08/11/2016
De Estocolmo – Wellington Calasans, colunista internacional do Cafezinho
Neste 8 de novembro eu fui acionado logo cedo pela rádio angolana para a qual comento política internacional. Eram seis e meia da manhã (horário de Angola e Suécia) quando o jornalista Jaime Ferreira ligou para mim
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— Estás pronto, Wellington?
Aquela pergunta me fez ficar ainda mais acordado. It’s Show Time!
— Tudo pronto! Respondi com a mesma insegurança com que o mundo aguarda o resultado das eleições nos EUA. Menos pela importância do vencedor, mas principalmente porque os mais atentos sabem que as ameaças à paz nunca foram tão vivas desde a Guerra Fria.
Já ao vivo, depois de ter falado sobre a expectativa dos europeus em relação ao pleito eleitoral dos EUA, Jaime me dá o primeiro “susto” ao perguntar “qual o melhor nome para o mundo e para os EUA?”
—É preciso separar os dois para poder traçar um cenário mais realístico. Respondi como quem pede socorro.
O meu apelo, no entanto, me motivou a escrever este texto. Está neste “pedido de socorro” o alerta que se impõe, pois finalmente chegou o dia em que o mundo vai conhecer o novo presidente dos EUA. Trump x Hillary: qual o pior? A resposta nos dará o nome do vencedor. A perplexidade causada dentro e fora da terra do Tio Sam pela baixa qualidade política, e até moral, de ambos os candidatos nos leva a concluir que a democracia norte-americana é uma farsa, mais um produto da propaganda.
Comprometidos até o pescoço com grupos de interesse, democratas e republicanos tentam apenas a conquista simbólica de um cargo que sequer pertence ao vencedor. Seja lá quem for, o nome vitorioso (ou a estrutura que o patrocina) terá que optar entre os interesses do próprio país ou do mundo, pois ambos são incompatíveis.
A história mostra que as eleições nos EUA sempre foram usadas, através do marketing institucional, como um símbolo de uma democracia forte e exemplar para o mundo. O discurso de Bernie Sanders e a forma como foi derrotado na disputa final à corrida interna entre os democratas, no entanto, revelaram que o poder econômico dita as regras de um jogo proibido para os 99% e o eleitor apenas o legitima através das aparências, onde a democracia não passa de um argumento vazio e impraticável. Mais ainda, Sanders desnudou a ilusão criada em torno de uma expressão carregada de fantasias, a tal da “Terra das oportunidades”.
Incapazes de esconder a influência dos patrocinadores de campanha sobre aquilo que serão como governantes, os candidatos chegam ao dia do voto com uma marca jamais vista de rejeição, pois conseguiram despertar nos cidadãos norte-americanos uma frustração que tenderá a ser refletida no elevado índice de abstenção. Não apenas em consequência dos escândalos que mancham a imagem destes que são os principais candidatos às eleições de 2016 (Sim! Existem outros candidatos, mas isso não importa para a mídia de mercado), mas também pela completa ausência de propostas para solucionar os graves problemas sociais vividos no país, os cidadãos/eleitores dos EUA estão insatisfeitos e desmotivados.
O tão propalado “sonho americano” é transformado em pesadelo na medida em que os cidadãos e o mundo observam atônitos como os compromissos com os patrocinadores de campanha e a pouca clareza sobre os rumos que os candidatos darão aos graves problemas internos – como o desemprego, por exemplo – e também internacionais, influenciam nos seus discursos. Este conjunto de dúvidas conferiu aos concorrentes ao conforto e prestígio da Casa Branca, n condição de inquilino, o primeiro e o segundo lugares como “pior candidato a concorrer à presidência dos EUA nas últimas décadas”. Isto de acordo com uma recente pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, onde 60% dos eleitores aptos ao exercício do voto consideram Donald Trump o pior candidato, mas colocam Hillary Clinton como vice-campeã, da mesma lista.
Outra expectativa destacada aqui na Europa com muita preocupação está relacionada ao risco de uma guerra de proporções incalculáveis caso o confronto na Síria seja aprofundado, pois isso promoveria o choque direto entre EUA e Rússia, duas potências nucleares, e tira o sono dos europeus. O nome de Trump ainda consegue pontuar aqui no Velho Continente, a despeito de toda estratégia de comunicação contrária, graças ao passado recente de Hillary, vista pela maioria da população europeia como a grande responsável pelas recentes guerras.
Tudo isso leva ao desânimo e ao medo. No mundo, pela impossibilidade de enxergar uma luz no fim do túnel. Já na sociedade norte-americana, porque acaba por abandonar a única arma que teria para a promoção de uma mudança: o voto. Democracia sem povo é o único “sonho americano” garantido até aqui, mas é um privilégio de uma camada ínfima da sociedade, a mais rica. Já passou da hora de os EUA fazerem uma autocrítica sobre a própria democracia e os limites do dinheiro na decisão dos representantes políticos e dos destinos do país.
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