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10/12/2015
O tempo da Lava Jato e o tempo político
A
Justiça é necessariamente burocrática, presa a procedimentos e prazos.
Seu tempo é diferente do tempo da política e da economia. Mas há que se
ter o mínimo de sensibilidade quando fatos jurídicos ou policiais
impactam a política e a economia. Não se pode tratar sequelas políticas e
econômicas como danos colaterais.
Esse
papel, de minimização dos efeitos políticos e econômicos, caberia ao
Ministro da Justiça, desde que soubesse diferenciar as responsabilidades
institucionais do cargo das interferências indevidas. Trata-se de uma
fronteira estreita que exige discernimento, coragem institucional,
autoridade moral e responsabilidade pública, qualidades que
evidentemente faltam ao Ministro José Eduardo Cardozo.
***
Tome-se a crise política atual.
Surge
a Lava Jato e, com ela, a informação de dezenas de políticos com foro
privilegiado prestes a serem denunciados. Da maior parte deles, não se
divulgam nomes. Entre os denunciados está o presidente da Câmara Eduardo
Cunha.
A
ameaça fica pairando sobre suas cabeças, sem desdobramentos maiores,
criando o pior dos mundos, com a parcela mais barra-pesada do Congresso
correndo contra a condenação, valendo-se para tanto do poder de
chantagem. O impasse tornou o país refém de seus esbirros autoritários,
chantageando ora o governo ora a oposição.
É o que ocorre com Eduardo Cunha. Um país inteiro sob o tacão de um possível futuro condenado.
Ontem, o deputado Fausto Pinato, ex-relator do caso Cunha na Comissão de Ética, denunciou ameaças recebidas contra sua família.
Como se resolve isso? Apressando as denúncias, afastando os denunciados e atacando a organização criminosa.
***
O mesmo problema ocorreu na frente econômica.
Desde
fins do ano passado há um projeto de acordo de leniência na
Presidência, que permitiria liberar as empreiteiras e direcionar as
punições para as pessoas físicas dos controladores e dos diretores.
Nada
foi feito, denotando nenhuma sensibilidade sobre os impactos dessa
operação no PIB industrial brasileiro. Essa desatenção indesculpável
provavelmente custou 2 pontos percentuais do PIB.
***
Mais
que isso, a Lava Jato promoveu um desequilíbrio político ao mirar sua
lupa sobre um partido apenas. Se o Procurador Geral da República Rodrigo
Janot não tivesse cedido à pressão do PSDB mineiro, e denunciado Aécio
Neves – tanto pelas declarações de Alberto Youssef quanto pela conta em
Lienchenstein – seriam abortadas tentações golpistas e se poderia
combater a corrupção sem viés político.
***
Por
ocasião das comemorações dos 25 anos da Constituição, juristas
enalteceram sua consistência, que permitiu ao país atravessar diversas
crises sem maiores danos às instituições.
Passado
o tiroteio atual, de alguma maneira terão que ser revistos alguns
pontos. Como a politização do TCU (Tribunal de Contas da União), o uso
abusivo de vazamentos seletivos por parte de autoridades
investigativas, inclusive como forma de pressão indevida sobre
tribunais superiores.
Afinal,
o aparato institucional tem que ser suficientemente sólido inclusive
para amparar governantes incapazes de articular minimamente um projeto
político. Se o modelo só se sustenta com grandes lideranças, há algo de
errado na montagem institucional.
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