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19/10/2016Mentiras contra Lula têm pernas curtas
Paulo Moreira Leite - 19/10/2016
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Paulo Moreira Leite
Ao mostrar a recuperação de Lula na preferência dos eleitores, colocando seu nome em primeiro lugar na sucessão presidencial de 2018, o Instituto Vox Populi ajuda a lembrar que a mentira costuma ter pernas curtas no mundo político.
Como ensinou Abrahm Lincoln, o presidente dos Estados Unidos que
foi a guerra civil para abolir a escravatura, "pode-se enganar a todos
por algum tempo. Pode-se enganar alguns por todo tempo. Mas não se pode
enganar a todos por todo o tempo."
Numa eventual candidatura em 2018, Lula possuía 29% das
preferências em junho. Agora está com 34%, contra 15% para Aécio Neves, o
segundo colocado.
Para 42% dos brasileiros, Lula continua o melhor presidente da História.
Mesmo lembrando que faltam 23 meses para o pleito de 2018, e que
muitas mudanças políticas podem ocorrer até lá, não deixa de ser uma
novidade notável.
Em maio, logo após a Câmara votar o afastamento de Dilma, o
DataFolha apontava Marina Silva, com 21% de intenções de voto, em
primeiro lugar para 2018. (Hoje ela se encontra em 3º, com 11%).
Em março, quando Sérgio Moro autorizou a divulgação ilegal de
seus diálogos com Dilma, destinada a impedir sua posse na Casa Civil, a
rejeição a Lula chegou a 57%.
Não custa lembrar que historicamente, os novos números são até
modestos para um político com a estatura única de Lula. Em 2010, quando
liderou a campanha pela eleição de Dilma, sua aprovação chegou a bater
em 87%, um recorde entre os recordes.
Os números de hoje estão longe dessa realidade, o que é bastante
compreensível. A situação do país mudou. Do ponto de vista da maioria
dos próprios eleitores de Lula, já vinha apresentando mudanças negativas
em 2014 e especialmente em 2015, no ajuste que inaugurou o segundo
mandato de Dilma.
Se a reeleição foi um combate palmo a palmo, urna a urna, a
derrota nas eleições municipais foi a pior na história do Partido dos
Trabalhadores.
Os 34% de Lula representam uma recuperação importante – mas não
podem esconder uma conjuntura difícil, com vários desafios que terão de
ser encarados e respondidos.
A pesquisa traz uma questão principal, contudo. Lembra que
desde 2011, quando deixou o Planalto, Lula nunca foi desbancado na
posição de melhor presidente da História na visão dos brasileiros. Isso
significa que a força das conquistas obtidas durante seu governo – mesmo
parciais, limitadas, sujeitas a vários tipos de crítica – segue muito
superior ao erros e, particularmente, ao poder massacrante de
adversários que administram o pensamento único da mídia grande.
Esta persistência explica apoio cúmplice de adversários e
concorrentes a perseguição da Lava Jato. No caso mais notório, o campeão
de engavetamentos na Lava Jato Aécio Neves já se revelou o mais
aplicado discípulo da jurisprudência patrocinada pelo coronel-ministro
Jarbas Passarinho na noite do AI-5, ao mandar “às favas os escrúpulos de
consciência”. O mesmo se pode observar diante do silêncio obsequioso do
PSDB paulista diante da tragédia da linha 4 do metrô, ilustrada por
farta documentação sobre pagamento de propinas, inclusive para um membro
do Ministério Público que atuava na apuração de responsabilidades que
envolvem a morte de 7 cidadãos inocentes.
Incapazes de enfrentar Lula num combate decente e honesto nas
urnas, permitindo que o eleitor faça sua opção de acordo com os ritos da
democracia, os autoproclamados concorrentes de 2018 já não hesitam em
trilhar o jogo sujo dos atalhos antidemocráticos, com ajuda de Sérgio
Moro, para chegar ao Planalto.
A constrangedora fraqueza confirma uma nova realidade, porém. O
juiz da Lava Jato pode ser um grande destruidor de adversários. Possui
imensos índices de aprovação. Mas se é competente para fortalecer a
própria musculatura nas pesquisas, sua atuação não beneficia candidatos
alternativos, traço que pode dar espaço para soluções menos
convencionais em 2018.
O laboratório das eleições municipais apontou para experiências
exóticas. Disputado num quadro de esfacelamento de partidos políticos,
desgaste de candidatos e rejeição da população, reforçou um ambiente de
criminalização de políticos e rejeição de partidos. Em São Paulo, o
vitorioso nas eleições para prefeito, principal troféu do ano, é João
Berlusconi Dória Junior. No Rio, assiste-se a uma disputa ente a Igreja
Universal e o PSOL no altar da TV Globo.
Neste ambiente, as grandes verdades reveladas pela Vox são
duas, uma conjuntural e a outra, estrutural. Divulgada num momento de
tensão política, provocada pela possibilidade de Sérgio Moro decretar
sua prisão a qualquer momento, mesmo sem o menor fundamento jurídico, a
pesquisa confirma a posição única de Lula na preservação da democracia
brasileira.
Mesmo caçado, continua o político capaz de combinar aquilo que
foi com aquilo que pode vir a ser e, dessa forma, assegurar o
reconhecimento das instituições que integram todo regime democrático.
Enquanto os adversários desabam, Lula é uma opção que faz sentido para
34% dos brasileiros, uma soma superior ao trio de adversários
Aécio-Marina-Bolsonaro.
Essa condição faz dele o principal personagem da resistência
democrática contra permanentes iniciativas que apontam para um estado de
exceção. Mais do que um caso pessoal, seu destino é uma linha
divisória.
Não há dúvida de que a nova pesquisa irá injetar ânimo na imensa
parcela de aliados e admiradores de Lula, até aqui em posição de
perplexidade diante das ameaças contra Lula. A pesquisa mostra que há
espaço para protestar e reagir.
O reconhecimento do caráter positivo da herança deixada por Lula,
também é revelador de um dado essencial da vida política. Ela mostra o
fiasco popular do governo Michel Temer.
O sonho dos aprendizes de feiticeiro do Planalto de Temer era
arruinar um modelo de crescimento includente, destruir avanços obtidos a
partir de 2003 e, ao mesmo tempo, transferir o desgaste para Lula e
Dilma.
Confirmando a noção de que a mentira tem pernas curtas em
política, os mesmos números que mostram a recuperação de Lula confirmam o
inferno de Temer e a rejeição a seus projetos. Pode ser até difícil
saber a origem dos bons números de Lula e dizer o que é fruto de seus
próprios méritos, o que é fruto do abismo Temer.
Mas é fácil perceber que Lula é o rosto da resistência
necessária a tragédia visível do governo empossado através de um golpe
parlamentar – e é por isso que cresce aos olhos dos brasileiros.
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