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22/08/2013
A nova frente de produção da Vale em Carajás
Enviado por luisnassif, qui, 22/08/2013 - 14:27
Sugerido por MiriamL
Do Brasil de fato
Carajás é da China
Ficou evidente o interesse da Vale em agradar aos
seus grandes clientes chineses, japoneses e de outros países, sem os
quais sua grandiosidade estaria comprometida
Lúcio Flávio Pinto,
A nova frente de produção que a Vale está abrindo em
Carajás, no Estado do Pará, é superlativa. Trata-se do maior
investimento as mineradora em toda a sua história, de 70 anos. Quando os
19,7 bilhões de dólares (em torno de 40 bilhões de reais) tiverem sido
inteiramente aplicados, a mina de Serra Sul estará em condições de
acrescentar 90 milhões de toneladas anuais à produção da ex-estatal. Com
duas outras expansões na área, a província mineral de Carajás passará
de 120 milhões para 250 milhões de toneladas por ano de minério de
ferro.
Isso acontecerá em 2017, quando o Pará passará à
frente de Minas Gerais como a maior fonte de minério de ferro da antiga
Companhia Vale do Rio Doce. Será mais do que a relação de 250 milhões
para 200 milhões de toneladas de produção entre os dois principais
Estados mineradores do Brasil.
O minério de Carajás é mais rico e mais fácil de
extrair. Com a exaustão de algumas jazidas de Minas, a Vale terá que se
aventurar no seu Estado de origem pelo itabirito, minério mais duro e
pobre, para manter a escala de produção.
A diferença mais importante, porém, é o destino da
produção. Carajás consolidará a posição da Vale de maior vendedora
interoceânica de minério de ferro do mundo. Seu minério, com teor de
hematita superior a 66%, tem mercado garantido no exterior, enquanto o
produto de Minas será cada vez mais destinado a abastecer o mercado
nacional. Carajás será a principal mina de atendimento internacional que
existe.
Daí a dimensão extraordinária do projeto de expansão.
Enquanto a primeira jazida levou alguns anos para chegar ao seu tamanho
de projeto, de 25 milhões de toneladas, S11D dará partida já com 90
milhões de toneladas na bitola.
A partir do início das obras de terraplenagem, que
aconteceu no começo drdtr mês, essa meta será atingida em apenas quatro
anos, graças às inovações e à diretriz de investir maciçamente no
empreendimento, 30% maior do que o custo da polêmica hidrelétrica de
Belo Monte.
O mundo tem pressa de se servir de um minério rico,
fácil de extrair e de custo proporcionalmente inferior ao de qualquer
outra mina das mesmas dimensões, em valores absolutos, embora sem o
mesmo teor. Por isso, imune – ou, pelo menos, bem protegido em relação –
às flutuações previstas para o setor pelos próximos anos. Uma fonte
cativa para os grandes consumidores de minério, sobretudo as
siderúrgicas asiáticas, à frente a China.
Mas isso interessa realmente ao Pará e ao Brasil?
Numa entrevista que deu ao Valor, o geólogo Breno Augusto dos Santos, o
primeiro a identificar o minério de ferro de Carajás, em 31 de julho de
1967 (cujos 46 anos da descoberta motivaram o interesse do jornal
paulista), observou: “Se Carajás fosse na China, na Coréia ou na
Alemanha, de lá estariam saindo automóveis, locomotivas ou
computadores”. E logo acrescentou: “Mas essa não é uma função da Vale”.
Não é mesmo? Este é o aspecto chave da questão. A
Vale se livra das responsabilidades pela exploração de minério bruto
alegando ser apenas uma mineradora. Outras empresas deviam cuidar do
beneficiamento. E o governo, principalmente, devia exercer o seu papel
de fomentador desses investimentos.
A empresa não tem culpa se as outras partes não fazem
o que lhes cabe. Daí a inexpressividade dos rendimentos que uma
atividade de tão grande porte proporciona ao Pará. O Estado não tem
agregação de valor à sua riqueza natural e ainda é privado da receita
tributária que essa atividade devia lhe oferecer, por causa da imunidade
conferida às matérias primas e produtos semiacabados pela nefanda “lei
Kandir”, de autoria do então deputado e economista de São Paulo, que lhe
emprestou o nome.
Não é bem assim. O Programa Grande Carajás foi
induzido pela então estatal CVRD durante o início do governo Figueiredo,
o último do regime militar, a partir de 1980. Interessava à empresa ter
um prospecto de aproveitamento econômico mais amplo, que valorizasse e
legitimasse a concessão federal dada à ferrovia de Carajás.
Fazendo uma análise retrospectiva do “Carajazão”,
delegado a um conselho interministerial, diretamente subordinado à
presidência da república, pode-se chegar à conclusão de que foi um
foguetório de ilusão, uma espécie de para-raios e habeas corpus a um
projeto de mera extração mineral. Um boi atirado às piranhas para
permitir a passagem da boiada de minério.
Mesmo com a Vale estatal já era difícil ao governo
exercer controle sobre os impulsos da empresa e a teia dos seus
interesses internacionais, criados, confirmados e cultivados por seus
agentes, uma autêntica tecnoburocracia cosmopolita (cujo modelo é
Eliezer Batista, o pai de Eike). Essa lacuna se acentuou com a
privatização. Tornou-se mais nítida a distinção entre os negócios feitos
pela empresa no exterior e os interesses nacionais. Mais do que
distinção, o antagonismo.
Ficou evidente o interesse da Vale em agradar aos
seus grandes clientes chineses, japoneses e de outros países, sem os
quais sua grandiosidade estaria comprometida. A empresa passou a atuar
como viabilizadora desses interesses na medida em que se restringia à
extração mineral em escala crescente para a exportação.
Adaptando a frase de Breno, pode-se dizer que nenhum
governo na China, Coréia e Alemanha permitiria que uma empresa de
mineração crescesse de forma a exercer controle total sobre o circuito
da extração, transporte e exportação de matéria prima bruta, como faz a
Vale no Brasil.
É por isso que sua parte de logística cresceram para
dar suporte à sua atividade de mineradora.
Ela se agigantou ainda mais, num esquema que tem proporcionado mais divisas ao país, como nunca, mas à custa da exaustão de uma riqueza natural não renovável, como o minério de ferro.
Ela se agigantou ainda mais, num esquema que tem proporcionado mais divisas ao país, como nunca, mas à custa da exaustão de uma riqueza natural não renovável, como o minério de ferro.
Tente-se calcular quanto o Brasil perdeu por não ter
feito o beneficiamento do minério de ferro de Carajás. Um cálculo
simples levará a muitos bilhões de dólares em quase 30 anos de extração
maciça de minério bruto, que, no caso, é quase sinônimo de minério puro,
tal a riqueza de hematita contida na rocha de Carajás.
Para se ter uma ideia da grandeza do novo capítulo
que se inicia em Carajás, basta considerar que a Serra Sul possui 10
bilhões dos 18 bilhões de toneladas estimados de reserva, com teor médio
de 66,5% de ferro. O primeiro corpo a ser lavrado nessa mineração, que
leva a letra D do título do projeto, acumula 4,2 bilhões de toneladas,
com nove quilômetros de extensão, a uma profundidade de até 250 metros.
Ao ritmo previsto, a jazida terá 40 anos de vida
útil. Ao fim desse período, a maior mina de ferro do planeta será só
lembrança – amarga e frustrante por certo, para os nativos. Chegará ao
fim sem motivar qualquer reação dos paraenses, que veem o buraco ser
aberto sem usufruir o melhor que o minério lhes poderia dar.
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