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09/10/2016
Bresser: PEC 241 desmonta o Estado Social brasileiro
Brasil 247 - 09/10/2016
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"A luta de classes neoliberal tem um objetivo geral: reduzir
os salários diretos e indiretos dos trabalhadores. Os salários diretos
através das reformas trabalhistas; os salários indiretos através da
redução do tamanho do Estado ou a desmontagem do Estado Social através
de reformas como a proposta a emenda constitucional PEC 241", diz o
professor Luiz Carlos Bresser Pereira; ele lembra ainda que o Brasil não
vive uma crise fiscal estrutural e diz que a carga tributária tem-se
mantido ao redor de 33% do PIB, tendo subido de forma expressiva apenas
durante o governo FHC
Por Luiz Carlos Bresser Pereira, em seu Facebook
Há várias maneiras de definir o
neoliberalismo, mas talvez a maneira mais simples é dizer que é a
ideologia da luta de classes ao inverso. No passado o comunismo foi a
ideologia equivocada dos trabalhadores ou dos pobres contra os ricos;
desde os anos 1980, no mundo, e desde os anos 1990, no Brasil, o
neoliberalismo é a ideologia da luta dos ricos contra os pobres. Não de
todos os ricos, porque entre eles há empresários produtivos, ao invés de
meros rentistas e donos de empresas monopolistas, que ainda estão
comprometidos com a nação – a associação de empresários produtivos e
trabalhadores de cada país na competição com os demais países. Mas dos
ricos rentistas que perderam qualquer compromisso com a ideia de nação e
se sentem parte das “elites globais”.
A luta de classes neoliberal tem um
objetivo geral: reduzir os salários diretos e indiretos dos
trabalhadores. Os salários diretos através das reformas trabalhistas; os
salários indiretos através da redução do tamanho do Estado ou a
desmontagem do Estado Social através de reformas como a proposta a
emenda constitucional PEC 241, que congela o gasto público exceto juros.
O objetivo dessa emenda não é o
ajuste fiscal, que é necessário, mas a redução do tamanho do Estado, que
nada tem de necessária. Ao contrário do que afirmam os economistas
liberais, a carga tributária brasileira não tem crescido e não há uma
crise fiscal estrutural: apenas uma crise fiscal conjuntural. Desde 2006
a carga tributária gira em torno de 33% do PIB. Seu grande crescimento
ocorreu no governo Fernando Henrique Cardoso: ela cresceu de 26,1% em
1996 para 32,2% em 2002.
Carga Tributária do Brasil
Ano % do PIB
Ano % do PIB
1996 26,14
2002 3 2,20
2006 33,31%
2008 33,53%
2010 32,44%
2012 32,70%
2014 32,42%
2015 32,66%
Fonte:
Receita Federal (2015): “Carga Tributária no Brasil 2015” / Ministério
do Planejamento (2015): “Evolução Recente da Carga Tributária Federal”.
Um capítulo impressionante dessa
luta de classes de cima para baixo está hoje sendo travado no Brasil
através da PEC 241, que visa a desmontagem do Estado Social brasileiro –
ou seja, reduzir em termos per capita seus gastos com educação e saúde.
Com o aumento da população e do PIB os recursos para esses dois fins
necessariamente se reduzirão em termos percentuais do PIB e em termos
per capita.
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Hoje, um grande número de entidades
de classe patronais postaram nos grandes jornais um manifesto a favor da
PEC. Paradoxalmente, entre elas estão muitas entidades representando os
empresários industriais, embora, entre 1990 e 2010, as empresas
industriais tenham sido as maiores prejudicadas pela política econômica
liberal-conservadora adotada nos governos FHC e Lula-Meirelles. E também
pela política desenvolvimentista populista de Dilma (2011-14). Entendo a
insatisfação dos empresários industriais – uma espécie em extinção no
Brasil – com o governo Dilma, mas para mim sua incapacidade de criticar o
rentismo e a financeirização globalista, que tomaram conta do governo
Temer, é um sinal de sua profunda alienação em relação a seus interesses
e aos interesses nacionais.
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