11/10/2016
A nova denúncia contra Lula e o incrível timing político da Lava Jato
É incrível como o timing da Lava Jato serve perfeitamente aos interesses da direita.
Se alguma amiga ou amigo seu não lobotomizada(o) pela mídia familiar
ainda duvida da parcialidade e do uso político da operação, lembre-a(o)
disso: o timing das ações midiáticas da Lava Jato coincide demais com os
interesses políticos da direita para que tenhamos o direito de
acreditar em coincidências.
Começou às vésperas das eleições de 2014, com vazamentos seletivos para tentar interferir na eleição e evitar a vitória de Dilma.
Depois, antes das micaretas coxinhas de 2015, para turbiná-las.
Quando a esquerda convocava seus atos contra o golpe a cobertura era
ofuscada por mais uma ação bombástica dos heróis de Curitiba.
Quando a votação do impeachment se aproximava, tanto na Câmara quanto
no Senado, mais pirotecnias da PF, do MPF e de Moro para convencer os
congressistas indecisos.
Antes das eleições municipais, mais uma rodada de prisão de petistas para lembrar os eleitores em quem eles não devem votar.
Agora, com o Congresso votando a PEC 241, que congela os gastos públicos pelos próprios 20 anos, ou seja, um ataque a direitos da população sem precedentes, a Lava Jato dá o gancho para o cartel midiático desviar desse assunto chato e focar no que interessa: Lula denunciado mais uma vez pelo MPF.
A tese já é conhecida faz tempo.
Lula cometeu crime ao ajudar empresas brasileiras, como a Odebrecht, a expandir seus negócios para o exterior. Não teve a finesse, que o sociólogo fluente em francês teve, de vender nossas empresas a preços camaradas para os gringos.
Segundo reportagem do G1, a prova apresentada para o favorecimento ilegal de Lula à Odebrecht através do BNDES são ‘registros da participação de Lula em uma reunião da Diretoria de Administração do BNDES’, em 2010, quando ainda era presidente.
A Odebrecht teria pago propina ao ex-presidente, disfarçada através da contratação de palestras.
Não faz muito sentido, considerando que Lula saiu do cargo de presidente como um dos governantes mais populares do planeta, o que lhe permitiu realizar palestras e cobrar caro por elas, tendo sido contratado por empresas como Microsoft, Itaú, Globo, Santander, Ambev e Telefónica.
Sobre o preço das palestras, um parêntese: Lula afirma em seus discursos que não via motivo pelo qual ele deveria cobrar menos por suas palestras do que Bill Clinton, por exemplo. Só porque ele é um ex-operário e não foi presidente de um país de primeiro mundo? Lula diz que os operários e o Brasil não são menos que ninguém, e por isso foi olhar quanto Clinton estava cobrando por suas palestras e decidiu cobrar o mesmo. Podemos discutir se é moralmente condenável alguém com ideais de esquerda (Lula nunca foi todo esse idealista de esquerda, é bom lembrar) ganhar milhões dando palestras, mas a argumentação de Lula faz sentido, e é coerente com a política externa do seu governo: altiva, soberana, de fortalecimento dos BRICs, das alianças regionais e das alianças sul-sul, bem diferente do vira-latismo subserviente aos EUA e criminosamente entreguista dos golpistas do PSDB e PMDB.
A outra acusação a Lula é de ter favorecido um irmão de uma ex-esposa de Lula, já falecida (descrito como ‘sobrinho’ pela velha imprensa) em contratos com a Odebrecht. As provas, até agora, são mensagens de texto e uma agenda de Taiguara, o supostamente favorecido. Não é necessário mais para quem já está condenado no tribunal da mídia faz muito tempo.
O irônico, dessa vez, é que a PEC 241, escanteada no debate público pela atuação dos meganhas da Lava Jato, é um ataque também aos próprios procuradores, polícia federal e Sérgio Moro.
O corte atingirá em cheio o Judiciário, o MPF e a polícia federal - pelos próximos 20 anos! -, os quais não conseguirão desenvolver qualquer trabalho de qualidade com a queda brutal nos investimentos.
Mas para que os órgão de investigação e de Justiça precisam de estrutura, agora que já fizeram o serviço sujo e devolveram o poder à direita, não é mesmo?
A Lava Jato pode acabar como um glorioso tiro no pé dos seus irresponsáveis condutores da PF, do MPF e do Judiciário.
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