximos 20 anos! -, os quais não conseguirão desenvolver qualquer trabalho de qualidade com a queda brutal nos investimentos.

Mas para que os órgão de investigação e de Justiça precisam de estrutura, agora que já fizeram o serviço sujo e devolveram o poder à direita, não é mesmo?

A Lava Jato pode acabar como um glorioso tiro no pé dos seus irresponsáveis condutores da PF, do MPF e do Judiciário.

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