09/12/2015
A democracia na cadeia, por Wanderley Guilherme dos Santos
Enviado por Fernando J.
Do Segunda Opinião
A democracia na cadeia
Wanderley Guilherme dos Santos
Quando as instituições falham, o caráter
prevalece. Há quem nunca fraudou a lei por falta de oportunidade e há
os que resistiram apesar dos convites das circunstâncias. Em crise, o
caráter de cada um é desnudado. De vários políticos já conhecemos o
material de que são feitos, uns de primeira, outros de segunda
qualidade. Não há coletividade humana que escape ao vírus da safadeza. A
esperança é que não se propague.
Para mim, o pedido de impedimento
apresentado por conspiradores paulistas é absurdo. Prova-o a discussão
dos beneficiários e associados: qual a melhor data para dar andamento?
as ruas acompanharão os conjurados? Como reagirão os deputados do PMDB a
uma defecção do vice-presidente? Qual o melhor acordo entre os
pré-candidatos tucanos e os conspiradores do PMDB? Não há apresentação
de evidências de que a presidente Dilma Rousseff tenha cometido crime de
responsabilidade, única base constitucional legítima para impedi-la.
Com todas as letras, dizem não ser necessário.
Se não é necessária a comprovação de
crime, convém à oposição irresponsável preparar-se para o que acontecer
fora do Congresso. Antes de ter início o processo, por exemplo, ou o
Vice-presidente Michel Temer declara peremptoriamente que não vê razões
substantivas para o impedimento ou não ficará como Vice-Presidente para
assistir o final e se beneficiar dele. O destino do País não depende
somente de tratativas em palacetes paulistanos, entre as quais figuraram
com certeza os termos da missiva bombástica selando o acordo paulista
contra a democracia. A carta de rompimento que o Vice enviou a Dilma
Rousseff, repudiando antecipadamente qualquer resposta amistosa da
destinatária, é uma justificativa para o oportunismo de manter-se à
margem, pronto para “reunificar o País”. Duvido. O que há de reunificar o
País é o respeito de boa fé a suas leis fundamentais. E estas são
ofendidas quando o signatário prefere se declarar, preferencialmente,
Presidente do PMDB. Ou o Vice renuncia ao mandato ou será despejado
pelas ruas, que fariam bem acampando nos portões de sua residência.
Pacificamente, mas com justificada razão para impedi-lo de governar, a
saber: por quebra do compromisso constitucional de cumprir o mandato de
acordo com as leis. E as leis condenam conspiradores.
Ninguém deve obediência a governos
ilegítimos a não ser por coação explícita. Precisa ficar claro aos
conspiradores que não bastará uma vitória no Congresso; vão ser
obrigados a encarcerar muita gente.
A promessa é de um espetáculo de
confissão de caráter: quem se candidata a carcereiro e quem se dispõe a
ser encarcerado. Estou para ver quem se apresenta como condutor da
democracia à cadeia.
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