sexta-feira, 16 de março de 2018

Nº 23.642 - "A quem interessa a paz dos cemitérios?"

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16/03/2018


A quem interessa a paz dos cemitérios?


Do Cafezinho - 16/03/2018Escrito por Pedro Breier, Postado em Fascismo, Ideologia, Pedro Breier, Redação


(Charges: Latuff e Quinho)

Por Pedro Breier

A sequência de fatos retratada na charge do Latuff e as características típicas de uma execução que envolvem a morte da vereadora do PSOL/RJ Marielle Franco indicam fortemente que a motivação do crime é política.

A política forneceu, além da motivação, o ambiente propício para o assassinato de uma mulher, negra, lésbica, defensora dos direitos humanos, militante de esquerda, oriunda da favela.

Marielle personificava quase todos os grupos historicamente perseguidos e oprimidos pelo sistema.

O ódio a esses grupos foi insuflado enormemente pela mídia hegemônica e seus associados a partir do processo que desencadeou o golpe de 2016.

A quantidade de comentários odientos publicados na rede sobre a morte de Marielle demonstram que o aplauso de uma parcela da sociedade à repressão contra os grupos que a vereadora personificava deixa os repressores – neste caso, os assassinos – muito mais à vontade para perpetrarem o horror.

No mesmo dia do bárbaro crime, o prefeito de Porto Alegre/RS, do PSDB, sancionou uma lei que impõe pesadas multas para manifestações que tranquem ruas. Em São Paulo, a Guarda Municipal subordinada a João Doria batia em professores que protestavam contra o ataque aos seus salários, como é costume especialmente em governos tucanos.

Esses fatos estão interligados.

O clima de autoritarismo que se instaurou no país após o golpe deixou muito filhote da ditadura assanhado.

A ideia é silenciar, seja na base da canetada, da porrada ou da morte, as vozes que se insurgem contra a nova ordem.

Dando nome aos bois: a direita golpista e antipovo brasileira, em todas as suas expressões, é responsável pelo assassinato de Marielle, na mesma medida em que é responsável pelo ressurgimento do fascismo em nosso país.

Seu projeto elitista só pode ser colocado em prática na marra. A paz dos cemitérios é ideal para que a exploração da população excluída possa continuar tranquilamente.

Não terão, contudo, sucesso em sua empreitada insana.

A comoção e a revolta diante do absurdo atingiu o país inteiro e expandiu-se para o mundo.

Os atos de protesto, ontem, foram gigantescos. Em São Paulo, a quantidade de jovens com tristeza – mas também muita gana de lutar – no olhar era impressionante.

O endurecimemto do regime levará, inexoravelmente, ao endurecimento da resistência.


A morte de Marielle não será em vão.

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